quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O AUTOPERDÃO

Mitch Albom
Não existe sentido em ficar curtindo vingança ou teimosia. Guardar mágoa, nem se fale. Em verdade, tudo isso é fruto do nosso orgulho e da nossa vaidade. Ocorre muito que a pessoa, no seu leito de morte, chame os desafetos para pedir perdão. Um velho professor contou, certa vez, que ele tinha um grande amigo. Chamava-se Norman. Juntos, passeavam, nadavam. Um dia, Norman resolveu fazer um busto do amigo. Levou-o para sua casa e fez um rosto em bronze daquele homem de seus quarenta e quatro anos. O trabalho levou semanas porque Norman desceu a detalhes. Até colocou uma mecha de cabelo caída na testa. Depois de determinado tempo, Normam e a esposa se mudaram para outra cidade. E a esposa do amigo, logo depois, precisou fazer uma cirurgia delicada. Norman e a esposa nunca entraram em contato com eles. Souberam da cirurgia de Charlotte, mas não telefonaram, nem telegrafaram. Nada. O amigo e a esposa ficaram muito sentidos. Acharam aquela indiferença bastante dolorida e cortaram relações. Com o passar dos anos, o amigo encontrou Norman algumas vezes. Toda vez Norman tentava a reconciliação mas o outro não aceitava. Norman explicava, mas a explicação não satisfazia. A mágoa era muito grande e o orgulho falava alto. O tempo passou e, um dia, abrindo o jornal, o amigo leu a notícia da morte de Norman. Ele morrera de câncer. O amigo levou um choque. Nunca fora vê-lo. Nunca o perdoara. E uma onda de remorso começou a tomar conta daquele homem. Chorou muitas lágrimas. Que poderia fazer agora? Por que não o perdoara? Por que não ouvira com o coração as explicações de Norman? Já estaria ele doente naquela época, em que tudo aconteceu? Todas as perguntas ficaram sem resposta à exceção de uma. O que ele poderia fazer? E isso ele aprendeu com o tempo. Que não é só aos outros que precisamos aprender a perdoar. É preciso aprender a se perdoar também. Perdoar-se por tudo que não se fez. Por tudo o que se deveria ter feito. Importante é não permanecer preso ao remorso do que aconteceu ou que devia ter acontecido. Isto nada adianta para a pessoa. É preciso fazer as pazes consigo mesmo e com os que nos cercam. 
* * * 
Todos com certeza já cometemos muitos erros com nossos amigos, amores e colegas. O importante é não deixar o tempo se escoar sem nada fazer. Buscar aquele que magoamos ou que nos magoou e ter uma boa conversa. Franca, amiga, sincera e reatar amizades e afeições. Afinal, é tão pouco tempo que passamos sobre a Terra que não vale a pena cultivar inimizades, dissabores. As questões mais importantes na vida são as que dizem respeito ao amor, à responsabilidade, espiritualidade e sensibilidade. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Falamos de perdão, do livro A última grande lição: o sentido da vida, de Mitch Albom, ed. Sextante. Em 28.01.2012.

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