Plínio Salgado |
Era a derradeira refeição que fariam juntos. É um momento de alegria, pela comemoração da Páscoa judaica.
Recordam-se das agruras da escravidão no Egito e as alegrias da libertação pelo legislador hebreu Moisés.
Os cânticos se sucedem, em obediência ao rito comemorativo. Serve-se o carneiro, o pão sem sal e sem fermento, embebido no molho de ervas amargas.
Recordam-se das bênçãos e a proteção de Yaweh. É também um momento de despedida.
Um pouco e já não mais me vereis, assevera Jesus. E como Bom Pastor, exorta: Meus filhinhos...
E tece recomendações, dizendo das dores que adviriam aos Seus seguidores, a todos aqueles que desejassem levar o archote da Boa Nova na tentativa de iluminar a Terra.
O machado está posto à raiz, dizia o Mestre.
Mas, se falou de dores e sofrimentos, não deixou de declamar esperança e consolo.
Por isso, em observando o ar de tristeza que envolvia os Apóstolos, naquela hora, profetizou:
Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus. Crede também em mim. Eu vou para vos preparar o lugar.
Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais.
O Pastor anuncia Sua viagem, mas apresenta os objetivos dela e afirma o Seu retorno.
A hora avança e Ele ensina:
Um novo mandamento vos dou: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado. Nisso reconhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros.
E sentencia:
Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim.
É um momento solene. Os minutos se sucedem ligeiros, como se desejassem que aquela despedida não se alongasse.
Mas o Mestre dos mestres tem algo mais a dizer:
Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Tenho-vos chamado amigos, porque tudo o que sei de meu Pai vos transmiti.
Repito-vos: amai-vos uns aos outros.
E, como num testamento, exterioriza Sua doação final: Deixo-vos a paz: a minha paz vos dou.
Não vo-la dou como o mundo a dá.
Amai-vos como eu vos amei.
Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a própria vida pelos seus amigos.
Sereis meus amigos, se fordes amigos uns dos outros.
A noite se envolve em crepe. Talvez a lua tenha escondido sua cara redonda e prateada, para enxugar o próprio pranto.
O Cordeiro vai ser imolado...
* * *
Ele voltaria depois da morte para atestar que a morte não existe.
E quando chega, faz-Se visível àquele grupo de homens assustados, como uma equipe sem chefia e os saúda:
Paz seja convosco!
E ficaria com eles por dias e dias.
Dias de sol, noites de estrelas, de luar.
Pelas estradas da Galileia e da Judeia, pelas praias do mar e do lago, nas montanhas, onde os pastores apascentam seus carneiros, nas planícies onde os camponeses cortam o trigo, todos sentem que ele pode estar, que Ele pode vir, de repente e dizer:
“A paz seja convosco!”
Certeza de Sua presença. Amigo, Mestre, Senhor: presente!
Não nos esqueçamos disso.
Redação do Momento Espírita, com base no
Evangelho de João, cap. XIV e com parágrafo colhido no
cap. LXXXII, do livro Vida de Jesus, de Plínio Salgado,
ed. Voz do Oeste.
Em 18.7.2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário