terça-feira, 10 de novembro de 2015

O AUSENTE PRESENTE

Plínio Salgado
Era a derradeira refeição que fariam juntos. É um momento de alegria, pela comemoração da Páscoa judaica. Recordam-se das agruras da escravidão no Egito e as alegrias da libertação pelo legislador hebreu Moisés. Os cânticos se sucedem, em obediência ao rito comemorativo. Serve-se o carneiro, o pão sem sal e sem fermento, embebido no molho de ervas amargas. Recordam-se das bênçãos e a proteção de Yaweh. É também um momento de despedida. Um pouco e já não mais me vereis, assevera Jesus. E como Bom Pastor, exorta: Meus filhinhos... E tece recomendações, dizendo das dores que adviriam aos Seus seguidores, a todos aqueles que desejassem levar o archote da Boa Nova na tentativa de iluminar a Terra. O machado está posto à raiz, dizia o Mestre. Mas, se falou de dores e sofrimentos, não deixou de declamar esperança e consolo. Por isso, em observando o ar de tristeza que envolvia os Apóstolos, naquela hora, profetizou: Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus. Crede também em mim. Eu vou para vos preparar o lugar. Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais. O Pastor anuncia Sua viagem, mas apresenta os objetivos dela e afirma o Seu retorno. A hora avança e Ele ensina: Um novo mandamento vos dou: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado. Nisso reconhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. E sentencia: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim. É um momento solene. Os minutos se sucedem ligeiros, como se desejassem que aquela despedida não se alongasse. Mas o Mestre dos mestres tem algo mais a dizer: Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Tenho-vos chamado amigos, porque tudo o que sei de meu Pai vos transmiti. Repito-vos: amai-vos uns aos outros. E, como num testamento, exterioriza Sua doação final: Deixo-vos a paz: a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Amai-vos como eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a própria vida pelos seus amigos. Sereis meus amigos, se fordes amigos uns dos outros. A noite se envolve em crepe. Talvez a lua tenha escondido sua cara redonda e prateada, para enxugar o próprio pranto. O Cordeiro vai ser imolado...
 * * * 
 Ele voltaria depois da morte para atestar que a morte não existe. E quando chega, faz-Se visível àquele grupo de homens assustados, como uma equipe sem chefia e os saúda: Paz seja convosco! E ficaria com eles por dias e dias. Dias de sol, noites de estrelas, de luar. Pelas estradas da Galileia e da Judeia, pelas praias do mar e do lago, nas montanhas, onde os pastores apascentam seus carneiros, nas planícies onde os camponeses cortam o trigo, todos sentem que ele pode estar, que Ele pode vir, de repente e dizer: “A paz seja convosco!” Certeza de Sua presença. Amigo, Mestre, Senhor: presente! Não nos esqueçamos disso. 
Redação do Momento Espírita, com base no Evangelho de João, cap. XIV e com parágrafo colhido no cap. LXXXII, do livro Vida de Jesus, de Plínio Salgado, ed. Voz do Oeste. Em 18.7.2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário