Ele era um neurocirurgião famoso. Naquela tarde, a sua preocupação era com a cirurgia que realizaria logo mais.
O telefone tocou e ele não pôde se furtar a atender. Era uma senhora chamada Suzana, cujo marido morrera, depois de um ano e meio da descoberta de um tumor cerebral.
Agora era sua filha quem estava doente, com metástases cerebrais decorrentes de um câncer de mama.
-Doutor, disse a mulher, quase atropelando as palavras, minha filha teve um sonho impressionante com o pai. Ele lhe disse que tudo ficará bem, que ela não precisa se preocupar com a morte.
Doutor Eben estava acostumado a ouvir coisas semelhantes de muitos dos seus pacientes. Na sua lógica, ele pensava que isso era produto da mente que estava fazendo o que podia para se tranquilizar numa situação insuportável.
Mas, acreditando que, quando um paciente está com uma enfermidade que pode levá-lo a óbito, suavizar a verdade é bom, não a impediu de se agarrar àquela pequena fantasia.
Portanto, somente comentou:
-Deve ter sido um sonho maravilhoso!
Mas Suzana não se deteve e continuou:
-Doutor, o mais incrível é como ele estava vestido: com uma camisa amarela e um chapéu Fedora!
-Bem, Suzana – comentou o médico – acho que não devem existir códigos de moda no céu.
-Não é nada disso, doutor. É que logo que começamos a namorar, eu dei para ele uma camisa amarela. E ele sempre a usava com o chapéu Fedora, também meu presente.
Mas a camisa e o chapéu foram perdidos em nossa lua de mel, onde nossas bagagens foram extraviadas. E nunca mais adquirimos algo igual.
Pacientemente, explicou doutor Eben:
-Tenho certeza de que vocês devem ter contado muito essa história do chapéu e da camisa para sua filha.
Do outro lado da linha, Suzana riu:
-É isso que é impressionante, doutor. Nunca comentamos. Era nosso pequeno segredo.
Achávamos que era um detalhe que poderia parecer ridículo para outras pessoas. Jamais conversamos sobre o desaparecimento desses itens.
Portanto, nossa filha não sabia nada a respeito.
E concluiu:
-Pois é, doutor, ela estava com medo de morrer. Agora, sabe que não tem nada a temer, nada mesmo. E está tranquila.
O médico continuou a ouvi-la, acreditando piamente que o que aquela mulher estava lhe relatando era uma fantasia criada pela dor.
No entanto, como a filha poderia criar na sua mente uma fantasia a respeito do que jamais vira seu pai vestir ou usar?
Em verdade, nossos amores, que estão na Espiritualidade, quando nos encontram nos sonhos, se apresentam com detalhes, exatamente para que os possamos identificar.
Podem ser detalhes tolos como uma camisa e um chapéu, de cuja existência a filha jamais soubera. Mas que a mãe lhe diria da realidade deles.
O mais importante nisso tudo: ele, que já transpusera os umbrais da morte, vinha lhe dizer que se tranquilizasse. Em síntese: quando ela partisse para o grande Além, ele a estaria aguardando.
Um reencontro de duas almas que se amam: pai e filha. Que conforto para ela, em estágio terminal, saber que o pai querido a aguardava, no aeroporto da Espiritualidade.
O amor não tem fronteiras, a morte não apaga os sentimentos.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 30,
do livro Uma prova do céu, do Dr. Eben Alexander III,
ed. Sextante.
Em 30.3.2017.
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