terça-feira, 14 de março de 2017

RETORNO PARA A VIDA

Ele conseguira tudo que idealizara: casara com uma moça dotada de inteligência e beleza. Era gerente de vendas de uma empresa importante. Tomava parte ativa na comunidade. Seus dois filhos estavam na Universidade. Tudo era felicidade. Então, o filho mais velho pôs termo à existência. Porque o fizera, era um mistério. Fred e a esposa se propuseram a travar uma batalha contra o desânimo. Quando ele pensou que estivessem vencendo a luta, num dia de inverno, ela realizou o mesmo ato insano do filho. Essa segunda tragédia fez com que Fred alimentasse a ideia de que, de alguma forma, ele fora a causa real de tudo. Passou a evitar os amigos, fechou-se em seu quarto. Acabou sendo internado em um hospital para doentes mentais. E ele só tinha um pedido: que o deixassem a sós. Durante dois anos, ele ficou apático, resistindo a todas as terapias. Não abria as cartas do filho, em serviço militar no sul do Pacífico. Muito menos as respondia. Quando ele veio visitá-lo e avançou de braços abertos, Fred voltou o rosto para a parede e se recusou a dizer qualquer palavra. Quando um novo médico se aproximou dele e lhe propôs uma tarefa, Fred se sentiu muito ofendido. Era preciso organizar os inúmeros livros, recebidos em doação. Que fossem separados em histórias de detetives, ficção e não ficção. Depois, colocá-los nas estantes. Um detalhe importante: ele não precisaria dizer nenhuma palavra. De mau humor, Fred se levantou e foi ao porão. Ao menos, iria trabalhar sozinho. Sem o menor interesse, foi separando os livros em pilhas. De repente, um nome, escrito em dourado, numa capa desgastada: Harry Emerson Fosdick. Como um raio, sua mente evocou o passado. Aquele era o piloto amigo do seu irmão. Lembrou do irmão, da família, da sua vida. Todo o passado retornou de roldão. Levou o livro para seu quarto e o leu até a madrugada: O poder de suportar as vicissitudes. Por mais que a vida nos possa dar ou tirar, estava escrito, uma coisa é absolutamente indispensável: que o homem não perca a fé em si mesmo; que conserve a honra imaculada aos próprios olhos. Ele se deu conta de que quando abandonara a vida antes que a partida terminasse é porque havia perdido a fé. Pensou no filho Randall: a morte lhe levara o irmão e a mãe. A doença lhe tirara o pai. Mas ele continuara a lutar. Eu te saúdo a coragem, a luta, a perseverança, meu filho. Pensou, desolado. Até aquele instante, Fred não quisera ficar bom. Continuava a não querer. Entretanto, sabia que precisava querer ficar bom. Precisava voltar para a partida que abandonara para poder restaurar o respeito próprio. E leu novamente: A fé vital em Deus comunica ao homem um íntimo poder, uma visão espiritual: na companhia divina ele se provê de novas forças. Naquele dia, principiou a retornar para a vida. Para seu filho, sua nora, um trabalho pela comunidade. Era como desfrutar da bênção de nascer de novo, sentindo a renovação da alma. Ele não estava só. Estava sob a guarda de Deus e, então, poderia enfrentar o mundo, sem medo. Pensemos nisso e jamais nos permitamos o abandono da luta. Deus segue conosco. 
Redação do Momento Espírita, com base no Artigo Retorno à vida, de Fred Raymond Gilpatric, de Seleções Reader’s Digest, de abril 1948. Em 14.3.2017.

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