quinta-feira, 2 de março de 2017

E A PAZ CHEGOU

O carro da guerra passou esmagador em desatino, deixando as marcas inapagáveis da desolação e da morte em toda parte. Uma nuvem de sofrimento cobriu o sol da esperança, enquanto as vozes em desespero misturavam-se ao murmúrio aflitivo das ladainhas. A aldeia era uma pequena clareira na floresta do mundo ambicioso e temporal. Os seus moradores nada sabiam da política perversa dos estranhos dominadores dos seus destinos. A poeira que descia sobre as carnes trêmulas dos vencidos transformava-se em lama ensanguentada. As crianças esmagadas não tiveram tempo de fugir, nem os seus pais atônitos de poder salvá-las ou salvar-se, e nem mesmo as virgens que se refugiaram no templo o conseguiram. Somente dominava o crime com o terror que vencia tudo e todos. Na turbulência alucinada pelo desespero, alguém arrancou a música aprisionada na garganta e suplicou em angústia por socorro e misericórdia: 
-“Oh! Doce amor dos desgraçados! Desce a Tua ternura até nós e recolhe as nossas aflições na concha sublime das Tuas luminosas mãos. Faze suavizar o peso em nossos ombros carregados de injúrias e de humilhação com o bálsamo das doces esperanças da imortalidade. Toma nossas infinitas aflições e transforma-as em sorrisos como flores de incomparável delicadeza, ornando a terra infeliz onde jazemos semimortos, de forma que se transforme num jardim de bênçãos para o futuro.” 
E silenciou, arquejante. Somente se ouviam entre os gemidos, as onomatopeias da natureza compadecida. Krishna escutou-a e enfrentou Indra, o invejoso e temerário, que fugiu envergonhado para além das nuvens dos céus, permitindo que flechas de luz descessem sobre a aldeia vencida e triste, vestindo-a de claridade. A partir daquele momento, todas as dores da Terra foram se transformando em rosais e festões de primavera eterna, a fim de que um rei, que é o maior de todos os reis; um Deus que supera todos os outros deuses, aplacasse a crueldade onde surgisse e uma doce esperança nunca abandonasse aqueles que amam e confiam, deixando de ser desventurados. O monstro da guerra, surpreendido, tentou fugir, ressurgindo, aqui e ali. Todavia, a partir de então, a aldeia dos corações humanos ficou em harmonia, instalando-se um reino diferente que nunca mais desaparecerá do mundo. Esse rei triunfante deu a Sua vida por todas as vidas, e o Seu canto de perdão elevou a Humanidade aos cimos anelados, superando reinos e principados, por estender-se para sempre no infinito da imortalidade. 
 * * * 
DIVALDO PEREIRA FRANCO
Ei-lo novamente cantando o sermão da paz e da renovação da vida, quando parecia estar esquecido! Ei-lo uma vez mais estendendo as mãos sobre os rostos cansados, lembrando que a dor é escola bendita e que logo adiante passará. Ei-lo com seu sorriso compreensivo, sem fazer julgamentos, entendendo nossas mazelas, disposto a ajudar, disposto a ouvir, disposto a permanecer aqui junto a nós... até quando for necessário... 
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem do Espírito Rabindranath Tagore, psicografia de Divaldo Pereira Franco, na manhã de 2 de agosto de 2013, durante o 5º Congresso Espírita de Mato Grosso, em Cuiabá, MT. Em 2.3.2017.

Nenhum comentário:

Postar um comentário