sábado, 16 de dezembro de 2023

LIÇÃO MATUTINA

Os gritos exacerbados de bem-te-vi nos conduziram à janela do apartamento.
No topo do edifício em frente, um belo espécime de gavião bebia água, numa pequena poça que a chuva do dia anterior formara. 
Cerca de dois metros do garboso espécime, em uma antena de TV, seis bem-te-vis gritavam. 
O gavião parecia não se incomodar com aquilo e continuou a beber, sossegadamente. 
Então, as pequenas aves, que não pesam mais do que setenta gramas, iniciaram outra estratégia. 
Passaram a executar voos rasantes, bem próximos ao indesejado intruso, enquanto os gritos se tornaram mais estridentes. 
O interessante é que eles se revezavam na tarefa. 
Um saía da antena, cumpria a missão e voltava. 
Outro o sucedia, depois outro. 
Por algum tempo, o gavião suportou aquelas investidas. 
Acabou se rendendo e decidiu voar para outro lugar, onde não fosse perturbado. 
Abrindo as asas, alçou voo, mostrando toda a imponência da sua grande envergadura. 
O que vi me deixou ainda mais admirado. 
Dois dos bem-te-vis foram atrás dele, como se fossem uma escolta.
Lembraram-me aviões de caça escoltando um avião civil, se certificando de que ele iria para bem longe dali. 
Enquanto minha vista os pôde alcançar, acompanhei a cena, ao tempo que reflexões me acudiam à mente. 
Os bem-te-vis, apesar do tamanho e da simpatia, são territorialistas.
Podem ser agressivos, no período da reprodução. 
Eles enfrentam gaviões, urubus e até seres humanos que se aproximam do seu território, para que possam acasalar e ter seus filhotes em segurança. 
A cena da manhã me remeteu a pensar na coragem dessas pequenas aves, enfrentando um espécime muito maior e mais pesado. 
Mostraram determinação em seu propósito e não se intimidaram.
Comportamento habitual, conforme registram os apontamentos que as descrevem. 
É o de que precisamos: coragem. 
Coragem para enfrentar as decisões importantes, para viver, para fazer o bem, para evoluir, para alcançar nossa paz interior. 
E, mais do que o bem-te-vi, regido pelo instinto, somos filhos de Deus, dotados de razão e discernimento. 
Se a Providência Divina distribui o alimento no celeiro da natureza para esses heróis alados, tem os olhos sobre nós e jamais nos abandona. 
Isso levou o Apóstolo dos Gentios a assinalar em uma das suas epístolas:
Tudo posso naquele que me fortalece. 
Contemos com Deus. 
Contemos com Seu apoio. 
Não percamos a vontade de lutar e vencer. 
Nós podemos. 
Não importa o tamanho do problema ou quão imponente pode parecer.
Podemos vencer! 
E, colhamos ainda outra lição da bela cena matutina. 
Eles trabalharam em equipe e em sistema de revezamento. 
Por que insistimos em sofrer a sós, em não pedir ajuda, quando o fardo nos parece demasiado pesado ou a dificuldade enorme? 
Para que terá Deus disposto ao nosso lado familiares, amigos, colegas, senão para que nos demos as mãos e escalemos juntos as colinas e as montanhas das dificuldades?
Sempre haveremos de encontrar quem nos poderá auxiliar a descobrir soluções, nos sustentará, quando prestes a cair. 
Prossigamos alçando nossos voos rumo às estrelas. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo A coragem do bem-te-vi, de Odair Araújo, da Revista Seareiro, de julho/agosto 2022, publicação da Seara Bendita Instituição Espírita. 
Em 13.10.2022.

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