quarta-feira, 7 de agosto de 2024

A MAIS BELA FLOR

O bosque estava quase deserto quando o homem se sentou para ler, debaixo dos longos ramos de um velho carvalho. 
Estava desiludido da vida, com boas razões para chorar, pois o mundo estava tentando afundá-lo. 
E, como se já não tivesse razões suficientes para arruinar o seu dia, um garoto chegou, ofegante, cansado de brincar. 
Parou na sua frente, de cabeça baixa e disse, cheio de alegria: 
-Veja o que encontrei! 
O homem olhou desanimado e percebeu que na sua mão havia uma flor. 
-Que visão lamentável! Pensou consigo mesmo. 
A flor tinha as pétalas caídas, folhas murchas e, certamente, nenhum perfume. 
Querendo ver-se livre do garoto e de sua flor, o homem desiludido fingiu pálido sorriso e se virou para o outro lado. 
Mas, ao invés de recuar, o garoto sentou-se ao seu lado, levou a flor ao nariz e declarou com estranha surpresa: 
-O cheiro é ótimo e é bonita também... Por isso a peguei. Tome! É sua. 
A flor estava morta ou morrendo, nada de cores vibrantes como laranja, amarelo ou vermelho, mas ele sabia que tinha que pegá-la, ou o menino jamais sairia dali. 
Então estendeu a mão para pegá-la e disse, um tanto contrafeito: 
-Era o que eu precisava. 
Mas, ao invés de colocá-la na mão do homem, ele a segurou no ar, sem qualquer razão. 
E, naquela hora, o homem notou, pela primeira vez, que o garoto era cego e que não podia ver o que tinha nas mãos. 
A voz lhe sumiu na garganta por alguns instantes... 
Lágrimas quentes rolaram do seu rosto enquanto ele agradecia, emocionado, por receber a melhor flor daquele jardim. 
O garoto saiu saltitando, feliz, cheirando outra flor que tinha na mão e sumiu no amplo jardim, em meio ao arvoredo. 
Certamente iria consolar outros corações que, embora tenham a visão física, estão cegos para os verdadeiros valores da vida. 
Agora o homem já não se sentia mais desanimado e os pensamentos lhe passavam na mente com serenidade. 
Perguntava-se como é que aquele garoto cego poderia ter percebido sua tristeza a ponto de aproximar-se com uma flor para lhe oferecer.
Concluiu que talvez a sua autopiedade o tivesse impedido de ver a natureza que cantava ao seu redor, dando notícias de esperança e paz, alegria e perfume... 
E como Deus é misericordioso, permitiu que um garoto, privado da visão física, o despertasse daquele estado depressivo. 
E o homem, finalmente, conseguira ver, através dos olhos de uma criança cega, que o problema não era o mundo, mas ele mesmo. 
E, ainda mergulhado em profundas reflexões, levou aquela feia flor ao nariz e sentiu a fragrância de uma rosa... 
* * * 
Verdadeiramente cego é todo aquele que não quer ver a realidade que o cerca. 
Tantas vezes, pessoas que não percebem o mundo com os olhos físicos, penetram as maravilhas que os rodeiam e se extasiam com tanta beleza. 
Talvez tenha sido por essa razão que um pensador afirmou que o essencial é invisível aos olhos. 
Redação do Momento Espírita com base em texto de autoria ignorada. Disponível no livro Momento Espírita, v. 5, ed. Fep. 
Em 13.03.2012.

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