sexta-feira, 9 de agosto de 2024

PAPAI VAI MORRER

Quando o diagnóstico chegou alarmante, com uma sentença de morte, o maior dilema de Carlos e Melissa foi como iriam dizer às crianças. 
Como falar para os filhos de quatorze, treze e sete anos que o pai iria morrer, em poucos meses? 
Esperançosos de que a simplicidade e a verdade, envoltas em amor e segurança, facilitassem de algum modo a inevitável tristeza, preferiram revelar a verdade. 
Queriam que eles soubessem que deveriam aproveitar cada minuto ao lado do pai, como algo precioso a ser registrado na memória do amor. 
Carlos decidiu que seus dias, embora contados, não seriam tristes.
Era preciso ir tocando a vida, como fosse possível. 
Planejou o seu funeral, sem atavios, estipulando a quantia que deveria ser gasta, para que não onerasse o orçamento familiar.
Enquanto as forças lhe permitiram, compareceu à cabeceira da mesa para as refeições com a família. 
E seu bom humor não era fingimento. 
Ele desejava que os filhos não sofressem o luto antes da sua partida.
Nas recomendações, para o futuro, brincava: 
-Sua mãe não sabe somar, esquece as coisas, queima a comida muitas vezes. Mas ela sabe escrever bilhetes bonitos, cuida de vocês e os ama. Não esqueçam disso. Ela precisa da ajuda de vocês agora e depois. 
Passo a passo, a cada dia, as sementes foram sendo plantadas. 
E a cada noite, quando se preparavam para o sono, havia declarações recíprocas de afeto: 
-Amo você, papai. 
-Amo vocês. 
A sós, com os filhos, Melissa os preparava: 
-Quando seu pai se for, as pessoas vão chorar na capela e no cemitério. Nós também choraremos. As pessoas lhes falarão sobre seu pai, como elas o viam. Lembrarão até de coisas engraçadas que aconteceram e poderão rir. Pode parecer estranho rir numa hora dessas, mas é o que acontece. 
Carlos morreu no hospital apenas vinte e quatro horas depois do internamento. 
Melissa retornou ao apartamento, mergulhada em tristeza. 
Os filhos correram para saber: 
-Como está papai? 
Ela pensara durante o trajeto do hospital para casa, em tudo que poderia dizer a eles, como lhes daria a notícia. 
Mas havia tanta tristeza em sua alma, que ela somente disse baixinho: 
-Morreu. 
Choraram juntos. 
Quando eles quiseram saber quais tinham sido as últimas palavras do pai, embora Melissa não lembrasse exatamente o que ele dissera, pelo drama dos últimos momentos, buscou forças no mais íntimo da alma e interpretou o desejo dele: 
-Beije as crianças por mim. 
E a mensagem que ficou para toda a família é de que a morte não mata o amor. 
Então, foi chegando a calma. 
O pai lutara heroicamente com a doença que lhe minara as forças e sugara a vida. 
Deixara uma mensagem de nobreza para cada um deles. 
Semeara amor e esperança. 
Esperança de que ele prosseguiria a viver, depois que a morte lhe alcançasse o corpo. 
Haviam vivido conjugando amor, fortalecendo-se mutuamente. 
Eles sabiam que o pai, onde estivesse, continuava a olhar por eles. 
E isso lhes permitiria viver os dias futuros, com saudosa serenidade.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Como contar às crianças que o papai vai morrer, de Muriel Fischer, da Revista Seleções Reader’s Digest, de janeiro/1980. 
Em 8.8.2024
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