segunda-feira, 17 de julho de 2023

LAZER

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Comenta-se, excessivamente, quanto à necessidade do lazer, como medida de repouso e de renovação de forças. 
Lazer, sim; ociosidade, não. 
O homem é, biologicamente, preparado e programado para a ação e não para o repouso. 
O dinamismo vitaliza-o, desenvolve-o, enquanto que a imobilidade enfraquece-o, atrofia-o. 
Lazer não significa falta de atividade, mas mudança física, emocional e intelectual de atitude, de trabalho. 
A ação motiva a vida; o repouso desestimula-a. 
O lazer é necessário para facilitar o relaxamento das tensões, para possibilitar a reflexão, a programação de novas atividades. 
Mas não é eficaz somente quando se realiza em estações balneárias, campos de desportos, praias, montanhas, viagens bem concorridas. 
Esses mecanismos de lazer obedecem a exigências de mercados que vendem emoções novas, produzindo outros estados de angústia, de ansiedade, de cansaço. 
O lar e a família, o refúgio num lugar solitário, a música, o silêncio e a prece, propiciam estados íntimos de lazer com excelentes resultados para a renovação pessoal. 
Há organizações especializadas em lazer, que desumanizam o indivíduo, que passa a ser manipulado por especialistas que lhe impõe o que lhes parece melhor e não aquilo que, de fato, cada homem quer e necessita.
Apoiando-se no lazer para evitar a neurose do trabalho, os que param de atuar quase sempre se tornam vítimas da neurose da falta do que fazer. 
E é por essa razão que muitos tiram férias e viajam, se refugiam em recantos naturais, praticam esportes dos mais variados, e voltam mais cansados e infelizes do que antes. 
Por que isso ocorre? 
É justamente porque o repouso significa a mudança de atividade. 
Mas de nada vale mudar de atividade e levar na mente as várias preocupações e neuroses do dia-a-dia. 
O ser humano não é como um aparelho eletrônico, que basta acionar um botão para desligar. 
Se fosse assim seria fácil e prático. 
A mente humana é esse mecanismo que leva em si mesma os elementos de calma e tranquilidade ou motivos de preocupações e ansiedades, para onde quer que vá. Por essa razão, a mudança de ambiente ou de cidade, por si só, não resolve o problema do estresse, nem oferece o descanso necessário. 
É preciso oferecer lazer e descanso também à mente. 
Além de mudar as atividades rotineiras, é preciso ter uma certa consciência tranquila. 
É cumprir com suas obrigações diárias; ter organização e disciplina no trabalho, não sobrecarregando os colegas com deveres que são seus. 
É estar bem com os afetos, com as responsabilidades assumidas, com as contas em dia. 
A não ser assim, você poderá fugir da cidade, do país, do planeta, mas quando apoiar a cabeça para o repouso tão desejado, perceberá que levou consigo os verdadeiros motivos do seu estresse e da sua ansiedade.
Buscar momento de lazer, sim. 
Mas, fugir de si mesmo é uma tentativa que não funciona. 
* * * 
O trabalho, longe de ser motivo de cansaço e estresse, é valioso tesouro que nos propicia viver com dignidade, dando utilidade às horas. 
Nesses momentos de mais lazer e ociosidade que trabalho, merece consideração o ensino de Jesus: 
-O Pai até hoje trabalha e eu também trabalho. 
Com isso, podemos concluir que o trabalho não é um castigo nem deve ser encarado como uma obrigação indesejável, mas como fator indispensável para o progresso e a evolução do ser. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 25, do livro Seara do Bem, por Espíritos diversos, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 27.8.2012.

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