quinta-feira, 6 de julho de 2023

LÁPIS, VIDA, VERSO E PROSA

FERNANDO PESSOA
O menino acordou cedo. 
Estava feliz. 
Eram suas férias escolares e, por isso, ele estava passando uma temporada com sua avó. 
Ouviu um ruído que vinha da sala. 
Em disparada, dirigiu-se para lá, confiante de que encontraria a avó. 
Ela estava sentada à mesa. 
Uma música leve e reconfortante ao fundo, uma xícara de café esfumaçante à sua frente e, em suas mãos, lápis e papel. 
Atenta, escrevia. 
-Vovó, você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? É uma história sobre mim? 
Questionou o curioso menino. 
-Estou escrevendo sobre você, é verdade. 
Respondeu, sorrindo, a avó. 
-Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou utilizando. 
-O lápis, vovó? Mas por quê? 
-Porque eu gostaria que você fosse como ele quando crescesse. 
O menino olhou demoradamente para o lápis, como que buscando uma característica especial que o diferenciasse dos outros tantos que ele já havia visto. 
-Mas ele é igual a todos os lápis que já vi em minha vida! 
-Tudo depende do modo como você olha para as coisas, -respondeu a avó, tomando-o ao colo.-Há cinco qualidades nele que, se você conseguir perceber, imitar e manter ao longo de sua vida, será sempre uma pessoa feliz e em paz. 
-Quais são essas qualidades, vovó? 
-Assim como o lápis, você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer jamais que há sempre uma mão a lhe guiar os passos. Essa mão é Deus. É Ele quem nos conduz e guia, do esboço à arte final. De vez em quando, o lápis precisa ser apontado. Isso faz com que ele sofra um pouco mas, ao final, está muito melhor do que antes. Assim, nós também precisamos saber suportar a dor, pois é ela quem nos molda e nos torna mais sábios. ­­O lápis permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que escrevemos errado. De igual forma devemos agir, humildemente, permitindo que nossos erros sejam corrigidos, a fim de nos mantermos retos no caminho da justiça. 
A sábia senhora fez uma ligeira pausa para tomar um gole de café, quando o neto indagou: 
-E quais são as duas últimas qualidades, vovó? 
Deslizando seus dedos pelos cabelos do neto, a avó prosseguiu: 
-O que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas sim o grafite, que deve ser preciso. Isso nos diz que devemos valorizar nossa essência. Finalmente, meu filho, o lápis sempre deixa uma marca. Da mesma forma, tudo o que fazemos na vida deixa traços. Portanto, devemos tomar consciência de cada escolha que fazemos em nossa jornada, pois, sem dúvidas, ela trará consequências e deixará marcas. 
E, entregando o lápis nas mãos do neto, a avó concluiu: 
-Seja como um lápis, meu filho, e você escreverá uma história de vida próspera e feliz. 
* * * 
Guiados pelas mãos Divinas, estamos constantemente a escrever nas páginas do livro da vida: família, fé, trabalho, caridade, humildade, paciência, resignação, amor... 
São palavras que não podem faltar em nossos versos e prosas. 
A cada nova frase, mais nos autoconhecemos. 
Nas palavras do poeta Fernando Pessoa: 
-Quando escrevo, visito-me solenemente. 
Pensemos nisso! 
Redação do Momento Espírita,com citação do livro Desassossego, de Fernando Pessoa, ed. Companhia de Bolso. 
Em 28.10.2014.

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