Os animais, tomados de pânico, reuniram-se a fim de arranjar um modo de levar tranquilidade e calma ao soberano dos animais.
Tenho uma ideia, disse o camelo, o rei leão gosta de ouvir lendas e histórias.
Se um de nós for à sua presença e lhe relatar um caso original e interessante, estou certo de que ele se acalmará e a bondade voltará ao seu coração.
Os animais acharam a ideia excelente, mas quem teria audácia suficiente para aproximar-se do rei?
A raposa apresentou-se, dizendo, de modo orgulhoso:
-Se a melhora do rei depende do relato de uma história, então tudo está resolvido. Conheço mais de trezentas histórias e fábulas interessantíssimas, que aprendi durante minhas longas viagens. Uma delas haverá de agradá-lo.
Os animais aclamaram a raposa, certos de que a questão estava solucionada e dirigiram-se ao palácio.
No meio do caminho, porém, a raposa parou repentinamente e, tremendo, disse aos companheiros:
-Grande infortúnio acaba de atingir-me. Das trezentas histórias que eu tão bem sabia, esqueci-me de cem.
Os animais a tranquilizaram, afirmando que duzentas histórias seriam mais do que suficientes.
E o cortejo novamente pôs-se em marcha.
Momentos depois, quando já se ouviam os urros do leão, a raposa parou novamente e disse:
-Amigos, das duzentas histórias que eu sabia na ponta da língua, de cem eu não me lembro mais.
Desconfiados, os animais redarguiram que cem histórias bastariam para dissipar a agitação que tomara conta do soberano.
E dizendo isso, puseram-se novamente a caminho.
Quando o grupo chegava diante do palácio, a raposa teve um desmaio e rolou pelo chão.
Reanimada, reabriu os olhos e confessou trêmula:
-Não me lembro das cem últimas histórias de que ainda há pouco me recordava.
Verdadeira desolação tomou conta dos animais.
E agora?
Quem seria capaz, naquela grave emergência, de substituir a raposa?
O chacal, animal rude e inculto, disse conhecer uma única história muito original e que, por certo, agradaria o rei.
Animado pelos outros animais, ele galgou resoluto as longas escadarias do palácio, sumindo por trás de pesada porta.
Todos ficaram aguardando ansiosos o desfecho da arriscada tentativa.
Depois de longa espera, surgiu na larga varanda o leão, calmo e satisfeito.
Para espanto geral, atrás dele vinha o chacal, coberto de medalhas e com a cintura envolta pela faixa dourada de conselheiro do rei.
Que história maravilhosa teria ele contado ao soberano para merecer tamanha recompensa?
O camelo não resistiu à curiosidade e questionou o chacal que explicou, sorrindo:
-Contei ao rei leão a peça que a vaidosa raposa nos pregara, e ele achou muita graça. É sempre assim, explicou, longe do risco todos se inspiram e apresentam ideias geniais.
O verdadeiro talento e a verdadeira coragem, porém, só se revelam na ocasião exata e precisa, ao defrontarem o risco e a ameaça.
* * *
A verdadeira coragem consiste em enfrentar as dificuldades de modo honesto e franco, valendo-se de recursos lícitos e dignos para buscar superar os obstáculos que se apresentam.
Redação do Momento Espírita, com base
no livro Contos e lendas orientais,
de Malba Tahan, ed. Nova Fronteira.
Em 30.07.2015.
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