quarta-feira, 12 de julho de 2023

LAVAR A ALMA

Naquela manhã, a caminho do trabalho, Marcela ouviu uma conversa no ônibus: 
-Eu disse a ela tudo o que estava entalado na minha garganta. Não tive compaixão. 
-E como foi que ela reagiu? 
-Ficou chorando, pedindo desculpas, mas eu não perdoei. Lavei a alma.
Marcela se recordou de uma briga que tivera com a irmã, há alguns anos.
E de como dissera palavras duras e pesadas. 
Ao ser confrontada pela avó, dissera essa mesma frase que acabara de ouvir: 
-Lavei a alma! 
Recorda que a avó perguntara o que significava lavar a alma. 
-Ora, é botar pra fora tudo o que incomoda. 
-Entendi. – Falara a sábia senhora. 
-Então, seu coração deve ter ficado em paz depois de ter dito coisas tão duras. A raiva passou e você e sua irmã ficaram bem, certo? 
-Na verdade, não. Ainda estou magoada e continuamos brigadas. Mas eu disse tudo o que estava entalado. 
-Quer dizer que você lavou a alma mas não perdoou. 
-Não perdoei, nem esqueci. 
-Então você não lavou a alma, minha menina. Quando lavamos algo, como uma roupa, por exemplo, tiramos dela toda a sujeira. Quando nos propomos a lavar a alma é para tirar dela tudo o que nos faz mal: raiva, rancor, mágoa, orgulho, egoísmo. E somente conseguimos isso quando compreendemos o outro, quando conseguimos não nos sentir afetados pelo mal recebido e perdoamos. 
Marcela tivera um choque ao ouvir aquelas palavras. 
Nunca havia pensado no termo lavar a alma sob aquela perspectiva. 
* * * 
Há uma ideia muito antiga que diz que devemos reagir, rebater as ofensas, pagar na mesma moeda.
Isso ainda é resquício do olho por olho, dente por dente, praticado nos tempos de Moisés. 
O Mestre Jesus, contudo, ensinou: 
-Tendes ouvido o que se disse: olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas se alguém vos ferir na face direita, oferecei-lhe também a outra. 
Nesta exortação reside a chave para compreender e praticar o perdão. 
O que nos move a revidar uma ofensa geralmente é nosso orgulho ferido.
Não conseguimos perceber que quem ofende muitas vezes se encontra doente, precisando de ajuda. 
Ao devolvermos a injúria, alimentamos sentimentos e energias ruins em ambos os lados. 
Perdoar uma ofensa exige coragem e integridade, ainda mal compreendidas pelos que nos deixamos arrastar pelo orgulho e pelo egoísmo. 
Uma alma lavada é uma alma livre de sentimentos negativos. 
Mas... como se limpa a alma? 
O segredo está em amar o próximo como a nós mesmos. 
Ver em quem nos magoa um irmão carente de amor tanto quanto nós.
Lavar a alma de sentimentos negativos implica no maior ato de coragem de todos, que é deixar de nos colocarmos em primeiro lugar para compreender o que está provocando a atitude do outro. 
É fazer por ele o que gostaríamos que fizessem a nós, quando também nos sentirmos magoados e feridos. 
É compreender e ajudar.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. XII, itens 7 e 8 de O Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 05.02.2018.

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