sexta-feira, 18 de novembro de 2022

SORRINDO NA TEMPESTADE

PAULO COELHO
Aquela menininha, diariamente, fazia o caminho para a escola sozinha e a pé. Naquela manhã, apesar do mau tempo, do vento forte e das nuvens ameaçadoras, ela seguiu em direção à escola. Ao longo do dia, o vento foi aumentando. Formou-se uma tempestade com muitos raios e trovões. A mãe pensou que sua filha poderia sentir medo de voltar sozinha em meio ao temporal. Afinal, ela mesma estava bastante assustada. Preocupada, entrou em seu carro e dirigiu, em meio à tempestade, para buscar a pequena, na escola. Não demorou muito e ela avistou a sua filha andando pela estrada. Observou que, a cada relâmpago, a criança parava, olhava para cima e sorria. Outro e outro relâmpago. A garotinha parava, olhava para cima e sorria. Finalmente, a menina entrou no carro. A mãe, curiosa, perguntou: 
-Filha, o que você estava fazendo? 
E ela, alegre e despreocupada, respondeu: 
-Eu estava sorrindo. Deus não para de tirar fotos minhas! 
 * * * 
 A inocência da infância.
A lição da simplicidade de descobrir beleza em todas as coisas. 
De confiar em quem é o Criador de todo o imenso Universo, Pai amoroso e bom, que está atento a tudo. Pudéssemos nos recordar, em nossa vida, dos momentos mágicos da infância e nossa vida seria menos complicada. 
Quando os temporais das adversidades nos chegassem, lembraríamos de que Deus tudo sabe e vela por nós. 
Quando os ventos das inquietudes nos balançassem, recordaríamos de que nada de mal nos deverá ocorrer, que não seja do conhecimento de Deus. E se Ele sabe, então, tudo está certo. 
Não haveremos de sofrer além do que esteja dentro das nossas necessidades. 
Quando os relâmpagos das calúnias e das inverdades riscassem os céus dos nossos atos, teríamos em mente que não importa o que os homens digam. 
Deus sabe a verdade. 
E nos preocuparíamos menos em nos defender e mais em prosseguir agindo de forma correta e digna. 
Quando a chuva inclemente do abandono nos fustigasse a alma, teríamos em mente que não estamos sós. 
Deus segue conosco. 
Estabeleceríamos a ponte da comunicação entre Ele e nós, através da prece sincera e devotada, prosseguindo sempre. 
Quando o frio da indiferença de amigos antes devotados nos enregelasse, provocando-nos lágrimas de dor, nos lembraríamos de que Deus nos ama. 
E tornaríamos a pedir que Ele permaneça conosco, a fim de que a noite da solidão não nos perturbe, nem amedronte. 
Enfim, se os verdes anos da infância falassem em nossa vida, seguiríamos pelas veredas do mundo mais tranquilos. Porque sempre teríamos em mente que o bem é superior ao mal, que é transitório e fugaz. 
Que Deus é todo poder, bondade e sabedoria e tudo o que Ele faz traduz essas virtudes em grau infinito. 
Finalmente, seguiríamos, pela estrada, confiantes de que nada escapa ao olhar profundo da Divindade. 
* * * 
Deus existe. 
É infinitamente justo e bom: essa a Sua essência. 
A sua solicitude a tudo se estende. 
Só o nosso bem, portanto, pode Ele querer. 
Disso se conclui que devemos confiar nEle: é o essencial. 
Assim, em meio à tempestade, olhemos para o alto e utilizemos nosso sorriso, avançando sempre, vencendo os percalços. 
Redação do Momento Espírita, com base no texto Inocência, de autoria ignorada e no cap. 2, item 30, de A gênese, de Allan Kardec, ed. FEB. 
Em 18.11.2022.

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