quinta-feira, 24 de novembro de 2022

FUNDADORES DE REINOS

J. Herculano Pires
Existiu na Mesopotâmia, um reino. 
Localizado em rota estratégica, era um importante e próspero lugar, centro de comércio e comunicações. 
Chamava-se Mari e era diferente de todos os demais reinos da Antiguidade. 
Seu rei não usava espada. 
Ao contrário, ele estendia a mão em sinal de bênção e paz. 
Um estranho mundo, com certeza, onde predominava o amor e a bondade, em meio aos ferozes domínios que o cercavam. 
Mais impressionante do que esse reino, que foi destruído em 1742 a.C., um outro fora antes fundado, mais justo e mais fascinante. 
Seu fundador foi um jovem carpinteiro. 
Ele o proclamou num sábado, numa cidade quase insignificante, chamada Nazaré. 
Naquele dia, judeus ansiosos pela salvação de Israel ocupavam a sinagoga. 
O Carpinteiro passou entre eles e se sentou. 
Sua túnica brilhava, causando assombro entre os presentes. 
Como podia brilhar tanto? 
Quando lhe permitiram falar, levantou-se, tomou nas mãos o rolo da Torá e o abriu, nos escritos de Isaías. 
Com voz serena, leu: 
-O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Enviou-me para proclamar a libertação dos cativos e a restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável ao Senhor.
Concluindo a leitura, fechou o livro, e tornou a se sentar. 
Ele estendeu o olhar por todos os presentes, e afirmou: 
-Hoje se cumprem estas palavras do profeta. 
De início, houve um grande silêncio. 
Depois, se manifestaram alguns gestos de impaciência. 
Os protestos se fizeram mais fortes, abafando a voz calma, que falava de um reino de amor e de justiça. 
A multidão avançou para Ele, 
O agarrou e arrastou para fora. 
Levaram-nO para o alto de um monte, desejando precipitá-lO dali para baixo, entre rochas pontiagudas e muitas pedras. 
Ele, no entanto, desembaraçou-se, tranquilamente, daqueles punhos de ferro e desceu a encosta, rumo à cidade.
E foi para outras bandas pregar o Seu reino. 
* * * 
Um reino. Quem pode fundar um reino? 
Em verdade, qualquer um de nós pode fundar um reino porque cada homem tem o poder de criar o que quiser. 
O reino terá as características que desejarmos. 
Pode ser um reino de guerra ou de paz, de amor ou de ódio, como o fizermos. 
Por isso, ainda hoje, na Terra, se multiplicam os reinos da mentira, da violência, da maldade, da subjugação do outro. 
Podemos fundar o reino da descrença, um reino árido, estreito e seco.
Um reino sem luz, que não consegue estabelecer fronteiras muito além de si mesmo. 
Ou o reino da injustiça, da ganância, um reino de intrigas e abusos de toda ordem. 
No entanto, podemos aderir ao reino proclamado há dois mil anos e fundar, onde nos encontrarmos, o nosso reino. 
Um reino de paciência, que suporta as tolices dos demais e apenas esclarece, desejando fazer luz. 
Um reino de amor, que ampara o próximo, que admira a natureza e a protege, que zela pelo bem-estar do outro. 
Um reino de concórdia, de entendimento, o reino de Deus. 
O local, todos o temos, enorme, inigualável, o nosso coração.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1, do livro O reino, de J. Herculano Pires, ed. Edicel, com transcrição do Evangelho de Lucas, cap. 4, vers. 18 e 19. 
Em 24.11.2022.

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