Localizado em rota estratégica, era um importante e próspero lugar, centro de comércio e comunicações.
Chamava-se Mari e era diferente de todos os demais reinos da Antiguidade.
Seu rei não usava espada.
Ao contrário, ele estendia a mão em sinal de bênção e paz.
Um estranho mundo, com certeza, onde predominava o amor e a bondade, em meio aos ferozes domínios que o cercavam.
Mais impressionante do que esse reino, que foi destruído em 1742 a.C., um outro fora antes fundado, mais justo e mais fascinante.
Seu fundador foi um jovem carpinteiro.
Ele o proclamou num sábado, numa cidade quase insignificante, chamada Nazaré.
Naquele dia, judeus ansiosos pela salvação de Israel ocupavam a sinagoga.
O Carpinteiro passou entre eles e se sentou.
Sua túnica brilhava, causando assombro entre os presentes.
Como podia brilhar tanto?
Quando lhe permitiram falar, levantou-se, tomou nas mãos o rolo da Torá e o abriu, nos escritos de Isaías.
Com voz serena, leu:
-O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres.
Enviou-me para proclamar a libertação dos cativos e a restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável ao Senhor.
Concluindo a leitura, fechou o livro, e tornou a se sentar.
Ele estendeu o olhar por todos os presentes, e afirmou:
-Hoje se cumprem estas palavras do profeta.
De início, houve um grande silêncio.
Depois, se manifestaram alguns gestos de impaciência.
Os protestos se fizeram mais fortes, abafando a voz calma, que falava de um reino de amor e de justiça.
A multidão avançou para Ele,
O agarrou e arrastou para fora.
Levaram-nO para o alto de um monte, desejando precipitá-lO dali para baixo, entre rochas pontiagudas e muitas pedras.
Ele, no entanto, desembaraçou-se, tranquilamente, daqueles punhos de ferro e desceu a encosta, rumo à cidade.
E foi para outras bandas pregar o Seu reino.
* * *
Um reino. Quem pode fundar um reino?
Em verdade, qualquer um de nós pode fundar um reino porque cada homem tem o poder de criar o que quiser.
O reino terá as características que desejarmos.
Pode ser um reino de guerra ou de paz, de amor ou de ódio, como o fizermos.
Por isso, ainda hoje, na Terra, se multiplicam os reinos da mentira, da violência, da maldade, da subjugação do outro.
Podemos fundar o reino da descrença, um reino árido, estreito e seco.
Um reino sem luz, que não consegue estabelecer fronteiras muito além de si mesmo.
Ou o reino da injustiça, da ganância, um reino de intrigas e abusos de toda ordem.
No entanto, podemos aderir ao reino proclamado há dois mil anos e fundar, onde nos encontrarmos, o nosso reino.
Um reino de paciência, que suporta as tolices dos demais e apenas esclarece, desejando fazer luz.
Um reino de amor, que ampara o próximo, que admira a natureza e a protege, que zela pelo bem-estar do outro.
Um reino de concórdia, de entendimento, o reino de Deus.
O local, todos o temos, enorme, inigualável, o nosso coração.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1,
do livro O reino, de J. Herculano Pires, ed. Edicel,
com transcrição do Evangelho de Lucas, cap. 4,
vers. 18 e 19.
Em 24.11.2022.
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