segunda-feira, 30 de maio de 2016

A CERIMÔNIA DOS SONHOS

Frida sempre havia sonhado com um casamento de contos de fadas. Planejara como seria o vestido, o véu, o buquê, o penteado, o sapato, os vestidos das madrinhas. Selecionou as músicas da cerimônia, da entrada até a saída, e especificou como seriam as lembrancinhas, o bolo, os doces. Preparou tudo com cuidadoso zelo. Mas se esqueceu de levar em conta a parte principal, aquela que faria a diferença na adaptação do casamento: a realidade da vida a dois. Ficara tão absorvida na cerimônia que deixara de lado a essência e o significado profundo desse ato. O dia da celebração foi maravilhoso. Os convidados se encantaram com a decoração dos salões, os aromas das flores, os sons dos violinos e os sabores dos pratos. Frida estava orgulhosa de si mesma. Havia se esmerado e agora se sentia realizada. O noivo a tudo assistia com resignada alegria. Ficava feliz ao vê-la radiante. Para ele, bastaria uma cerimônia simples, com os amigos íntimos e os familiares, mas ela queria uma festa digna de rainha. Por conta desse desejo, casaram-se endividados. Casamento é uma vez só, justificara Frida, a cada novo gasto inesperado. E assim foram avançando em compromissos financeiros. Tudo em nome do sonho da mimada noiva. Uma amiga alertou: Você não acha que está exagerando? Foi afastada do convívio e tratada com polida indiferença. A noiva não queria ninguém lançando energias negativas em seu casamento. Terminada a cerimônia, o casal rumou para uma breve lua de mel, em uma cidade de veraneio. Quando voltaram, Frida não conseguia se adaptar à rotina de casada. Irritava-se, reclamando das tarefas diárias. As dívidas chegavam impiedosas e o casal acabava discutindo por causa da eterna insatisfação de Frida. Meses depois, ela decidiu voltar para a casa dos pais. Acusava o marido de não lhe dar atenção, de trabalhar muitas horas, deixá-la sozinha e não ajudá-la nos trabalhos da casa. Ele realmente trabalhava horas a mais para pagar as onerosas contas. E, ultimamente, não fazia questão de retornar mais cedo. Não se sentia à vontade em casa, onde a esposa o aguardava sempre com queixumes. O casamento acabou antes mesmo do casal terminar de pagar todas as prestações assumidas. Aquela amiga que havia sido afastada, um dia encontrou Frida e, ao ouvi-la reclamar sem parar, nem a deixou terminar. 
-Você estava tão focada em concretizar o seu sonho, tão voltada para si mesma e para a parte material do casamento, que ignorou o fato de que nossa felicidade está intimamente associada à felicidade dos que nos cercam. O que você fez para que as pessoas que a cercam também tivessem seus sonhos realizados? 
Frida emudeceu. Não havia pensado nos sonhos de mais ninguém. Apenas nos seus. Naquele momento, um clarão iluminou sua mente. Ela percebeu, em choque, o quanto havia sido egoísta e imatura. Voltou para casa cabisbaixa, pensando no quê, de fato, havia significado o casamento para ela. E lamentou ter desperdiçado tanto tempo e recursos numa ilusão. Desde então, Frida mudou sua forma de ser e estar no mundo, buscando primeiro a essência das coisas, e não suas manifestações exteriores. 
Redação do Momento Espírita. Em 18.5.2016.

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