Uma família passava o dia na praia.
As crianças tomavam banho de mar e faziam castelos na areia, quando, ao longe, uma velhinha surgiu.
O cabelo grisalho e as roupas sujas e esfarrapadas esvoaçavam ao vento.
Resmungava sem parar, enquanto apanhava coisas da areia e as colocava em um saco.
Quando passou por eles, curvando-se de quando em quando para catar suas coisinhas na areia, sorriu para a família.
O cumprimento, porém, não foi correspondido.
Em silêncio, sem se deter, ela continuou seu caminho.
Semanas mais tarde, em conversa com vizinhos, a família ficou sabendo que aquela velhinha dedicava seus dias a uma estranha cruzada.
Ela recolhia caquinhos de vidro na praia, para que as crianças não cortassem seus pés.
* * *
Quando estamos diante de um objeto, fitamos apenas o que nos é possível ver, limitados não só pelo ângulo visual que nos é oferecido, mas também pela limitação de nossa própria percepção.
Assim mesmo nos atrevemos a descrevê-lo, ignorando os lados que não nos são visíveis, acreditando que nossa descrição é perfeita, exata e indiscutível.
Acreditamos piamente sermos senhores das verdades da vida.
Do mesmo modo agimos quando se trata de analisar e julgar os outros e seus atos.
Partimos de premissas decorrentes do nosso modo de ver a vida e de vivê-la e passamos a rotular, negativamente, aqueles que agem de modo diferente do nosso.
Dessa prática frequente surgem conflitos e desentendimentos variados.
Afinal, como saber quais as verdadeiras razões que movem os atos daqueles que cruzam nossos caminhos?
Como conhecer que dores, que angústias, que sonhos, povoam suas almas e seus corações?
Como condenar ou premiar gestos e palavras, se não sabemos quais são as reais intenções que as motivaram?
Na condição de Espíritos imperfeitos, ainda em marcha evolutiva, por ora, não nos foi ofertado o poder de conhecer e entender verdadeiramente os outros.
Sem esse conhecimento prévio, corremos sério risco de tecermos comentários levianos e de julgá-los equivocadamente.
Tantas vezes acreditamo-nos superiores aos outros tal como a família diante da catadora de vidro quando, na realidade, não tivemos, ainda, a grandeza suficiente para compreender e avaliar suas condutas.
Pensemos nisso: Deus, nosso Pai, soberanamente justo e bom, conhece a nossa intimidade, sabe o que nos impulsiona, e nem por isso nos condena ou nos afasta de Seu convívio.
Ama-nos e perdoa-nos sempre.
Aguarda o momento em que cada um de nós se decida pela senda do bem e da verdadeira felicidade.
Simplesmente assim. Busquemos imitá-lo, atendendo à exortação do Mestre Jesus: Sede perfeitos, como perfeito é vosso pai celestial.
Redação do Momento Espírita, com base em texto do livro
Como atirar vacas no precipício, de Alzira Castilho,
ed. Panda Books.
Em 29.7.2015.
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