sábado, 21 de maio de 2016

A CATADORA DE VIDRO

Uma família passava o dia na praia. As crianças tomavam banho de mar e faziam castelos na areia, quando, ao longe, uma velhinha surgiu. O cabelo grisalho e as roupas sujas e esfarrapadas esvoaçavam ao vento. Resmungava sem parar, enquanto apanhava coisas da areia e as colocava em um saco. Quando passou por eles, curvando-se de quando em quando para catar suas coisinhas na areia, sorriu para a família. O cumprimento, porém, não foi correspondido. Em silêncio, sem se deter, ela continuou seu caminho. Semanas mais tarde, em conversa com vizinhos, a família ficou sabendo que aquela velhinha dedicava seus dias a uma estranha cruzada. Ela recolhia caquinhos de vidro na praia, para que as crianças não cortassem seus pés. 
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Quando estamos diante de um objeto, fitamos apenas o que nos é possível ver, limitados não só pelo ângulo visual que nos é oferecido, mas também pela limitação de nossa própria percepção. Assim mesmo nos atrevemos a descrevê-lo, ignorando os lados que não nos são visíveis, acreditando que nossa descrição é perfeita, exata e indiscutível. Acreditamos piamente sermos senhores das verdades da vida. Do mesmo modo agimos quando se trata de analisar e julgar os outros e seus atos. Partimos de premissas decorrentes do nosso modo de ver a vida e de vivê-la e passamos a rotular, negativamente, aqueles que agem de modo diferente do nosso. Dessa prática frequente surgem conflitos e desentendimentos variados. Afinal, como saber quais as verdadeiras razões que movem os atos daqueles que cruzam nossos caminhos? Como conhecer que dores, que angústias, que sonhos, povoam suas almas e seus corações? Como condenar ou premiar gestos e palavras, se não sabemos quais são as reais intenções que as motivaram? Na condição de Espíritos imperfeitos, ainda em marcha evolutiva, por ora, não nos foi ofertado o poder de conhecer e entender verdadeiramente os outros. Sem esse conhecimento prévio, corremos sério risco de tecermos comentários levianos e de julgá-los equivocadamente. Tantas vezes acreditamo-nos superiores aos outros ­ tal como a família diante da catadora de vidro quando, na realidade, não tivemos, ainda, a grandeza suficiente para compreender e avaliar suas condutas. Pensemos nisso: Deus, nosso Pai, soberanamente justo e bom, conhece a nossa intimidade, sabe o que nos impulsiona, e nem por isso nos condena ou nos afasta de Seu convívio. Ama-nos e perdoa-nos sempre. Aguarda o momento em que cada um de nós se decida pela senda do bem e da verdadeira felicidade. Simplesmente assim. Busquemos imitá-lo, atendendo à exortação do Mestre Jesus: Sede perfeitos, como perfeito é vosso pai celestial. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto do livro Como atirar vacas no precipício, de Alzira Castilho, ed. Panda Books. Em 29.7.2015.

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