domingo, 8 de junho de 2025

MESTRES DO PERDÃO

DIVALDO PEREIRA FRANCO
Eram duas crianças a brincar. 
Amigos. Vizinhos. 
Um desfrutava de privilegiada situação social. 
Toda novidade em matéria de brinquedos lhe chegava, de forma rápida, às mãos. 
O outro era o amigo que, por conta justamente da amizade, desfrutava com alegria desses pequenos prazeres da infância.
Naquele dia, a novidade era um trem. Nada sofisticado. 
Mas um trem de cores vivas que, nas mãos dos garotos logo adquiriu vida. 
O trem ia de uma cidade a outra. Com rapidez. 
Recebia pessoas aqui, deixava outras ali. 
Transpunha distâncias em segundos, na imaginação fértil dos petizes, dando quase a volta ao mundo. 
A geografia não importava muito. 
Em um momento, estavam numa localidade. 
Em outro, tinham transposto o mar e se encontravam em outra. 
Assim seguia a brincadeira, até o momento em que o amiguinho resolveu que o trem deveria ficar mais tempo em suas mãos.
Afinal, o dono do trem o detinha em demasia. 
Ele fazia as viagens mais longas, mais emocionantes. 
À conta disso, começou uma discussão. 
-O trem é meu, então fico com ele tanto tempo quanto quero!
-Mas eu sou seu amigo e seu convidado! Você tem que me deixar dirigir o trem. 
E uma pequena disputa se travou. 
Os dois meninos agarraram o trem, cada um puxando de um lado. 
Puxa daqui, puxa dali. 
O dono do brinquedo puxou com mais vigor. 
Caiu e o brinquedo lhe bateu na fronte, ferindo-o de leve. 
Mas a dor da batida e um pequeno filete de sangue, que logo apareceu, fez com que o choro começasse. 
Acudiram mãe e pai. 
Ao ver o rosto do filho com um hematoma e o sangue, o pai se tomou de ira, gritou com o visitante, fez-lhe ameaças. 
O garoto ficou parado, sem entender muito bem toda a questão, pela rapidez com que tudo acontecera. 
O amigo chorava, machucado. 
O pai o colocou ao colo e ia se preparando para sair, rumo ao hospital. 
Afinal, pensava, era preciso verificar se algo mais grave não acontecera. 
Quando ia transpondo a porta, o ferido levantou o rosto que estava apoiado ao ombro do pai, enxugou as lágrimas e gritou para o amiguinho ainda atônito, sentado no chão: 
-Ei, não vá embora! Eu volto logo e vamos continuar a brincar.
Então, o pai se deu conta do estardalhaço que fizera por pouca coisa. 
Limpou o rosto do filho ele mesmo e o entregou de volta à brincadeira.
* * * 
O fato é mais corriqueiro do que se imagina. 
Em verdade, pequenas rusgas surgem entre as crianças.
Rusgas que parecem prestes a explodir em agressão. 
Entre os adultos, nos envolvemos em situações semelhantes, muitas vezes. 
Mas, deveríamos aprender com as crianças, esquecendo logo a dificuldade e retornando ao convívio da amizade ou do trabalho. 
Razão tinha mesmo Jesus ao nos dizer que deveríamos nos assemelhar às crianças para conquistarmos o Reino dos Céus. 
O Reino dos Céus que se traduz em paz e começa na intimidade de cada um. 
Redação do Momento Espírita, a partir de pequena história narrada por Divaldo Pereira Franco, no Encontro fraterno com Divaldo Pereira Franco, realizado em Guarajuba/BA, de 4 a 7 de setembro de 2010. 
Em 18.11.2010.

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