Duas meninas, uma de cinco, outra de sete anos, estavam sentadas à mesa, saboreando sua refeição da noite.
A menorzinha encontrou um grão de feijão na sopa, e disse para a outra:
-Quando eu tiver um grão de feijão, vou plantar no meu canteiro.
A outra acabou de engolir a suada, passou a colher na boca, e esclareceu:
-Feijão não tem sementes. A semente é ele mesmo.
A pequenina não entendeu. E disse:
-Então, como é que ele pode nascer, sem semente?
Depois de pensar um pouco, explicou a maiorzinha:
-Eu acho que é mesmo a terra que, um dia, vira feijão.
-Mas sem ter sorte nenhuma semente, antes?
-É, mesmo sem ter sorte. Ela vai se juntando, juntando, juntando, e fica assim... num grão.
E procurou pelo prato, para ver se encontrasse mais algum.
A menorzinha não se conformou muito com essa transformação abstrata.
Fui tomar uma sopa e pensar.
Depois de um pedaço de silêncio, reatou uma conversa:
-Olha, também pode ser assim: um homem faz uma bolinha pequenina, pequenininha de massa... Depois, pinta por cima. Fica o primeiro feijão. Depois, os outros nasceram...
A outra menina disse imediatamente:
-E como é que ele faz a massa?
-Pode ser com... batata.
-Mas batata não é feijão! – Concluiu a maior, voltando a tomar sua sopa, pensando um pouco mais no tema proposto.
As duas acompanhadas ali, sentadas, comendo devagar, sem solução para sua dúvida, e com as cabecinhas quentes, de tanto pensar, imaginar e questionar.
***
Seria salutar se pudéssemos manter, na idade adulta, essa curiosidade saudável e investigadora, que não se contenta com respostas superficiais.
Como nos faríamos bem se pudéssemos guardar na alma o hábito de fazer perguntas, de querer saber mais sobre tudo o que nos rodeia.
Qual o nome da árvore plantada em frente à nossa casa?
Quando florescem os ipês?
A que horas despertam os sabiás?
Em que época do ano o João-de-barro faz a sua casa?
Por que ele é um símbolo da Argentina?
E, principalmente, nos perguntamos para que nascemos?
Por que estamos neste planeta?
Por que existem tantas diferenças sociais?
E depois de se viver tanto tempo por aqui, para onde vamos?
Continuamos a existir?
Quem sabe, se a idade dos porquês nunca teve passado, teria evitado aceitar tantas verdades fabricadas , através dos anos.
Muitos nos deixam de questionar, de perguntar, aceitando tudo sem o processo indispensável do julgamento.
Outros fomos coagidos a não pensar, a simplesmente concordar com tudo, violentos naquilo que há de mais belo no Espírito: a liberdade de pensamento.
Sócrates foi proclamado um dos homens mais saudáveis de todos os tempos.
Ele tinha o hábito de questionar, de descobrir o que estava por trás das coisas e das ideias.
Precisamos conquistar essa sabedoria e desvendar o mundo de forma madura, encontrando as verdades eternas que nos farão cada vez mais felizes.
Se continuarmos aceitando que os feijões podem ser feitos de batata, estamos condenados à estagnação do intelecto e, por consequência, ao engessamento moral.
Pensar, indagar, buscar respostas, aprender sempre.
Redação do Momento Espírita, com base
sem limite. Como as crianças pensam, do livro
Crônicas de educação, de Cecília Meireles,
ed. Nova Fronteira.
Em 16.06.2025
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