quinta-feira, 23 de novembro de 2023

LIÇÃO DE VIDA

Os veículos de comunicação se esmeram em apresentar informações dos ídolos atuais. 
Suas vidas são vasculhadas e seus passos seguidos, fotografados, filmados. Informam aos fãs, com detalhes, os seus gostos alimentares, desejos mais secretos, intimidades. 
É de estranhar, no entanto, que quando algumas das chamadas desgraças terrenas os abatem, eles desaparecem do cenário e nada mais é comentado. 
Todavia, quantos deles manifestam sua força, seu valor verdadeiro em meio às dores e enfermidades terríveis que os acometem. 
Certa vez, lemos a respeito da batalha ferrenha que empreendeu um jornalista brasileiro que durante trinta anos manteve uma coluna diária em jornal. 
A doença foi diagnosticada e os médicos informaram que ele entraria em depressão. 
É o comportamento padrão, disseram. 
Convicto, ele afirmou: 
-Não me deixarei deprimir, nem um minuto. E também não cederei à revolta. Vou à luta. 
Amante da vida, viajara pelo mundo e conhecera da selva do Nepal às cidades mais belas e sofisticadas. 
Agora, a sua peregrinação ao hospital era pela cura. 
Aos cinquenta e seis anos e com a cabeça cheia de sonhos, ele imaginava que venceria. 
Queria ainda escrever a respeito da sua luta para vencer o fumo e o álcool. 
Poderia auxiliar pessoas. 
O tempo haveria de lhe estabelecer regras rígidas e lhe dizer que seu destino próximo era a morte. 
-Não tenho medo nenhum, comentou um dia. Pode parecer estranho, mas é assim. Deus tem sido generoso comigo e só me resta agradecer. Gostaria muito de conhecer o meu anjo de guarda. Afinal, ele tem sido um amigão. 
Os seus últimos dias foram um calvário. 
Entubado, por várias vezes, não podia falar. 
Bastava que lhe retirassem o tubo e ele falava, sereno. 
Brincava muito. 
Por diversas vezes foi desenganado. 
Mas ressurgia com energia e vigor, surpreendendo médicos e enfermeiras.
Jamais reclamou de coisa alguma. 
Nele sobrou coragem e dignidade. 
Quando uma amiga lhe disse que não conseguia acreditar que ele estivesse tão doente, pois o vira há pouco tempo tão bem, ele sorriu e disse: 
-Pois é, por fora belo, por dentro como pão bolorento. 
Nas horas finais, não podia quase falar. 
Somente escutava as frases de amor que sua esposa lhe dizia: 
-Estamos juntos há muitos anos. Vamos continuar outros tantos. Vá agora, amor, liberte-se. Busque a luz. Vá em paz. Você não desejava conhecer seu anjo de guarda? Chegou a hora. 
Ele partiu serenamente. 
Com esforço, balbuciou: 
-Amorzinho. 
Foi sua última palavra.
* * * 
A vida nos é dada para grandes coisas e a morte nos surpreende, por vezes, em meio à execução ou planejamento de ousados projetos. 
Ela não olha idade, sexo, cor da pele, crença religiosa. 
Aborda a todos e na hora estabelecida. 
Vivermos com sabedoria é nos prepararmos cada dia para viver a eternidade na carne, tanto quanto nos conscientizarmos de que a eternidade poderá ser vivida em outra dimensão, além da esfera física.
Afinal, ninguém morre. 
Somente troca de roupagem. 
Enfrentar a enfermidade, o anúncio da morte, requer coragem, muita fibra que somente a fé em Deus pode fornecer. 
Redação do Momento Espírita, com base no artigo O amorzinho... Merry XMas, da revista Seleções Reader´s Digest, dezembro de 1998. 
Em 31.1.2018.

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