sábado, 18 de novembro de 2023

LIÇÃO DE FELICIDADE

Foi num dia desses. 
Eram dois irmãos vindos da favela. 
Um deles deveria ter cinco anos e o outro dez.
Pés descalços, braços nus. 
Batiam de porta em porta, pedindo comida. 
Estavam famintos. 
Mas as portas não se abriam. 
A indiferença lhes atirava ao rosto expressões rudes, em que palavras como moleque, trabalho e filhos de ninguém se misturavam. 
Finalmente, em uma casa singela, uma senhora atenta lhes disse: 
-Vou ver se tenho alguma coisa para lhes dar. Coitadinhos. 
E voltou com uma caixinha de leite. 
Que alegria! 
Os garotos se sentaram na calçada. 
O menor disse para o irmão: 
-Você é mais velho, tome primeiro... 
Estendeu a caixa e ficou olhando-o, com a boca semiaberta, mexendo a ponta da língua, parecendo sentir o gosto do líquido entre seus dentes brancos. 
O menino de dez anos levou a caixa à boca, no gesto de beber. 
Mas, apertou fortemente os lábios para que nenhuma gota do leite penetrasse. 
Depois, devolveu a caixinha ao irmãozinho: 
-Agora é a sua vez. Só um pouco, recomendou. 
O pequeno deu um grande gole e exclamou: 
-Como está gostoso. 
-Agora eu, disse o mais velho. 
Tornou a levar a caixinha, já meio vazia, à boca e repetiu o gesto de beber, sem beber nada. 
-Agora você. 
-Agora eu. 
-Agora você. 
Depois de quatro ou cinco goles, talvez seis, o menorzinho, de cabelo encaracolado, barrigudinho, esgotou o leite todo.
Sozinho. 
Foi nesse momento que o extraordinário aconteceu. 
O menino maior começou a cantar e a jogar futebol com a caixinha. 
Estava radiante, todo felicidade. 
De estômago vazio.
De coração transbordando de alegria. 
Pulava com a naturalidade de quem está habituado a fazer coisas grandiosas sem dar importância. 
Observando aqueles dois irmãos e o Agora você, Agora eu, nossos olhos se encheram de lágrimas. 
Que lição de felicidade. 
Que demonstração de altruísmo. 
O maior, em verdade, demonstrou, pelo seu gesto, que é sempre mais feliz aquele que dá do que aquele que recebe.
Este é o segredo do amor. 
Sacrificar-se a criatura com tal naturalidade, de forma tão discreta, que o amado nem possa agradecer pelo que está recebendo. 
Enquanto os dois irmãos desciam a rua, cantarolando, abraçados, em nossa mente vários ensinos de Jesus foram sendo recordados. 
Fazer ao outro o que gostaria que lhe fosse feito. 
O óbolo da viúva. 
Amai-vos uns aos outros... 
* * * 
Coloca, nas janelas da tua alma, o amor, a bondade, a compaixão, a ternura para que alcances a felicidade. 
Amando, ampliarás o círculo dos teus afetos e serás, para os teus amigos, uma bênção. 
Faze o bem, sempre que possas. 
E, se a ocasião não aparecer, cria a oportunidade de servir.
Deste modo, a felicidade estará esperando por ti. 
Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria ignorada. 
Em 24.11.2016.

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