sábado, 4 de novembro de 2023

SEM REMORSO

Fábio William
Quantas vezes, ao sermos convidados para uma tarefa, uma conversa, afirmamos: 
-Não tenho tempo! Não posso falar agora. Estou ocupado. Não posso fazer isso. Estou sobrecarregado de atividades. Não posso... 
A pergunta seguinte seria nos questionarmos quantas vezes nos arrependemos dessa nossa atitude. 
Quantas vezes até choramos por não termos consagrado alguns minutos a alguém que desejava estar conosco, nos dizer algo. 
O depoimento de um psicólogo nos chamou muito a atenção.
Refere-se ele ao tempo em que estagiava na UTI do Hospital de Base de Brasília. 
Era um quase final de dia. 
Ele preenchia os relatórios dos pacientes. 
Estava apressado porque, dentro de quinze minutos, deveria entrar no seu emprego. 
Nunca chegara atrasado. 
E queria que isso nunca viesse a acontecer. 
Queria que todos o admirassem por ser aquele que sempre chegava na hora, responsável e ativo. 
Foi interrompido por uma enfermeira da ala pediátrica que lhe pediu para ir conversar com um garoto, que acabara de ser internado. 
A resposta de Fábio foi rápida. 
Ela poderia pedir para qualquer um dos outros estagiários da psicologia. 
Mas, todos já haviam completado seu turno. 
Não havia ninguém, além dele. 
Relutando, a princípio, decidiu ir até o leito do garoto. 
Pensou que não ficaria ali mais do que uns dois minutos.
O menino tinha dez anos e era portador de uma neoplasia maligna, câncer. 
Estava muito assustado, ligado a vários aparelhos. 
Dizia que estava com medo, com muito medo. 
Fábio pensou em acalmá-lo. 
Então, explicou para que servia cada um daqueles aparelhos a que ele estava conectado. 
A conversa foi evoluindo até o momento em que o paciente disse que gostava muito de desenhar. 
-Que legal, falou Fábio. Eu também gosto de desenhar. Hoje é sexta, mas na segunda, quando eu voltar para o meu estágio, vou trazer os meus desenhos para você ver. 
Haviam se passado nada menos do que sessenta minutos.
Uma hora rápida, ao ponto dele se esquecer de que entraria atrasado. 
E bem atrasado em seu emprego. 
Na segunda, conforme prometera, mal chegou, foi direto ao leito do garoto. 
Estava vazio. 
Procurou a enfermagem e perguntou se ele recebera alta.
-Não, foi a resposta. Ele morreu, no sábado. 
Fábio ficou chocado. 
A primeira coisa que lhe veio à mente foi: 
-Graças a Deus, eu vim falar com ele, vim acalmá-lo. Como eu me sentiria mal, agora, se não o tivesse atendido. Não tinha ideia de que ele morreria em poucas horas. 
*** 
Na vida, não temos como nos prevenir da tristeza, da mágoa, do medo, da desilusão. 
No entanto, podemos nos prevenir do remorso.
Por isso, se estivermos indecisos se vamos viajar para ver nossos pais, no final de semana em que poderíamos descansar, não adiemos a visita. 
Não sabemos por quanto tempo ainda estarão por aqui, com saúde, lúcidos. 
Se temos dúvidas se reataremos a amizade que rompemos em um dia de má vontade ou de má comunicação, façamos isso hoje, agora. 
Se temos desentendimentos com alguém, que perduram de algum tempo, vamos até ele. 
Desculpemo-nos mesmo que a culpa não tenha sido nossa.
Façamos isso. 
Livremo-nos do remorso antes que ele chegue. 
Redação do Momento Espírita, com base em relato de Fábio William, O garoto na UTI e o psicólogo na encruzilhada, colhido no https://www.instagram.com/fabiowilliamreal/ 
Em 3.11.2023.

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