terça-feira, 12 de setembro de 2023

LENDA DA ROSA ENCANTADA

Toda a riqueza e o conforto de que dispunha não faziam daquela jovem princesa uma pessoa plenamente feliz.
Faltava-lhe algo! 
Havia um imenso e angustiante vazio em sua vida. 
Aflita, a herdeira do trono mandou chamar um ancião, conhecido por sua sapiência. 
Confessou-lhe a sua inquietação e rogou-lhe ajuda. 
O velho sábio, afagando os cabelos da jovem, sorriu e lhe falou: 
-Está bem, Alteza, daqui a três luas nascerá no jardim, ao amanhecer, a mais bela flor que os seus verdes olhos já viram... Será uma rosa encantada que trará em si a beleza, o perfume e o encantamento que lhe darão a alegria de que sentis tanta falta. 
A jovem sorriu, agradecida. 
Mas o velho advertiu: 
-Tende cuidado! A flor é sua e cabe-lhe o dever de cuidar dela... Caso contrário, perder-se-á a flor... Perder-se-á o encanto! 
A jovem aguardava, ansiosa, o momento de conhecer a flor encantada... 
Todos os dias ela ia até o jardim, para ver se já não teria nascido a sua rosa... 
Entretanto, encontrava apenas as flores comuns. 
Mas, na data prevista, aos primeiros raios do amanhecer, fez-se um burburinho no jardim, bem sob a janela da jovem princesa. 
Ela, irritada, levantou-se e foi à sacada para pedir silêncio.
Mas, ao abrir a janela, viu, em meio à grama, o motivo do falatório: uma flor como jamais houvera antes naquelas paisagens! 
Era realmente uma flor sem igual! 
Não se assemelhava às outras, em nada: nem no tamanho, nem na cor, nem no aveludado de suas pétalas, nem em seu perfume... 
A jovem vestiu-se às pressas e desceu as escadarias a passos rápidos. 
Atirou-se de joelhos na grama, maravilhada com a beleza da flor... 
Beijou-lhe as pétalas suavemente, inalou seu perfume inefável. 
Ordenou ao jardineiro que lhe desse tratamento especial: o melhor adubo, a água mais fresca. 
Quase todo o reino foi chamado a conhecer a flor encantada, desde os súditos até Sua Majestade, o grande rei. 
Todos queriam ver a rosa de que se falavam tão grandes coisas. 
Por isso, a jovem mandou chamar a guarda, para que houvesse sempre um soldado ao lado da flor, evitando que alguém a maltratasse ou roubasse. 
Mesmo assim, muitos curiosos se amontoavam em torno da flor, observando-a, inalando o seu perfume, apreciando a sua beleza. 
Um dia, aborrecida com tantos visitantes, a princesa dispensou o soldado e aguardou o anoitecer. 
Quando a noite estendeu seu manto negro por sobre o castelo, ela voltou ao jardim e arrancou dali a sua rosa encantada. 
Levou-a para seu quarto e plantou-a num vaso de ouro cravado de gemas de valor, trabalhado pelo mais competente ourives de todo o reino. 
-Enfim - pensou a princesa, sorrindo - agora a rosa é só minha! 
E passou toda a madrugada acarinhando a flor. 
Não recebia criados, amigos, nem mesmo seus pais... 
Estava feliz! Finalmente, a rosa era sua! 
Todavia, logo ao cair da tarde daquele dia a flor começou a apresentar mudanças... 
Seu perfume alterou-se. 
Sua cor escureceu. 
Suas pétalas enrugaram. 
Todas as tentativas para reavivá-la foram em vão. 
Na manhã seguinte, a rosa estava morta! 
Infeliz, a jovem princesa chorou, tardiamente arrependida. 
* * * 
Diante da flor amada, fonte de alegrias de nossas vidas, o ciúme é sempre mau companheiro. 
Encantamo-nos com sua beleza, com seu perfume, com seu sorriso, com seu olhar, mas tentamos policiar-lhe os gestos, os pensamentos, as atenções. 
A beleza das nuvens, o encanto das borboletas, a perfeição da águia, a graça das estrelas, a formosura das ondas, devem-se à sua liberdade. 
Podemos capturar o pássaro, mas não a alegria do voo.
Podemos armazenar a água, jamais as ondas! 
A borboleta, aprisionada, morre! 
Aquele que ama o sorriso não exige semblante fechado. 
Vale sempre lembrar a máxima: 
Quem ama, liberta! 
Redação do Momento Espírita, a partir de adaptação do texto Lenda da rosa encantada, de autoria de Fábio Azamor. Disponível no livro Momento Espírita v.4, ed. Fep 
Em 06.02.2012.

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