sexta-feira, 22 de setembro de 2023

A ÚLTIMA VIAGEM

Era tarde da noite, quando o taxista recebeu o chamado. 
Ao chegar, ele pensou em buzinar e aguardar. 
Mas imaginou que alguém que chamasse o táxi, tão tarde, poderia estar com alguma dificuldade. 
Saiu do carro, foi até a porta e tocou a campainha. 
Uma senhora idosa, pequena, franzina, com um vestido estampado, abriu a porta. 
Equilibrava-se em uma bengala, e, na outra mão, trazia uma pequena valise. 
Ele olhou para dentro e percebeu que todos os móveis estavam cobertos com lençóis. 
Ele apanhou a mala e ajudou a passageira a entrar no táxi.
Ela forneceu o endereço e perguntou: 
-Podemos ir pelo centro da cidade? 
-Mas o caminho que a senhora sugere é o mais longo- observou o taxista. 
-Não tem importância, afirmou ela, resoluta. Não tenho pressa. Desejo olhar a cidade, pela última vez. Estou indo para um asilo, porque não tenho mais família e o médico me disse que morrerei breve. 
O taxista, que começara a dar partida, desligou o taxímetro, sutilmente. 
Olhou para trás, fixou-a nos olhos e perguntou: 
-Aonde mesmo a senhora gostaria de ir? 
Ele a levou até um prédio, na área central da cidade. Ela mostrou o edifício onde fora ascensorista, quando jovem.
Depois, foram a um bairro onde ela morou, recém-casada, com seu marido. 
Apontou, mais adiante, o clube onde dançou, com seu amor, muitas vezes. 
De vez em quando, ela pedia que ele fosse mais devagar ou parasse em frente a algum edifício. 
Parecia olhar na escuridão, no vazio. 
Suspirava e olhava. 
Assim, as horas passaram e ela manifestou cansaço: 
-Por favor, agora estou pronta. Vamos para o asilo. 
Era uma casa cercada de arvoredo e, apesar do horário, ela foi recepcionada, de forma cordial por dois atendentes. 
Ela se despediu do taxista. 
-Quanto lhe devo? 
-Nada, disse ele. É uma cortesia. 
-Você tem que ganhar a vida, meu rapaz! 
-Há outros passageiros, respondeu ele. 
Sensibilizado, a envolveu em um abraço afetuoso. 
Ela retribuiu com um beijo e palavras de gratidão: 
-Você deu a esta velhinha um grande presente. Deus o abençoe. 
Naquela madrugada, o taxista resolveu não mais trabalhar.
Ficou a cismar: 
-E se ele apenas tivesse tocado a buzina duas ou três vezes e ido embora? E se tivesse recusado a corrida, pelo adiantado da hora? E se tivesse querido encerrar o turno, de forma apressada, para ir para casa? 
Deu-se conta da riqueza que é ser gentil. 
Dois dias depois, retornou à casa de repouso. 
Desejava saber como estava a sua passageira. 
Ela havia morrido, na noite anterior.
* * * 
Por vezes pensamos que grandes momentos são motivados por grandes feitos. 
Contudo, existem coisas mínimas que representam muito para uma vida. 
O importante é estar atento, a fim de não perder essas ricas oportunidades de dar felicidade a alguém. 
Mesmo que seja um simples passeio pela cidade, uma ida ao cinema, uma volta pelo jardim, um bate-papo num final de tarde, atender um telefonema na calada da noite. 
Estejamos atentos para as coisas mínimas, os gestos quase insignificantes. 
Eles podem representar, para alguém, toda a felicidade.
Redação do Momento Espírita, com base em mensagem assinada por Don Rico e datada de 26.7.2005. 
Em 22.09.2023.

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