sexta-feira, 29 de setembro de 2023

DEIXAR A REDE E O BARCO

Khalil Gibran
Eu estava à margem do lago da Galileia quando vi pela primeira vez Jesus, meu Senhor e meu Mestre. Meu irmão André estava comigo. Jogávamos nossa rede nas águas. Como as ondas estavam altas e fortes, pegávamos poucos peixes. Isso nos entristecia. De repente, Jesus apareceu do nosso lado, como se tivesse Se materializado naquele mesmo instante, pois não O vimos se aproximar. Chamou-nos por nossos nomes e disse: 
-“Se me seguirdes, vos conduzirei a uma enseada cheia de peixes.” 
Ao olhar para Seu rosto, a rede caiu de minhas mãos, pois uma chama se acendeu dentro de mim e O reconheci.
-“Conhecemos todas as enseadas desta costa” – disse meu irmão André. 
-“Sabemos que num dia de vento como este os peixes buscam uma profundidade que está além do alcance de nossas redes.” 
-“Segui-me até a orla de um mar maior. Farei de vós pescadores de homens. Vossa rede jamais ficará vazia.”
Abandonamos nosso barco e nossa rede e O seguimos. Pessoalmente, fui atraído por uma força invisível que O acompanhava. Caminhei a Seu lado, com uma emoção de tirar o fôlego, completamente embevecido, e meu irmão André vinha atrás, impressionado. Enquanto andávamos na areia, tomei coragem e disse a Ele: 
-“Senhor, eu e meu irmão seguiremos Teus passos aonde quer que vás.” 
 * * * 
Pedro relata, emocionado, seu primeiro encontro com Jesus.
A sua humildade e de seu irmão deve ser exemplo para nós.
Eram pescadores experientes, conheciam aquelas águas e o comportamento dos peixes, mas, diante de Alguém Maior, simplesmente ouviram. 
Sentiram, no profundo da alma, que Aquele Visitante era diferente. 
E confiaram. 
Ele entendia de peixes, de oceanos, e muito mais. 
A pesca era a atividade de subsistência daqueles homens simples. 
Era tudo que possuíam para garantir a vida material da família e, mesmo assim, perceberam que a proposta dAquele Homem era muito maior. 
Será que estaríamos preparados para ouvir uma proposta como essa? 
Será que estaríamos preparados, hoje, para abandonar nossa rede e nosso barco e seguir Jesus? 
Não nos referimos aqui ao abandono do emprego, a deixar ao acaso os que dependem de nós, de forma alguma. 
Não é isso. 
É um outro tipo de deixar a rede e o barco. 
É muito mais uma atitude íntima de confiança, de dar prioridade a outras áreas da vida. 
Deixar a rede e o barco talvez possa ser entendido como dar mais valor às questões do Espírito do que às da matéria.
Fazer isso com ações, com ajustes nos passos, nas escolhas e no modo de viver. 
Não permitir que sejamos iludidos pelos valores impermanentes do mundo e seus tantos atrativos, que nos tomam muitas energias. 
Não permitir que as preocupações da esfera da subsistência material nos tire o sono refazedor, nos leve para longe dos nossos amores e nos prive de momentos tão valiosos da existência. 
Pensemos: se hoje recebêssemos essa proposta de deixar a nossa rede e o nosso barco, o que isso poderia significar para cada um de nós.
Lembrando que a proposta não vem de uma nova seita, de um modismo. 
Ela vem dAquele em Quem mais confiamos, nosso Exemplo e Guia: é uma proposta de Jesus. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. Simão, que foi chamado de Pedro, do livro Jesus, o filho do Homem, de Khalil Gibran, ed. L&PM 
Em 29.9.2023.

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