terça-feira, 29 de março de 2022

O SONO DA I NDIFERENÇA

Um dos relatos mais comoventes, quando se abordam as horas anteriores à prisão de Jesus, é a Sua solidão. Durante a ceia daquela quinta-feira, Ele fizera recomendações para o futuro e revelações do que aconteceria, logo mais. Seria de se esperar que os Apóstolos se mantivessem com olhos e ouvidos atentos, na sequência das horas. Saindo do local onde tivera lugar a comemoração pascal, Jesus se dirigiu para o Getsêmani, um jardim aos pés do Monte das Oliveiras. Calcula-se que tenha sido uma caminhada de uns dez minutos. Acompanhado de Pedro, Tiago e João, adentrou-se para o monte povoado de árvores frondosas, que convidavam ao pensamento contemplativo. Tornou a frisar que aqueles eram os Seus últimos momentos na Terra. E lhes pediu: 
-Orai e vigiai comigo, para que tenha a glorificação de Deus no supremo testemunho. 
Afastou-se, à pequena distância, mantendo-se em prece.
Reconhecendo que, se assim Jesus os convidava, para aquela derradeira hora, é porque confiava neles, dispuseram-se à vigília. No entanto, logo adormeceram. Foram despertados, pelo Mestre, que lhes perguntou por que não haviam permanecido em oração. E lhes narrou que fora visitado por um mensageiro do Pai, que O viera confortar para o sacrifício próximo. Apesar de mais essa extraordinária revelação, poucos segundos passados, os três tornaram a adormecer. Acordaram, finalmente, com os ruídos estranhos, a invasão dos soldados do templo, a prisão do Nazareno. Considerando a tristeza da flagelação, a sentença arbitrária, e morte na cruz, o Apóstolo João entrou a refletir maduramente sobre os acontecimentos do Getsêmani. 
-Por que dormira, ele, que amava tanto a Jesus? 
-Por que não pudera estar com Ele, naquela prece derradeira? 
-Por que não conseguira atender ao pedido do Amigo? 
O tempo passou sem que João conseguisse esquecer aquela falta de vigilância. Certa noite, numa atmosfera de sonho, em divino esplendor, Jesus o visitou e lhe falou das lições que deveriam ser extraídas daquele episódio. Disse da marcha solitária de quantos abraçam missões de amor. Sobretudo, falou a respeito do sono da indiferença, alertando para o Orar e vigiar. 
* * * 
Hoje, como naquele dia, muitos de nós cultivamos o sono da indiferença. 
Um terrível vírus se alastrou pela Terra, nos solicitando reformulação de atitudes, da maneira de viver. 
A pandemia nos exigiu mais respeito ao outro, à própria vida. 
Fomos convocados à vigilância, preservando-nos do contágio cruel. 
Vimos centenas de amores e amigos serem levados pela morte. 
Vimos empregos desaparecerem, negócios serem fechados, angústia e dor em todo o planeta. 
Vieram as vacinas, a bênção da recomposição da vida, como uma fugidia luz de esperança. 
Bastou uma breve pausa da corrida pandêmica, um arrefecimento da sua incidência, e retornamos aos mesmos velhos hábitos descuidados. 
Parece-nos que o Governador Planetário se achega e nos indaga: 
-Filhos da alma, tanta dor não os consegue manter atentos, despertos? Será que prosseguiremos imersos no sono da indiferença? 
É hora de despertar. 
Orar e vigiar. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap.27, do livro Boa Nova, pelo Espírito Humberto de Campos, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 28.3.2022.

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