Ser como as rosas, o céu sem fim,
a árvore, o rio... Por que não há
De ser toda gente também assim?
Ser como as rosas: bocas vermelhas
que não disseram nunca a ninguém
que têm perfumes... Mas as abelhas
e os homens sabem o que elas têm!
Ser como o espaço que é azul de longe,
de perto é nada... Mas quem vê
árvores, aves, olhos de monge...
Busca-o sem mesmo saber por quê.
Ser como o rio cheio de graça,
que move o moinho, dá vida ao lar,
fecunda as terras... e, rindo, passa,
despretensioso, sempre a cantar,
ou ser como a árvore: aos lavradores
dá lenha e fruto, dá sombra e paz;
dá ninho às aves; ao inseto flores...
Mas nada sabe do bem que faz.
Felicidade – sonho sombrio!
Feliz é o simples que sabe ser
como o ar, as rosas, a árvore, o rio:
simples, mas simples sem o saber.
* * *
É bastante curioso como nossos excessos de raciocínio, em muitas ocasiões, não passam de doidices da nossa mente, dominada por incompreensíveis doses de vaidade ou de orgulho.
Criamos, em nossa invigilância, certos padrões convencionais de conduta, que nos impedem qualquer acesso à verdadeira luz.
Dentro deles, cochilamos à maneira de pássaros aprisionados que encarcerassem as próprias asas em estreitas limitações.
Contudo, quando entendemos que a vida se renova, todos os dias, quando percebemos que todos os minutos constituem oportunidades de corrigir e aprender, auxiliar e redimir, entramos na posse da simplicidade real.
E sempre acessível à fixação de novos painéis de amor e sabedoria, paz e luz, em nosso íntimo.
Percebamos que as grandes almas que vieram ao mundo, desde Jesus, o Mestre Maior, passando pelos Seus discípulos mais dedicados, até os que atuaram em regiões do globo, na seara de outras crenças, todos cultivaram a simplicidade.
Não apenas a simplicidade do não apego aos bens materiais, mas a simplicidade na maneira de viver, de resolver as questões mais sérias da existência.
Em linguagem atual: Não complicaram a vida.
A inteligência desenvolvida, associada à moral ainda deficitária, por vezes, nos coloca em situações de complicações desnecessárias.
O orgulho adora o complexo, pois lhe alimenta a arrogância. E o complexo lhe parece sinal de envergadura espiritual, lhe dando a falsa noção de poder diante dos outros, fracos e simplórios.
Ledo engano. Armadilha dessa chaga que ainda consome as entranhas das nossas almas.
Por isso, a mensagem do simples sem o saber é preciosa. A simplicidade tem um quê de ingenuidade, de pureza de coração.
Dessa forma, guardemos o espírito de surpresa, diante do mundo. Diante da estrada que o Alto nos destinou, convertamos a nossa ligação com o Pai Celeste em laço essencial de nosso coração com a vida.
Estejamos convictos de que cada instante será, para nós, glorioso passo no conhecimento superior ou na direção do céu.
Tenhamos em mente o convite do Cristo: Simples como as pombas.
Redação do Momento Espírita, com transcrição do poema
Simplicidade, Felicidade, de Guilherme de Almeida, do livro
Poesia Brasileira para a Infância, de Cassiano Nunes e
Mário da Silva Brito, ed. Saraiva e com base no cap. X,
do livro Trilha de Luz, pelo Espírito Emmanuel, psicografia
de Francisco Cândido Xavier, ed. IDE.
Em 22.3.2022
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