segunda-feira, 24 de setembro de 2018

DOUTORAS

Certo dia, uma mulher chamada Anne foi renovar a sua carteira de motorista. Quando lhe perguntaram qual era a sua profissão, ela hesitou. Não sabia bem como se classificar. O funcionário insistiu: 
-O que eu pergunto é se tem um trabalho. 
-Claro que tenho um trabalho, exclamou Anne. Sou mãe. 
-Nós não consideramos isso um trabalho. Vou colocar dona de casa, disse o funcionário friamente. 
Uma amiga sua, chamada Marta, soube do ocorrido e ficou pensando a respeito por algum tempo. Num determinado dia, ela se encontrou numa situação idêntica. A pessoa que a atendeu era uma funcionária de carreira, segura, eficiente. O formulário parecia enorme, interminável. A primeira pergunta foi: 
-Qual é a sua ocupação?
Marta pensou um pouco e sem saber bem como, respondeu: 
-Sou doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas. 
A funcionária fez uma pausa e Marta precisou repetir pausadamente, enfatizando as palavras mais significativas. Depois de ter anotado tudo, a jovem ousou indagar: 
-Posso perguntar o que é que a senhora faz exatamente? 
Sem qualquer traço de agitação na voz, com muita calma, Marta explicou: 
-Desenvolvo um programa a longo prazo, dentro e fora de casa.
Pensando na sua família, ela continuou: 
-Sou responsável por uma equipe e já recebi quatro projetos. Trabalho em regime de dedicação exclusiva. O grau de exigência é de quatorze horas por dia, às vezes até vinte e quatro horas. 
À medida que ia descrevendo suas responsabilidades, Marta notou o crescente tom de respeito na voz da funcionária, que preencheu todo o formulário com os dados fornecidos. Quando voltou para casa, Marta foi recebida por sua equipe: uma menina com treze anos, outra com sete e outra com três. Subindo ao andar de cima da casa, ela pôde ouvir o seu mais novo projeto, um bebê de seis meses, testando uma nova tonalidade de voz. Feliz, Marta tomou o bebê nos braços e pensou na glória da maternidade, com suas multiplicadas responsabilidades. E horas intermináveis de dedicação. 
-Mãe, onde está meu sapato? 
-Mãe, me ajuda a fazer a lição? 
-Mãe, o bebê não para de chorar. 
-Mãe, você me busca na escola? 
-Mãe, você vai assistir a minha dança? 
-Mãe, você compra? 
-Mãe... 
Sentada na cama, Marta pensou: 
-Se ela era doutora em desenvolvimento infantil e em relações humanas, o que seriam as avós?  
E logo descobriu um título para elas: 
-Doutoras-sênior em desenvolvimento infantil e em relações humanas.
As bisavós:
-Doutoras executivas sênior. 
As tias:
-Doutoras assistentes. 
E todas as mulheres, mães, esposas, amigas e companheiras: 
-Doutoras na arte de fazer a vida melhor. 
 * * * 
No mundo em que os títulos são importantes, em que se exige sempre maior especialização, na área profissional, torne-se especialista na arte de amar. Como excelente mestra, ensine aos seus filhos, através do seu exemplo, a insuperável arte de expressar sentimentos. Ensine a difícil arte de interpretação de choro de bebê e de secar lágrimas de adolescente. Exemplifique a renúncia, a paciência e a diplomacia. E colha, vitoriosa, ao final de cada dia, os louros do seu esforço, nos abraços dos seus filhos e na espontaneidade de suas manifestações de afeto. 
Redação do Momento Espírita, com base em texto de autoria ignorada. Disponível no CD Momento Espírita, v. 18, ed. FEP. 
Em 18.7.2013.

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