segunda-feira, 30 de novembro de 2015

A TORRE DE BABEL

A Torre de Babel é mencionada no livro bíblico do Gênesis como uma torre enorme construída pelos descendentes de Noé, com a finalidade de tocar os céus. Deus teria supostamente se irado com a ousadia humana, e assim fez com que todos os trabalhadores da obra começassem a falar em idiomas diferentes, de modo a que não se pudessem entender. Sendo assim, quando um lhe pedia um tijolo outro lhe dava barro; e assim por diante, até que o desentendimento geral fez com que todos se separassem. Segundo o mito, esta história explicaria a origem dos idiomas da Humanidade. Todo mito contém informações muito interessantes, que por vezes nos ajudam a compreender a realidade de uma época, e por outras chegam a nos servir de reflexão atual, como neste caso. A suposta teoria de origem dos idiomas pode nos parecer absurda, mas podemos deixá-la de lado e prestar mais atenção à idéia do desentendimento, da confusão entre as pessoas. Poderíamos dizer então que continuamos a não nos entender em muitas questões. Nossas crenças religiosas, por exemplo, podem por vezes afirmar as mesmas coisas, de forma e com palavras diferentes apenas, e mesmo assim não conseguimos nos entender. Temos todos um mesmo Criador, mas pelo fato de O chamarmos de formas diversas, não nos vemos como irmãos. Lemos, por vezes, as mesmas lições, as mesmas passagens, mas não conseguimos ir além de nossa própria interpretação. Ficamos amarrados nas pequenas diferenças que nos separam, sem perceber as grandes afinidades que nos unem a todos no Globo. Falta-nos, em essência, humildade e fraternidade. Humildade que nos faz perceber que não somos donos de uma verdade imutável, absoluta. Humildade que nos faz ouvir a opinião do outro, e que a considera, que reflete sobre ela, antes de se posicionar decididamente contra. Humildade que se esforça para melhorar a comunicação com os outros, em nome da harmonia, da paz. O respeito é filho dileto da humildade. Dar a cada um o direito de pensar como quiser, de ser como lhe aprouver, é ato de respeito. A humildade nos faz combater idéias, sem precisar que entremos em embate pessoal em função dos pensamentos antagônicos. A fraternidade, pela essência da palavra, nos proclama a agir como irmãos. Agir como irmãos pressupõe amizade, consideração, carinho. Ser fraterno significa tolerar em nome do afeto. Significa estar disposto a ajudar e predisposto ao bem, sempre. A humildade e a fraternidade serão responsáveis pela conquista do entendimento nesta Babel dos dias de hoje. Cada um pode fazer a sua parte. Cada ação, a favor da fraternidade, da união, é importante e necessária. Se trabalharmos por não fazer de nosso lar, de nosso ambiente de trabalho, uma torre de desentendimentos, estaremos no rumo certo.
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O Codificador do Espiritismo fez aos Espíritos a seguinte pergunta: Procurando a sociedade, não fará o homem mais do que obedecer a um sentimento pessoal, ou há nesse sentimento algum providencial objetivo de ordem mais geral? Ao que eles lhe responderam: “O homem tem que progredir. Insulado, não lhe é isso possível, por não dispor de todas as faculdades. Falta-lhe o contacto com os outros homens. No insulamento, ele se embrutece e estiola." Homem nenhum possui faculdades completas. Mediante a união social é que elas umas às outras se completam, para lhe assegurarem o bem-estar e o progresso. Por isso é que, precisando uns dos outros, os homens foram feitos para viver em sociedade e não isolados... 
Texto da Redação do Momento Espírita, com base no item 768, de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb.

domingo, 29 de novembro de 2015

AVÓS

Uma avó, dizem, é uma mãe com açúcar. Um avô é um pai com doce de leite. Quase sempre os filhos se perguntam por que é que os seus pais, na qualidade de avós, deixam seus netos fazerem coisas que não permitiram a eles, filhos. Por que é que os netos, enfim, gostam, tanto da casa dos avós? Um garoto de seus nove para dez anos, escreveu certa vez: Uma avó é uma mulher velhinha que não tem filhos. Ela gosta dos filhos dos outros. Um avô é um homem-avó. Ele leva os meninos para passear e conversa com eles sobre pescaria e outros assuntos parecidos. As avós não fazem nada e por isso podem ficar mais tempo com a gente. Como elas são velhinhas, não conseguem rolar pelo chão ou correr. Mas não faz mal. Elas nos levam ao shopping e nos deixam olhar as vitrinas até cansar. Na casa delas têm sempre um vidro com balas e uma lata cheia de suspiros. Elas contam histórias de nosso pai ou nossa mãe quando eram pequenos, histórias da Bíblia, histórias de uns livros bem velhos com umas figuras lindas. Passeiam conosco mostrando as flores, ensinando seus nomes, fazendo-nos sentir o perfume. Avós nunca dizem “Depressa!”, “Já pra cama!”, “Se não fizer logo, vai ficar de castigo.” Normalmente, as avós são gordinhas, mas, mesmo assim elas nos ajudam a amarrar os sapatos. Quase todas usam óculos e eu já vi uma tirando os dentes e as gengivas. Quando a gente faz uma pergunta, a avó não diz: “Menino, não vê que estou ocupada!” Ela para, pensa e responde de um jeito que a gente entende. As avós sabem um bocado de coisas. As avós não falam com a gente como se fôssemos umas criancinhas idiotas, nem apertam nosso queixo dizendo “Que gracinha!”, como fazem algumas visitas. Quando elas leem para nós, não pulam pedaços das histórias, nem se importam de ler a mesma história várias vezes. O colo das avós é quente e fofinho, bom de a gente sentar quando está triste. Todo mundo devia tentar ter uma avó, porque são os únicos adultos que têm tempo para nós.
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Esta pode ser simplesmente a visão de um menino, mas convenhamos que contém muitas verdades. Os netos gostam dos avós porque eles são doces. Ao longo dos anos, amadureceram os sentimentos, e amam de uma forma mais serena, com doçura. Por isso fazem aos netos muitas coisas que não fizeram aos seus filhos. Também porque, quando se tornaram pais, eram jovens, inexperientes, estavam preocupados em sustentar a família, em educar bem os filhos, em tantas coisas que não lhes sobrava tempo para o que hoje fazem com seus netinhos. 
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Na educação dos nossos filhos, não desprezemos as experiências de nossos próprios pais que nos conduziram a vida, até os dias presentes, ensejando-nos ser homens e mulheres dignos. Bebamos da sua sabedoria e os tornemos nossos aliados, nesse extraordinário e maravilhoso processo que se chama educação. Processo que mais primoroso será quanto mais amor houver para ser dividido e multiplicado.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. O que é uma avó, de autor desconhecido, do livro Histórias para aquecer o coração das mães, de Jack Canfield, Mark Victor Hansen, Jennifer Read Hawthorne e Marci Schimoff, ed. Sextante. Em 24.9.2014.

sábado, 28 de novembro de 2015

AVISOS SURPREENDENTES

Richard Simonetti
Ele era médico no Interior e atendia, com zelo, sua clientela. Durante muitos anos, tratou de uma senhora viúva, cuja filha insistia para que fosse morar com ela, na capital. No entanto, Dona Margarida continuava a morar sozinha, em sua casa. Várias razões relacionava para essa sua preferência. A mais importante, justamente os cuidados que recebia do dedicado médico, em quem confiava plenamente e por quem nutria grande amizade. Certa feita, os familiares a levaram para a capital, em visita a parentes e amigos. Então, ela se sentiu mal e, de imediato, a filha telefonou ao Doutor Carlos, o médico da mãe. Para que fosse devidamente examinada e medicada, ele recomendou um colega, na capital. Passados alguns dias, quando Doutor Carlos chegou, pela manhã, bem cedo, ele viu à porta do consultório a sua cliente, sozinha. Cumprimentou-a, sorrindo e disse: 
-Bom dia, Dona Margarida, vejo que está muito bem! 
E ela respondeu: 
-É o que você pensa! 
Ele achou graça na sua expressão. Entrou ao consultório, que estava repleto, como sempre. Contudo, dada a idade avançada de Dona Margarida, instruiu a atendente para que a introduzisse, em primeiro lugar, para a consulta. Mas, a senhora não estava na sala de espera, nem do lado de fora, em lugar nenhum. Estranhou o fato o médico, mas envolveu-se na atenção aos tantos clientes que o aguardavam. Logo mais, chegou-lhe uma ligação telefônica. Era a filha de Dona Margarida informando-o que sua idosa cliente desencarnara, há dois dias. 
* * * 
Os que transpõem a aduana da morte, não apagam da memória as pessoas que lhe constituem afetos. Muito menos, olvidam de ser gratos. Por isso, fatos como o narrado ocorrem muito mais amiúde do que se possa pensar. Muitas criaturas, no momento mesmo da morte, lembram-se de alguém a quem devotam especial afeto e, não raro, aparecem à visão psíquica daquele. Popularmente, se fala: 
-Ele veio avisar que morrera. 
Em verdade, trata-se de um gesto de carinho, uma doce lembrança de quem parte e se encontra distante. Por vezes, um pedido de socorro daquele que se percebe em nova realidade da vida, fora do corpo físico. Quando anotados dia e hora do acontecido, se poderá constatar, posteriormente, que coincidem com a hora da morte desse que assim se mostrou à visão psíquica. Essa é mais uma prova da Imortalidade. Uma prova de que o corpo sucumbe, mas a alma, liberada, livre, vai aonde se encontre o seu interesse. Já nos ensinara o Mestre, há muito tempo: Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração. Ou seja, onde estiver o nosso amor, aí estaremos. Não nos esqueçamos disso e permaneçamos atentos. Em tais ocasiões, envolvamos em prece o Espírito do amigo, parente, colega, que assim se manifestou. Oração é luz, aconchego, proteção. É nossa forma de, igualmente, agradecer o aviso ou de auxiliar a quem, por vezes, é convidado a se transferir para o mundo espiritual, em pleno vigor e atividade física. Redação do Momento Espírita, com base no artigo Um choque de realidade, de Richard Simonetti, da Revista Reformador, de junho 2012, ed. Feb. Em 8.11.2012.

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

AVISOS DO ALTO

Narra-se que Chico Xavier estava parado defronte ao correio, conversando com seu irmão André, quando um policial passou por perto e, colocando o braço direito sobre seu ombro, lhe disse:
-Muito obrigado, Chico!
E foi andando. Chico ficou intrigado com aquele agradecimento. Não podia atinar com a causa. À tarde, ao regressar do serviço, viu defronte a um bar um bloco de trabalhadores da fábrica e, no meio deles, o guarda que o abraçara pela manhã. Passou mais perto e observou que o guarda tentava a­partar uma briga entre dois irmãos, que se desentenderam por coisas de somenos importância. O policial, vendo inúteis seus esforços e porque a discussão já se generalizava, envolvendo todo o bloco, tirou da cintura o revólver e ia usá-lo para impor sua autoridade. Chico, mais que depressa, chegou perto e pediu-lhe:
-Calma, meu irmão.
O guarda voltou-se contrariado mas, reconhecendo Chico, como que envergonhado do seu ato, parou de súbito e exclamou:
-Muito obrigado, Chico!
Controlou-se, usou da palavra, aconselhou e o bloco foi desfeito com o arrefecimento dos ânimos... À noite, indo Chico para o Centro Espírita, encontrou-se com o oficial novamente:
-Chico, ia procurá-lo e agradecer-lhe, muito de coração, o bem que você me fez, por duas vezes.
-Por duas vezes? Como?
-Anteontem sonhei com você, que me dizia: "Cuidado, não saia de casa carregando arma à cintura como sempre o faz. Evite isso por uns dias..." Por isso é que lhe disse, hoje, pela manhã: "Obrigado, Chico!" Referia-me ao sonho, ao seu aviso. Mas me esqueci de atendê-lo. Saí armado e, se não fosse o concurso de nossos amigos espiri­tuais na hora justa, teria feito hoje uma grande bobagem. Poderia até ter matado alguém... Mas a lição ficou, Chico. Muito obrigado, Deus nos ajude sempre! 
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O fato mostra, primeiramente, como Chico era um instrumento da paz neste mundo. Visitando o amigo em sonho e depois o salvando, pessoalmente, de se comprometer seriamente com a vida. Também mostra como ainda ignoramos mensagens claras de alerta, de aviso, que buscam nos preservar de problemas maiores na existência. A espiritualidade se utiliza dos sonhos, das intuições e até dos que estão ao nosso redor para nos dar recados, para nos trazer advertências preciosas. Só quem está com os pensamentos em equilíbrio e com a alma tranquila, consegue ouvir e se aproveitar dessas oportunidades inigualáveis. Aqueles que estamos nervosos, afundados em ódios e pensamentos negativos, tornamo-nos surdos a qualquer bom conselho que possa nos ser dado. Os Espíritos influenciam muito nossos pensamentos e atos. Escolher que conselhos vamos ouvir, que influências, boas ou más, iremos nos permitir, é escolha apenas nossa. Utilizemos nossa sensibilidade. Prestemos maior atenção às intuições. Paremos, sempre que possível, elevando o pensamento em oração e perceberemos que podemos receber muito mais ajuda do que imaginamos.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 48, do livro Lindos casos de Chico Xavier, de Ramiro Gama, ed. Lake. Em 7.8.2012.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

UM AVISO DE DEUS

Rachel Naomi Remen
Quando andamos descuidados pela Terra, o bom Deus nos envia algumas mensagens, a fim de nos lembrar dos grandes objetivos da existência terrena. Uma das formas de que Se utiliza o Criador é a enfermidade. Ela chega em momentos muito especiais, convidando-nos a reflexões. Por vezes, andamos tão envolvidos com tantas coisas que deixamos de perceber e, consequentemente, de receber as bênçãos que nos rodeiam. Não paramos e nem abrimos espaço para as acolher. Nossa vida está tão repleta que não sobra lugar para abrigar as bênçãos da família, dos amigos, das criaturas que se importam conosco. Uma dessas pessoas era Larry. Sua vida era somente trabalho, cinquenta ou sessenta horas por semana. Viagens constantes. E, quando estava em casa, continuava conectado ao trabalho, recebendo noite adentro as mensagens pelo correio eletrônico. Comia e bebia de forma irregular. Não tinha tempo para conversar com os filhos. Nem um momento tranquilo com a mulher. Sua energia era toda canalizada para o trabalho. Quando o câncer o visitou, ele sentiu que a vida estava se esvaindo. Submeteu-se ao tratamento quimioterápico. Oito meses depois, o câncer retornou e ele necessitou de um transplante de medula. A esposa permaneceu sempre a seu lado, dando-lhe forças, sustentando-o e, da mesma forma, amparando os filhos pequenos. Quando, finalmente, Larry sentiu-se livre da enfermidade, acreditou que o mais importante na vida não era ganhar dinheiro e resolveu se dedicar a causas ambientais. Acabou adotando o mesmo esquema de vida. Logo, sua mulher e filhos, sentindo-se sozinhos, acabaram criando uma vida da qual ele não fazia parte. Ele nem conseguia se lembrar de quando havia tomado a última refeição com a família. E jamais dormia sem ligar o despertador. Feriados, fins de semana, dias úteis, tudo era a mesma coisa. Brincar com os filhos? Levá-los ao cinema? Desfrutar de uma peça teatral com a esposa? O que era isso? Sair para dançar? Um passeio a dois? Nem pensar! Ele se transformara de um executivo empreendedor em um homem que desejava servir à vida. Só que se esquecera de um princípio fundamental do verdadeiro ato de servir. Algo que é ensinado inúmeras vezes, a bordo de aviões. Minutos antes da decolagem, a tripulação alerta: Em caso de despressurização da cabine, máscaras de oxigênio cairão da parte acima de sua cabeça. Coloque primeiro a sua própria máscara e depois ajude a pessoa ao seu lado. Servir se baseia na premissa de que toda vida é digna de apoio e dedicação. E se servir exige sacrifício, é bem verdade que exige muito mais uma boa administração do tempo para que os amores mais amados, o próximo mais próximo não seja abandonado, esquecido. 
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Quando a enfermidade chega e cada dia de vida na Terra passa a ser uma vitória, meditemos na importância de prosseguir no corpo físico, ao lado dos nossos amores. Um dia, que pode estar perto ou longe, os haveremos de abraçar pela última vez e retornar à pátria espiritual, onde ficaremos a aguardá-los. Vivamos de tal forma, dedicando-lhes a atenção de que necessitam, a fim de que se a morte nos surpreender, no próximo dia, não tenhamos que levar na bagagem o peso enorme do remorso. Redação do Momento Espírita, com base no cap. 1, do livro As bênçãos do meu avô, de Rachel Naomi Remen, ed. Sextante. Em 7.4.2015.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

UM AVISO NA NOITE

Léon Denis
Era o ano de 1908. Um navio de guerra inglês fazia um cruzeiro nos Mares do Sul. O comandante, encerrado em seu camarote, fazia cálculos algébricos, a giz, no quadro-negro. Depois, sentou-se à mesa para passar ao papel todos os seus cálculos. Quando se voltou, para ler a última anotação que fizera, viu aparecer uma mão que tomou da esponja e apagou o que estava no quadro. Assombrado, viu aparecer o antebraço e depois, a pouco e pouco, como algo nebuloso se tornou visível: era um homem, uniformizado. De imediato, ele reconheceu um dos seus antigos companheiros de escola, oficial da Marinha, como ele, e que não via desde alguns anos. Notou que o oficial estava envelhecido. A figura tomou um pedaço de giz, escreveu uma latitude, uma longitude, e depois desapareceu. Tão logo se dissipou o assombro que o tomara, o comandante chamou seus oficiais e lhes referiu o que acabava de presenciar. Mostrou as indicações escritas no quadro-negro e que não eram os seus algarismos. De comum acordo, anotaram data e hora. E todos, obedecendo a um mesmo sentimento, decidiram rumar, a todo vapor, para o ponto do oceano indicado no quadro. Cinco dias depois chegaram ao local determinado, em pleno mar, a milhares de milhas de toda costa. E fora das rotas de navegação. No dia seguinte, o sexto dia, avistaram ao longe alguma coisa que flutuava, como um ponto negro no horizonte claro. Verificaram se tratar de uma jangada, feita de tábuas apenas reunidas. Sem víveres, sem água, agonizavam ali três pessoas. Resgatadas, após 48 horas, puderam falar. Eram os únicos sobreviventes do naufrágio de um grande navio que se tinha incendiado e soçobrado em pouco tempo. O oficial que aparecera no navio de guerra era o seu comandante. O naufrágio ocorrera no ponto assinalado pelo fantasma e exatamente na hora que ele havia aparecido ao amigo. Tudo estava anotado no diário de bordo do comandante do navio de guerra. E se concluiu que, no exato momento em que estava a morrer nas chamas, o oficial, preocupado, com certeza, com a tripulação e demais passageiros, buscara socorro. Encontrou no amigo a possibilidade de se manifestar e deixar o seu recado. * * * O fato não é único, nem tão insólito como pode parecer. Histórias de Espíritos que se manifestam na hora da morte a amigos e parentes, existem às centenas. São chamados de fantasmas por muitos. O que ocorre é que a alma se exterioriza, se apresenta em sua forma fluídica, aparecendo à distância. O grande motor em tudo isso é a vontade. Ao contrário do que pretendem alguns, a alma é um ser real, independente dos órgãos físicos. Por isso, pode exercer sua ação fora dos limites do corpo. Pode transmitir a outros seres seus pensamentos, suas sensações. E mesmo, pode se desdobrar e aparecer em uma forma fluídica, se assim o deseja. Pensemos nisso e concluamos outra vez pela grandeza dessa trindade que é o homem. Criado por Deus, recebe um corpo de carne com o qual se movimenta no mundo. Dispõe de um corpo fluídico, forma original do corpo físico e de uma alma, o ser pensante e atuante.
Redação do Momento Espírita com base no cap. 12, pt. 2, do livro No invisível, de Léon Denis, ed. Feb. Em 16.10.2008.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O AVISO

Existem pessoas que, por sua forma natural de agir, conquistam os demais. Algumas são tão estimadas pelas crianças que passam a ser chamadas de tias, vovôs, sem terem qualquer laço de parentesco. Assim era com o senhor Raul. Ele fora, durante anos, o professor de História na maior escola daquela cidade. Aposentado, afeiçoado às crianças e à cultura, ofereceu-se como voluntário na biblioteca pública. Idealista e idealizador, criou um pequeno espaço, no andar térreo, próximo ao setor de livros infantis, a que denominou o cantinho das histórias. Todas as tardes, durante um período previamente marcado, ali ficava ele, a encantar os pequenos com suas histórias. Com o passar dos meses, o número de visitas à biblioteca foi se tornando maior. Em especial as crianças e, de preferência, na hora das histórias de vovô Raul. Na proximidade do Natal, o bom professor começou a cogitar o que de melhor poderia fazer para comemorar, com a comunidade, o nascimento de Jesus. Recordou, então, do que fizera Francisco de Assis, no século treze. Por isso, buscou amigos e conhecidos, solicitou ajuda, em recursos e mão de obra, e deu início ao cenário do nascimento do Cristo. Todos se entusiasmaram com o projeto. Não faltaram voluntários. Ergueu-se o que deveria parecer um estábulo, colocou-se a manjedoura, a palha, criou-se um ambiente rústico no pequeno canto destinado às histórias do vovô Raul. Às vésperas do dia de Natal, Raul recolheu-se tarde, após verificar que tudo estava em ordem. Já estavam escolhidos os personagens que, no dia seguinte, dramatizariam o nascimento do menino Jesus. Nenhum detalhe fora esquecido e sabia-se que grande parte da comunidade acorreria ao evento. Naturalmente, em horários diversos, pois o ambiente não comportava todos de uma única vez. Mal se deitara, Raul teve a impressão de escutar uma voz que lhe dizia para trocar o local da dramatização para o lado oposto, nos fundos da sala. Por mais que tentasse conciliar o sono, aquilo não lhe saía da mente. Tanto o atormentou que ele mal dormiu. Levantou-se pela madrugada e foi chamar os seus voluntários para proceder à mudança. Não conseguia saber porque, mas devia fazer aquilo. Era algo dentro dele que falava alto. Um tanto cansados, mas respeitosos, concordaram os auxiliares em realizar a mudança do cenário para os fundos da sala, no lado oposto. Quando a comemoração atingia o auge e a sala se encontrava repleta, um estrondo ensurdecedor se fez ouvir. Todos se voltaram para o cantinho das histórias, de onde vinha o ruído, e viram aterrorizados um ônibus desgovernado adentrar à biblioteca derrubando prateleiras e livros, parando a poucos passos de onde eles se encontravam. Foi então que vovô Raul entendeu que foi a Providência Divina, sempre solícita para com os Seus filhos, que lhe inspirou, com insistência, a idéia de realizar a mudança e, na sua intimidade, orou ao divino Pai, agradecendo. 
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Muitas vezes, os Espíritos benfeitores nos alertam, através da inspiração, das dificuldades e tropeços que podem ser evitados. Todas as criaturas são desta forma auxiliadas, mas que nem todas se apercebem. Existem mesmo as que levam tudo à conta de superstição e crendice, esquecidas de que Deus vela por todos, continuamente, providenciando o socorro devido nas mais diversas ocasiões. 
Redação do Momento Espírita. Em 29.01.2009.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

AUXÍLIO MÚTUO

ARTHUR JOVIANO
NEIO LÚCIO
Em zona montanhosa, através de região deserta, caminhavam dois velhos amigos, ambos enfermos, cada qual a defender-se, quanto possível, contra os golpes do ar gelado, quando foram surpreendidos por uma criança semimorta, na estrada, ao sabor da ventania de inverno. Um deles fixou o singular achado e exclamou, irritadiço: Não perderei tempo. A hora exige cuidado para comigo mesmo. Sigamos à frente. O outro, porém, mais piedoso, considerou: Amigo, salvemos o pequenino. É nosso irmão em humanidade. Não posso, - disse o companheiro, endurecido -, sinto-me cansado e doente. Este desconhecido seria um peso insuportável. Temos frio e tempestade. Precisamos chegar à aldeia próxima sem perda de minutos. E avançou para diante em largas passadas. O viajor de bom sentimento, contudo, inclinou-se para o menino estendido, demorou-se alguns minutos colando-o paternalmente ao próprio peito e, aconchegando-o ainda mais, marchou adiante, embora menos rápido. A chuva gelada caiu, metódica, pela noite adentro, mas ele, amparando o valioso fardo, depois de muito tempo atingiu a hospedaria do povoado que buscava. Com enorme surpresa porém, não encontrou aí o colega que havia seguido à frente. Somente no dia imediato, depois de minuciosa procura, foi o infeliz viajante encontrado sem vida, numa vala do caminho alagado. Seguindo à pressa e a sós, com a idéia egoísta de preservar-se, não resistiu à onda de frio que se fizera violenta e tombou encharcado, sem recursos com que pudesse fazer face ao congelamento. Enquanto que o companheiro, recebendo, em troca, o suave calor da criança que sustentava junto do próprio coração, superou os obstáculos da noite frígida, salvando-se de semelhante desastre. Descobrira a sublimidade do auxílio mútuo... Ajudando ao menino abandonado, ajudara a si mesmo. Avançando com sacrifício para ser útil a outrem, conseguira triunfar dos percalços do caminho, alcançando as bênçãos da salvação recíproca. 
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As mais eloquentes e exatas testemunhas de um homem, perante o Pai Supremo, são as suas próprias obras. Aqueles que amparamos constituem nosso sustentáculo. O coração que amparamos constituir-se-á agora ou mais tarde em recurso a nosso favor. Ninguém duvide. Um homem sozinho é simplesmente um adorno vivo da solidão, mas aquele que coopera em benefício do próximo é credor do auxílio comum. Ajudando, seremos ajudados. Dando, receberemos: esta é a Lei Divina. Redação do Momento Espírita, com base no cap. 16 do livro Jesus no lar, pelo Espírito Neio Lúcio, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. Feb. Disponível no CD Momento Espírita, v. 1, ed. Fep. Em 11.01.2010.

domingo, 22 de novembro de 2015

AUTORIDADE

ALLAN KARDEC
O desejo de ocupar posições de destaque e relevância é bastante comum. A vida dos poderosos do mundo costuma ser idealizada pelas multidões. Eles aparecem ricamente trajados, em festas ou em situações de regalo e desfrute. Quem leva uma vida modesta e obscura, não raro, almeja trocar de lugar com essas importantes figuras. Muitos se inquietam e desgastam com sonhos de grandeza. Quando comparam as suas vidas com as de alguns outros, ficam amargurados e tristes. Chegam a se achar injustiçados pela Divindade, haja vista a escassez de suas posses. Mas opulência e modicidade de recursos refletem apenas diferentes formas de aprendizado. A vida modesta tem grande valor, se levada a efeito com dignidade e sem murmurações. Ela viabiliza a correção de graves vícios espirituais, como vaidade e apego a bens materiais. Não se trata de fazer apologia da miséria como estado ideal. A miséria é uma chaga social que deve ser extirpada, mediante educação e oferta de oportunidades aos que a sofrem. Mas entre a miséria e a opulência há uma miríade de situações intermediárias. Nem todos podem ser ricos e poderosos ao mesmo tempo. Por isso, as posições sociais e econômicas se alternam ao longo das encarnações. Com respeito aos talentos e às inclinações de cada um, todos são chamados a viver as mais variadas situações. O relevante é ser digno, operoso e solidário, qualquer que seja a própria realidade. A vida dos poderosos, muitas vezes, nada tem de invejável. Sob a aparência de brilho e abastança, jazem pesadas responsabilidades. Elas são tão mais pesadas porque guardam o condão de influenciar a vida de incontáveis pessoas. O detentor de autoridade, da espécie que seja, sempre terá de dar contas do uso que dela fez. Ela nunca é conferida por Deus para satisfazer ao fútil prazer de mandar. Não é direito e nem propriedade, mas uma importante e perigosa missão. O poderoso tem almas a seu cargo e responderá pela boa ou má diretriz que der aos seus subordinados. Após o término da tarefa, ele será confrontado com a própria consciência. Analisará os recursos de que dispunha e o uso que deles fez. Então, verificará se evitou todos os males que podia. Pensará se fez todo o bem que lhe era possível. Vislumbrará o resultado de sua influência junto a inúmeros que dele dependiam ou nele se espelharam. Bem se vê que a autoridade não deve ser levianamente buscada. Se a vida o projetou a posições de relevo, seja digno e faça o seu melhor, para não se arrepender amargamente. Mas se a sua vida é modesta, não se amargure. Tudo vem a seu tempo e é melhor ser digno no pouco do que indigno e desgraçado no muito. Pense nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no item 9 do cap. XVII de O evangelho segundo o espiritismo, de Allan Kardec, ed. Feb. Em 14.10.2008.

sábado, 21 de novembro de 2015

AUTORIDADE x RESPONSABILIDADE

Quanto pesa a responsabilidade de um cargo? Observa-se que muitos perseguem nomeações para cargos e disputam, com ardor, lugares que lhes conferirão autoridade sobre outros. Contudo, quando assumem postos de comando se esquecem dos objetivos reais para os quais foram ali colocados, passando a agir em seu próprio favor. Tal posição nos recorda a história de um homem que foi nomeado mandarim, uma espécie de conselheiro na China. Envaidecido com a nova posição, pensou em mandar confeccionar roupas novas. Seria um grande homem, agora. Importante. Um amigo lhe recomendou que buscasse um velho sábio, um alfaiate especial que sabia dar a cada cliente o corte perfeito. Depois de cuidadosamente anotar todas as medidas do novo mandarim, o alfaiate lhe perguntou há quanto tempo ele era mandarim. A informação era importante para que ele pudesse dar o talhe perfeito à roupa. Ora, perguntou o cliente, o que isso tem a ver com a medida do meu manto? Paciente, o alfaiate explicou: A informação é preciosa. É que um mandarim recém-nomeado fica tão deslumbrado com o cargo que anda com o nariz erguido, a cabeça levantada. Nesse caso, preciso fazer a parte da frente maior que a de trás. Depois de alguns anos, está ocupado com seu trabalho e os transtornos advindos de sua experiência. Torna-se sensato e olha para diante para ver o que vem em sua direção e o que precisa ser feito em seguida. Para esse costuro um manto de modo que fiquem igualadas as partes da frente e a de trás. Mais tarde, sob o peso dos anos, o corpo está curvado pela idade e pelos trabalhos exaustivos, sem se falar na humildade que adquiriu pela vida de esforços. É o momento de eu fazer o manto com a parte de trás mais longa. Portanto, preciso saber há quanto tempo o senhor está no cargo para que a roupa lhe assente perfeitamente. O homem saiu da loja pensando muito mais nos motivos que levaram seu amigo a lhe indicar aquele sábio alfaiate, e menos no manto que viera encomendar. 
* * * 
Cargos e funções são sempre responsabilidades que nos são oferecidas pela Divindade para nosso progresso. Não há motivo para vaidade, acreditando-se superior ou melhor que os outros. Quando Pilatos assegurou a Jesus que tinha o poder de vida e morte, e que em suas mãos estava o destino de Suas horas seguintes, o Mestre alertou-o dizendo: Procurador, a autoridade de que desfrutas não é tua; foi-te concedida e poderá ser-te retirada. De fato isso veio a acontecer. Apenas poucos anos após a morte de Jesus, o poder de Roma retirou do Procurador da Judéia, Pôncio Pilatos, toda a autoridade. Ele perdeu o cargo, o prestígio, e tudo que acreditava fosse eterno em suas mãos. * * * Toda autoridade deve se centralizar no amor e na vida exemplar, a fim de se fazer real. A autoridade de que nos vejamos investidos deve ser exercida sem jamais ferir a justiça. No desempenho dos nossos deveres, recordemos que só uma autoridade é soberana: aquela que procede de Deus, por ser a única legítima. 
Redação do Momento Espírita, com base em artigo publicado na Revista Brasil Rotário, edição nº 913 – julho/1998 . Disponível no livro Momento Espírita, v. 1, ed. Fep e no CD Momento Espírita, v. 5, ed. Fep. Em 02.03.2009.

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

AUTOPERDÃO E AÇÃO RESPONSÁVEL

Alírio de Cerqueira Filho
Suponhamos que a cada reencarnação recebemos do Criador um canteiro com uma terra muito fértil, para plantar flores, durante toda nossa vida. Nascemos com as sementes das flores mas, ao invés de plantá-las, arranjamos sementes de espinhos e as semeamos, enchendo nosso canteiro de espinheiros. Vamos plantando os nossos espinhos, até o dia em que olhamos para trás e percebemos um grande espinheiro. Então, podemos ter três atitudes diferentes: 
Se cultivamos o culpismo, devido ao remorso de não ter plantado as flores que deveríamos, simplesmente nos condenamos a deitar e rolar no espinheiro para nos punirmos, tentando aliviar a consciência de culpa. 
Se somos pessoas que cultivamos o desculpismo, começamos a dizer que foi o vento que trouxe as sementes de espinhos, que não temos nada a ver com isso, etc. 
Finalmente, se buscamos a ação responsável, ao perceber o espinheiro, assumimos tê-lo plantado e arrependemo-nos do fato. Depois, percebemos que as sementes das flores continuam em nossas mãos e que podemos começar a plantá-las, agora que estamos mais conscientes. 
Ao mesmo tempo sabemos que devemos retirar, um a um, todos os espinhos plantados e plantar uma flor no seu lugar. 
* * * 
Reflitamos sobre as três atitudes: De que adianta cravar os espinhos plantados na própria carne? Por que aumentar o sofrimento? Por acaso os espinhos diminuem quando agimos assim? A verdade é que não. De nada adianta. Este é o mecanismo dos que nos afundamos na culpa e deixamos que ela comande nossas vidas. Substituir os atos de desamor praticados à vida com mais desamor ainda para conosco mesmos não resolve e não cura. Por outro lado, pensando naqueles que ainda conseguimos achar desculpa para todo e qualquer desatino, por mais absurdo que ele pareça, veremos: Os que fingimos que o espinheiro não tem nada a ver conosco, apenas estamos postergando o despertar da consciência. Agindo assim, muitas vezes continuamos plantando mais e mais espinhos, fazendo com que o estrago fique cada vez maior. O hábito de sempre encontrar desculpas e justificativas para todas nossas ações tem caráter doentio e precisa de atenção imediata de nossa parte. O ego, em fuga desastrosa, procura justificar os erros mediante aparentes motivos justos. Tal costume degenera todo senso moral e pode nos levar a desequilíbrios psicológicos seríssimos. Apenas a última opção, a da ação responsável, é caminho seguro. É uma atitude proativa, pois ao assumir a responsabilidade pelos espinhos plantados, arrependemo-nos e buscamos substituí-los pelas flores. Nesse ato cobrimos a multidão de pecados, conforme o ensino da Epístola de Pedro, referindo-se ao poder de cura do amor. Assim crescemos, aprendemos e ressarcimos à Lei maior. 
* * * 
Sempre que cometermos erros, procuremos nos autoperdoar, atendendo à proposta da ação responsável, que troca o peso da culpa pela carga educativa da responsabilidade. 
Redação do Momento Espírita com base no cap. 3 da obra Psicoterapia à luz do Evangelho de Jesus, de Alírio de Cerqueira Filho, ed. Ebm. Em 29.11.2011.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

O AUTOPERDÃO

Mitch Albom
Não existe sentido em ficar curtindo vingança ou teimosia. Guardar mágoa, nem se fale. Em verdade, tudo isso é fruto do nosso orgulho e da nossa vaidade. Ocorre muito que a pessoa, no seu leito de morte, chame os desafetos para pedir perdão. Um velho professor contou, certa vez, que ele tinha um grande amigo. Chamava-se Norman. Juntos, passeavam, nadavam. Um dia, Norman resolveu fazer um busto do amigo. Levou-o para sua casa e fez um rosto em bronze daquele homem de seus quarenta e quatro anos. O trabalho levou semanas porque Norman desceu a detalhes. Até colocou uma mecha de cabelo caída na testa. Depois de determinado tempo, Normam e a esposa se mudaram para outra cidade. E a esposa do amigo, logo depois, precisou fazer uma cirurgia delicada. Norman e a esposa nunca entraram em contato com eles. Souberam da cirurgia de Charlotte, mas não telefonaram, nem telegrafaram. Nada. O amigo e a esposa ficaram muito sentidos. Acharam aquela indiferença bastante dolorida e cortaram relações. Com o passar dos anos, o amigo encontrou Norman algumas vezes. Toda vez Norman tentava a reconciliação mas o outro não aceitava. Norman explicava, mas a explicação não satisfazia. A mágoa era muito grande e o orgulho falava alto. O tempo passou e, um dia, abrindo o jornal, o amigo leu a notícia da morte de Norman. Ele morrera de câncer. O amigo levou um choque. Nunca fora vê-lo. Nunca o perdoara. E uma onda de remorso começou a tomar conta daquele homem. Chorou muitas lágrimas. Que poderia fazer agora? Por que não o perdoara? Por que não ouvira com o coração as explicações de Norman? Já estaria ele doente naquela época, em que tudo aconteceu? Todas as perguntas ficaram sem resposta à exceção de uma. O que ele poderia fazer? E isso ele aprendeu com o tempo. Que não é só aos outros que precisamos aprender a perdoar. É preciso aprender a se perdoar também. Perdoar-se por tudo que não se fez. Por tudo o que se deveria ter feito. Importante é não permanecer preso ao remorso do que aconteceu ou que devia ter acontecido. Isto nada adianta para a pessoa. É preciso fazer as pazes consigo mesmo e com os que nos cercam. 
* * * 
Todos com certeza já cometemos muitos erros com nossos amigos, amores e colegas. O importante é não deixar o tempo se escoar sem nada fazer. Buscar aquele que magoamos ou que nos magoou e ter uma boa conversa. Franca, amiga, sincera e reatar amizades e afeições. Afinal, é tão pouco tempo que passamos sobre a Terra que não vale a pena cultivar inimizades, dissabores. As questões mais importantes na vida são as que dizem respeito ao amor, à responsabilidade, espiritualidade e sensibilidade. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Falamos de perdão, do livro A última grande lição: o sentido da vida, de Mitch Albom, ed. Sextante. Em 28.01.2012.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

AUTONOMIA NAS AÇÕES

John Powell
Conta um escritor que, certo dia, acompanhou um amigo até à banca de jornais onde ele costumava comprar o seu exemplar diariamente. Ao se aproximarem do balcão, seu amigo cumprimentou amavelmente o jornaleiro e, como retorno, recebeu um tratamento rude e grosseiro. Seu amigo pegou o jornal, que foi jogado em sua direção, sorriu, agradeceu e desejou um bom final de semana ao jornaleiro. Quando ambos caminhavam pela rua, o escritor perguntou ao seu amigo: 
-Ele sempre o trata assim, com tanta grosseria? 
-Sim, respondeu o rapaz, infelizmente é sempre assim.  
-E você é sempre tão polido e amigável com ele? 
Perguntou novamente o escritor. 
-Sim, eu sou. 
Respondeu prontamente seu amigo. 
-E por que você é educado, se ele é tão grosseiro e inamistoso com você? 
-Ora, respondeu o jovem, por que não quero que ele decida como eu devo ser. 
E você, como costuma se comportar diante de pessoas rudes e deseducadas? Importante questão esta, que nos oferece oportunidade de refletir sobre a nossa maneira de ser, nas mais variadas situações do dia a dia. É comum as pessoas justificarem suas ações grosseiras com o comportamento dos outros, mas essa é uma atitude bastante imatura e incoerente. Primeiro, porque se reprovamos nos outros a falta de educação, temos a obrigação de agir de forma diferente ou, então, somos iguais e nada temos a reclamar. E se já temos a autonomia para nos comportar educadamente, sem nos fazer espelho de pessoas mal-humoradas deveremos ter, igualmente, a grandeza d'alma para desculpar e exemplificar a forma correta de tratar os outros. Se o nosso comportamento, a nossa educação, dependem da forma com que somos tratados, então não temos autonomia, independência, liberdade intelectual nem moral para nos conduzir por nós mesmos. Quando agimos com cortesia e amabilidade diante de pessoas agressivas ou deseducadas, como fez o rapaz com o jornaleiro, estaremos fazendo a nossa parte para a construção de uma sociedade mais harmoniosa e mais feliz. O que geralmente acontece é que costumamos refletir os atos das pessoas com as quais vivemos, sem nos dar conta de que acabamos fazendo exatamente o que criticamos nos outros. Se as pessoas nos tratam com aspereza, com grosseria ou falta de educação, estão nos mostrando o que têm para oferecer. Mas nós não precisamos agir da mesma forma, se temos uma outra face da realidade para mostrar. Assim, lembremos sempre que, quando uma pessoa nos ofende ou maltrata, o problema é dela, mas quando nós ofendemos ou maltratamos, o problema é nosso. Por isso, é sempre recomendável uma ação coerente avalizada pelo bom senso, ao invés de uma reação impensada que poderá trazer consigo grande soma de dissabores. 
* * * 
Se lhe oferecem grosseria, faça diferente: seja cortês. 
Se o tratam com aspereza, responda com amabilidade. 
Se lhe dão indiferença, doe atenção. 
Se lhe ofertam mau humor, retribua com gentileza. 
Se o tratam com rancor, responda com ternura. 
Se o presenteiam com o ódio, anule-o com o amor. 
Agindo assim, você será realmente grande, pois quanto mais alguém se aproxima da perfeição, menos a exige dos outros.
Redação do Momento Espírita, com base em história de John Powell. Disponível no livro Momento Espírita v. 5, ed. Fep. Em 06.03.2012.

terça-feira, 17 de novembro de 2015

AUTÓGRAFO DE DEUS

Autógrafo é a assinatura original, de próprio punho, do autor de alguma obra. Assinam seus quadros os pintores. No entanto, melhor do que a sua assinatura, o que diz se o quadro é verdadeiramente daquele pintor é o seu estilo. Quem quer que se aprofunde pelo conhecimento da arte, poderá, ao admirar uma tela, afirmar do seu autor. E identificar, inclusive, se for o caso, a que período da vida artística daquele pintor corresponde. Quem escreve um livro, define-se por uma forma de escrever e, a partir daí passará a ser conhecido. Naturalmente, coloca seu nome na obra. Mas, mais do que isso, identifica-se pelo estilo e a forma com que desenvolve o seu pensamento, ao transpô-lo para o papel. Cada artista tem sua maneira peculiar de se identificar no seu trabalho. E é assim que ele é conhecido e admiradas as suas produções, através dos tempos. Quando nossos olhos se extasiam ante a prodigalidade da natureza; quando nossos ouvidos se deliciam com os sons dos rios cantantes, com o murmúrio da fonte minúscula, com as águas que descem pelas encostas, despejando-se ruidosamente de alturas; quando o vento flauteia uma canção entre os ramos ou agita com violência o arvoredo; quando o sol se pinta de ouro e tudo enche de luz por onde se espraia; quando o céu se faz de tonalidades mil, indefiníveis, num amanhecer indescritível; quando tudo isso acontece, todo dia, a cada dia... procuramos o autor. E a assinatura. O inacreditável do grandioso e das coisas minúsculas, tudo obedecendo a idêntico esmero, diz-nos da qualidade do artista. A diversidade de tons, de sons nos fala de um Alguém superlativamente criativo, pois que há bilhões de anos não reprisa um pôr de sol, nem o cristal da gota de orvalho, nem a combinação dos gorjeios da passarada. Cada dia tudo é diferente. O sol retorna, as nuvens se espreguiçam, a pradaria se estende, alongando sua colcha de retalhos de cores diversas, bordadas cá e lá de flores miúdas... Mas nada é igual. As folhas nas árvores estão em número maior ou menor, a sinfonia das águas acabou de ser composta, os pássaros balançam-se em outras ramagens. Sim, o artista responsável pelo concerto do dia e da noite é extraordinário. Os homens afirmam que jamais O viram. Mas todos podem admirar Sua obra. Mesmo aqueles que Lhe negam a existência. Esse artista inigualável assina a delicadeza das manhãs com o pincel da madrugada. Podemos descobrir Seu autógrafo na tela do firmamento, no brilho das estrelas. Podemos descobrir Sua escrita nas flores dos campos, dos jardins, das montanhas. Ele é tão grande que a tela onde cria as Suas maravilhas vive em expansão. Mas onde esse artista coloca Sua mais especial assinatura é na essência de cada um dos filhos que criou. Ela está em cada um de nós e se chama Imortalidade. Pense nisso. Você é o mais especial autógrafo de Deus. 
Redação do Momento Espírita. Disponível no CD Momento Espírita, v. 16 e no livro Momento Espírita, v. 9, ed. FEP. Em 15.7.2015.

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

AUTOENGANO

O ser humano é hábil na arte de autoenganar-se. Movido pela própria fraqueza ou pela vontade de autoiludir-se, inventa mil maneiras de ficar bem consigo mesmo, usando recursos falsos. Existe aquela pessoa que está sempre atrasada e não tem vontade de se corrigir e por isso lança mão de um artifício de autoengano, adiantando o próprio relógio para não perder mais a hora. Algumas, por saber que o relógio está adiantado, dorme mais um pouco e acaba se atrasando do mesmo jeito. Outras acreditam na própria mentira e se levantam alguns minutos antes. Há pessoas que, na tentativa de suprir suas carências e insatisfações, buscam envolver-se mais e mais com pessoas que lhes preencham o vazio interior. Enganam-se a si mesmas, pois essa eterna busca só acontece por causa da insatisfação. Uma pessoa feliz não precisa dessa busca desenfreada por companhia. É, como se diz, uma pessoa bem resolvida. Autoconfiante, segura do que quer e do que faz. Outra maneira de autoenganar-se são as dietas, prescritas por médicos ou não. Pessoas portadoras de diabetes, por exemplo, que estão proibidas de comer açúcar e o fazem às escondidas... A quem pensam estar enganando, senão a si mesmas? Se uma pessoa decide fazer um regime para perder peso e come, às pressas, algum alimento que não consta na lista, quando não tem ninguém olhando, está se autoenganando. Se alguém nos ofende e passamos a nutrir por esse alguém grande ódio, estamos nos iludindo com a ideia de que, ingerindo veneno, prejudicaremos o nosso agressor. O corrosivo do ódio destrói primeiro quem o fabrica. As táticas de autoengano são muitas e sempre demonstram a inferioridade de quem as utiliza. É, no mínimo, infantilidade acreditar nas próprias mentiras. Ademais, a prática da autoilusão retarda o progresso do ser e o infelicita, ainda mais. Aquele que pensa ser livre para fazer o que quiser e quando quiser, sem ter que prestar contas dos seus atos, está se autoenganando, pois a Justiça Divina não isenta ninguém de colher os frutos do que semeou. Há pessoas para as quais o autoengano chega a tal ponto, que dizem: Se eu morrer um dia... Nem imaginamos o que as faz pensar que viverão eternamente no corpo físico, pois até Matusalém, o personagem que, segundo a lenda, teria durado novecentos e sessenta e nove anos, morreu um dia. Existem pessoas que realmente acreditam que a morte jamais as escolherá e vivem a ilusão de que não precisam pensar no que lhes vai acontecer do outro lado do túmulo. Pessoas que pensam assim perdem a oportunidade de viver conscientemente e cruzar a aduana do túmulo com a lucidez de um ser imortal. Quando a morte chega, as encontra como crianças que brincam de viver e vivem a autoilusão de que não há horizontes além do plano físico. Por todos esses motivos, vale a pena retirar o véu intencionalmente colocado sobre a própria razão. Como afirmou Jesus de Nazaré: É preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir. E se Jesus fez essas observações é porque não basta ter olhos e ouvidos. É preciso querer ver e ouvir. E isso depende da vontade de cada um. Como diz o ditado popular: A pior das cegueiras é a daquele que não quer ver. Pense nisso! E não esqueça de consultar sempre a própria consciência, com desejo sincero de evitar possíveis táticas de autoenganar-se. 
Redação do Momento Espírita. Em 10.09.2012.

domingo, 15 de novembro de 2015

AUTODESARMAMENTO

Muitos têm sido os esforços empregados para se conseguir o desarmamento infantil. Uma situação que até bem pouco tempo não era percebida, ou era ignorada, agora é alvo da preocupação de pessoas e instituições filantrópicas. Foi preciso que várias desgraças se sucedessem para despertar a atenção da sociedade para essa triste realidade. Pais que até então fomentavam o arsenal dos filhos com armas de brinquedo, perderam o controle, desde que os filhos começaram a buscar nos arsenais dos próprios pais, armas que não são de brincadeira, para brincar de mocinho e bandido. Mas como a educação depende do exemplo, chegou-se à conclusão de que era preciso desarmar também os pais, e criou-se uma lei que considera crime o porte ilegal de armas. Assim, tirando a arma de pais e filhos, ou de adultos e crianças, pensa-se que o problema estará resolvido. Será que estará resolvido mesmo? Será que basta tirar a arma das mãos de alguém para desarmá-lo? Se fossem eliminadas todas as armas da face da Terra, ainda assim nós continuaríamos armados uns contra os outros, pois a violência está dentro do indivíduo que é violento. Quantas pessoas que jamais tocaram numa arma e já destruíram tantos sonhos e esperanças, pela forma agressiva de ser! Basta olharmos nos olhos de muitas das nossas crianças para perceber o quanto estão armadas. O olhar agressivo, os gestos brutalizados, o comportamento irreverente e inconsequente, dão mostra de quão armados continuam nossos filhos, mesmo sem empunhar uma arma. O mesmo ocorre com os adultos, pois é desses que as crianças copiam a maneira de ser. Pais que se dirigem aos filhos sempre aos berros, que atiram as coisas com brutalidade, batem portas, esmurram mesas são exemplos vivos de violência, sem porte de armas. Genitores que agridem os filhos até a morte, pois fazem das mãos e pés verdadeiras armas. Todas as medidas coercitivas tendem ao insucesso quando não acompanhadas de medidas educativas de profundidade, de conscientização dos indivíduos. Se o porte ilegal de armas é crime, a violência é imoral e contrária às leis de Deus. 
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É importante que nos dediquemos ao desarmamento infantil, começando por nos desarmar interiormente, empreendendo esforços por domar a fera que insiste em permanecer em nossa intimidade. Agindo assim, perceberemos que em pouco tempo mudaremos a feição da sociedade. Pois se a violência é geradora de violência, a paciência, que é a ciência da paz, fomentará a paciência. 
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Não basta tirar a arma de alguém para desarmá-lo. Quem quer agredir não depende de armas, lança mão de qualquer objeto ao seu alcance. É preciso que o nosso comportamento seja harmonioso e complacente. É imperioso que nos desarmemos intimamente. Agindo assim, daremos o exemplo às crianças que passarão a nos imitar os gestos e, mesmo com uma arma na mão, não agredirão a ninguém, já que lhes faltará o impulso para tanto. Empreendamos assim, uma campanha de autodesarmamento, de desarmamento interior, e lograremos êxito em muito pouco tempo. Redação do Momento Espírita. Em 15.07.2009.

sábado, 14 de novembro de 2015

AUTOAMOR

Muito se tem falado, nestes tempos, sobre o autoamor. E muitos ainda não sabem o que realmente seja o autoamor, confundindo-o com egoísmo, com vaidade. O autoamor nada tem a ver com esses sentimentos doentios, que deixam transparecer que, no íntimo da pessoa, prevalece o medo, a insegurança, em razão dos conflitos que ainda carrega em si. O egoísta não se ama. Ele ama a posse, as suas paixões, os seus desequilíbrios. No entanto, o amor verdadeiro é o combustível da vida. É ele que nos sustenta na caminhada do progresso que almejamos. O amor é de essência Divina, é o sentimento mais sublime que se pode conceber. Reclama-se da falta de amor verdadeiro na face da Terra, porque muitos esperam apenas receber amor, poucos se dispõem a vivenciá-lo, a doá-lo. Muitos nem sequer sabem que aquele que não se ama, não consegue amar a ninguém, pois não se dá daquilo que não se tem. Jesus recomendou que amássemos ao próximo como a nós mesmos. Como fazer isso, quando não se possui o parâmetro do amor a si mesmo? Muitos pensam que o amor deve ser buscado lá fora, mas é dentro de si mesmo que está a fonte desse recurso. Deus é Pai de amor e bondade, e como filhos Seus, todos possuímos essa semente, esperando ser cultivada para germinar. Cada qual deve desenvolver a chance de deixar crescer e florescer o amor que traz em si. Quando a criatura se ama, ela se respeita, se valoriza, aprende a selecionar atitudes e escolhas que lhe façam bem. Quanto mais se ama, mais se desliga de crenças, de dependências, de pessoas e situações prejudiciais. Autoamor dá equilíbrio interior, propicia crescimento intelectual, espiritual, emocional, moral. O autoamor nos detém ante vícios e abusos de qualquer ordem. O autoamor permite engrandecimento e sublimidade nos projetos de vida. Para isso, importante buscar o autoconhecimento, avaliar posturas, sentimentos, ações, e mudar o que precisa ser mudado. A meditação, por alguns minutos diários, permite essa viagem interior. Descobre-se que a maioria dos problemas que se enfrenta não está nos outros, mas no nosso próprio íntimo. A meditação permite que se observe, em nós, as causas e as soluções para os nossos problemas. Percebe-se então, quem realmente somos, e o que precisamos mudar em nosso interior, propiciando oportunidades de crescimento. Mesmo que nos assustemos com o que somos, fujamos da culpa e do remorso. O autoperdão é fundamental nesse processo. É importante a aceitação de quem somos para podermos realizar a autotransformação. Usemos o momento atual para agir acertadamente, trabalhando a melhoria que almejamos. A Doutrina Espírita alerta para que sejamos hoje melhores do que fomos ontem, e amanhã, melhores do que somos hoje. Conhecendo-nos, nos aceitando, nos melhorando, acabaremos por nos amar. Em nos amando, estaremos habilitados a amarmos ao próximo conforme a Lei nos pede. Amando-nos e amando ao próximo, perto estaremos de amar a Deus! 
Redação do Momento Espírita. Em 14.11.2015.
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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

O AUTO CONHECIMENTO

Allan Kardec, Codificador do Espiritismo, perguntou aos Espíritos: Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir à atração do mal? Os Benfeitores da Humanidade responderam: Um sábio da Antiguidade vo-lo disse: Conhece-te a ti mesmo. A Doutrina Espírita mostra-nos o caminho que devemos percorrer para conseguirmos esse intento: o autoconhecimento. A caminhada, portanto, é em sentido contrário ao que temos buscado até agora. É para dentro de nós mesmos, e não no exterior. Alguns de nós não nos conhecemos, não fazemos idéia de quem somos, de qual será o nosso comportamento diante de determinada situação. Enfim, somos um ilustre desconhecido de nós mesmos. Pelo desconhecimento dos nossos sentimentos, às vezes tomamos atitudes equivocadas, que nos causam desagrado tão logo nos damos conta do ocorrido. Uma senhora afirmava sempre que, se um dia fosse assaltada, ficaria imobilizada, petrificada; que certamente não teria forças para reagir. A sua amiga, por sua vez, dizia que reagiria, que se fosse preciso lutaria, mas não deixaria barato não. Um dia, ambas estavam conversando na calçada. Um garoto passou e levou a bolsa daquela que disse que reagiria. Ela ficou paralisada. A outra, que afirmara que ficaria imobilizada, saiu correndo atrás do menino, dando-lhe com a sua bolsa nas costas e gritando para que devolvesse a bolsa da amiga. O menino, que não esperava tal reação, jogou a bolsa no chão e se foi, pois achou melhor salvar a própria vida. Isso prova que ambas desconheciam suas tendências, pois diante do inesperado tiveram reações contrárias às que afirmavam que teriam. Muitos de nós também nos desconhecemos, não costumamos fazer uma análise profunda da nossa intimidade. Assim, facilmente nos surpreendemos conosco mesmo diante de situações inusitadas. Para sabermos quanto de orgulho e egoísmo, piores chagas da sociedade, ainda carregamos em nós, basta que nos observemos com sinceridade, nos pequenos atos do quotidiano, que perceberemos com clareza. Observando a nossa reação diante da indiferença de um amigo, do pouco caso que fazem de um trabalho que executamos, do penteado ou da roupa que vestimos, ou quando alguém nos chama à atenção. Cada pessoa é um Universo que precisa ser descoberto, para que possa fazer brilhar a luz que jaz latente no seu íntimo. Todos somos lucigênitos, filhos da luz, pois o Criador, que é a Luz Suprema, assim nos fez a todos. Se perscrutarmos com atenção nossa intimidade, perceberemos que já temos muitas conquistas, mas que ainda nos falta dar alguns passos para que brilhe de fato a nossa luz. É só uma questão de tempo e de disposição. 
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Santo Agostinho, um dos Pais da Igreja, colaborou na Codificação da Doutrina Espírita. A resposta a que nos referimos no início foi dada por ele. Recomenda que cada um de nós faça como ele fizera quando viveu na Terra. A cada noite ele fazia uma análise de como fora o seu dia. Questionava-se se fizera alguma coisa contra Deus, contra seu próximo e contra ele próprio. E sempre buscava corrigir o que precisava ser corrigido, buscando ser a cada dia melhor que no dia anterior. 
Redação do Momento Espírita, com base no item 919 de O livro dos Espíritos, de Allan Kardec, ed. Feb. Disponível no CD Momento Espírita, v. 1, ed. Fep. Em 11.01.2010.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

AUTO-SUPERAÇÃO

Você já se sentiu, alguma vez, a pessoa mais incapaz da face da terra? É até possível que tenha acontecido por mais de uma vez, não é mesmo? E por que será que isso acontece? Vamos refletir um pouco sobre essa questão. Considere, em primeiro lugar, que você é uma pessoa única, não existe ninguém no universo igual a você. Você tem uma soma de experiências só suas. Tem sentimentos únicos e tem limites que são só seus. Então, é provável que ao tentar superar outra pessoa, tenha a sensação de que não é capaz e se frustre. Se uma pessoa muito ligada a você, por exemplo, inicia um curso qualquer, e você não tem o mínimo talento para essa atividade, sente-se inferior. Se um amigo começa um regime para emagrecer, e você está se sentindo um pouco acima do peso, faz o mesmo regime e não perde uma única grama, sente-se a pessoa mais infeliz. Se, na academia que freqüenta, as pessoas ao seu redor fazem proezas enquanto você apenas faz tentativas vãs, a vontade de desistir é quase inevitável. Essas, entre tantas outras situações, podem ocasionar desestímulo e sensação de fracasso. No entanto, ao admitir que você é um ser único, e não há no universo ninguém igual a você, todas as frustrações desaparecem. Você, ao invés de olhar ao redor, tentando superar os outros, buscará conhecer suas próprias possibilidades, talentos e limitações, e buscará superar a si mesmo. E então, cada conquista, ainda que mínima, será uma vitória real. Considere que você, e somente você, deve servir de parâmetro quando se trata de conquistas próprias. As conquistas dos outros são dos outros, e todos tiveram ou têm limitações a superar ou talentos conquistados com os próprios esforços. Não há dúvida que podemos almejar determinadas conquistas que outros já possuem, mas não devemos querer tê-las prontas. Cada esforço deve ser envidado com lucidez, pela auto-superação, e não pela superação dos outros. Sempre existe algo que você faz melhor que os outros e algo que os outros fazem melhor que você, e isto não é motivo para desanimar. A verdadeira grandeza está justamente em reconhecer essa realidade e aceitá-la com maturidade. Embora haja um forte apelo social para que acreditemos que somos uma massa uniforme, que devemos seguir determinados padrões, nós continuamos a ser indivíduos únicos. Reflita sobre essas questões e tenha uma conversa consigo mesmo. Analise-se com carinho e atenção, para conhecer seus limites e tente superá-los, sem neuroses. Conheça seus talentos e reforce-os, sem pretensões descabidas. Busque a auto-superação e não a superação dos outros. Cresça de forma efetiva, para ser a cada dia melhor que no dia anterior. Melhor que você mesmo, e não melhor que os outros. Não há clones de você e tampouco você é clone de alguém, por mais que se pareça fisicamente com outra pessoa. Nem mesmo irmãos gêmeos estão nivelados nas experiências. Cada um tem seus limites e potencialidades singulares. Pense nisso! Você é um espírito ímpar. Pode até imitar muito bem outras pessoas, mas ainda nisso você será sempre inigualável. Seu perfume espiritual é único. Suas emoções são intransferíveis. Deus criou você para que seja você mesmo, ninguém mais. Pense nisso, e busque vencer os próprios limites para ser cada dia melhor que na véspera. 
TC 11/11/2006 Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

AUTÊNTICA CORAGEM

Há muita falta de coragem nos dias que correm. Não a coragem que significa bravura em face de um grande perigo qual foi a do lendário Teseu, na Grécia, que se decidiu a enfrentar o terrível Minotauro, na ilha de Creta, para libertar o seu povo da maldição que lhe impusera o rei Minos. Esse rei, como represália pela morte de seu filho na Grécia, em circunstâncias estranhas, jamais explicadas, passou a exigir a cota anual de sete moças e sete moços dos mais belos e requisitados de Atenas para servirem de pasto ao seu monstro, afinal enfrentado e derrotado por Teseu, filho do rei Egeu. Falamos da coragem de assumir os próprios erros, de tomar posturas frente a situações, qual seja a paternidade responsável. Quantos, em nome de preconceitos ou comodismo, não o tem feito. Coragem é definida também como a defesa do que é justo, correto, verdadeiro. Quantos temos essa coragem? Recordamos de Jesus, postando-se ao lado da mulher adúltera e, por reconhecer que o julgamento era injusto, arbitrário, pois somente apresentava um dos réus, a defende. Não pelo seu ato, pois lhe recomenda que não torne a repeti-lo, convidando-a a uma nova vida nobre e digna. Mas defende, em verdade, a reforma de uma lei, com seu gesto e suas palavras, motivando os homens de então a uma séria reflexão e revisão dos conceitos vigentes.
Coragem tamanha teve Gandhi, o líder indiano, tomando a defesa de seu povo, lutando pelo que acreditava correto e verdadeiro. E frise-se, uma luta sem sangue, sem guerra. Foi luta de ideias, demonstrando fortaleza moral. Tudo para libertar o seu povo do domínio inglês. E o conseguiu. Coragem semelhante teve, nos Estados Unidos, Rosa Parks, uma mulher negra. Cansada das humilhações porque passavam ela e os seus irmãos, naquele país, resolveu lutar. Sua luta resumiu-se a se negar ceder o lugar no ônibus para os brancos, simplesmente pelo fato de ela ser negra e assim dizer a lei. Enfrentou os que estavam no ônibus, o motorista, tudo. Permaneceu sentada, dizendo dos seus direitos como ser humano que trabalhava, havia pago sua passagem, como todos os demais, estava cansada e não via motivo algum para proceder diferente. Não se tratava de ceder o lugar a um idoso, a um deficiente, a uma mulher grávida ou com criança ao colo. Era uma questão de cor da pele. Injusta, portanto. Foi presa e julgada. Sofreu, sim. Mas sua coragem conseguiu que a lei fosse revista e mais tarde revogada. Coragem de lutar, de afirmar-se honesto, fiel a bons propósitos, coragem para vencer - eis o de que necessita o mundo atual.
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Ante comentários assim: Sofro muito. Detesto a vida. Não me mato porque me falta coragem, pense: é necessária muita coragem para se viver todos os dias, com dignidade, enfrentando as lutas e os óbices, vencendo tudo e a si mesmo. Quando ouça: Sei que está errado, mas não tenho coragem de falar, pense: não defender o que é correto, verdadeiro, pode redundar em prejuízo para muitos. Se todos desejamos um mundo melhor, mais pleno e justo, lutemos para implantá-lo, com nossas ações, em todas as oportunidades que se façam presentes. 
Redação do Momento Espírita. Em 25.1.2013.

terça-feira, 10 de novembro de 2015

O AUSENTE PRESENTE

Plínio Salgado
Era a derradeira refeição que fariam juntos. É um momento de alegria, pela comemoração da Páscoa judaica. Recordam-se das agruras da escravidão no Egito e as alegrias da libertação pelo legislador hebreu Moisés. Os cânticos se sucedem, em obediência ao rito comemorativo. Serve-se o carneiro, o pão sem sal e sem fermento, embebido no molho de ervas amargas. Recordam-se das bênçãos e a proteção de Yaweh. É também um momento de despedida. Um pouco e já não mais me vereis, assevera Jesus. E como Bom Pastor, exorta: Meus filhinhos... E tece recomendações, dizendo das dores que adviriam aos Seus seguidores, a todos aqueles que desejassem levar o archote da Boa Nova na tentativa de iluminar a Terra. O machado está posto à raiz, dizia o Mestre. Mas, se falou de dores e sofrimentos, não deixou de declamar esperança e consolo. Por isso, em observando o ar de tristeza que envolvia os Apóstolos, naquela hora, profetizou: Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus. Crede também em mim. Eu vou para vos preparar o lugar. Depois que me tenha ido e que vos houver preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de que onde eu estiver, também vós aí estejais. O Pastor anuncia Sua viagem, mas apresenta os objetivos dela e afirma o Seu retorno. A hora avança e Ele ensina: Um novo mandamento vos dou: amai-vos uns aos outros como eu vos tenho amado. Nisso reconhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros. E sentencia: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim. É um momento solene. Os minutos se sucedem ligeiros, como se desejassem que aquela despedida não se alongasse. Mas o Mestre dos mestres tem algo mais a dizer: Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Tenho-vos chamado amigos, porque tudo o que sei de meu Pai vos transmiti. Repito-vos: amai-vos uns aos outros. E, como num testamento, exterioriza Sua doação final: Deixo-vos a paz: a minha paz vos dou. Não vo-la dou como o mundo a dá. Amai-vos como eu vos amei. Ninguém tem mais amor do que aquele que dá a própria vida pelos seus amigos. Sereis meus amigos, se fordes amigos uns dos outros. A noite se envolve em crepe. Talvez a lua tenha escondido sua cara redonda e prateada, para enxugar o próprio pranto. O Cordeiro vai ser imolado...
 * * * 
 Ele voltaria depois da morte para atestar que a morte não existe. E quando chega, faz-Se visível àquele grupo de homens assustados, como uma equipe sem chefia e os saúda: Paz seja convosco! E ficaria com eles por dias e dias. Dias de sol, noites de estrelas, de luar. Pelas estradas da Galileia e da Judeia, pelas praias do mar e do lago, nas montanhas, onde os pastores apascentam seus carneiros, nas planícies onde os camponeses cortam o trigo, todos sentem que ele pode estar, que Ele pode vir, de repente e dizer: “A paz seja convosco!” Certeza de Sua presença. Amigo, Mestre, Senhor: presente! Não nos esqueçamos disso. 
Redação do Momento Espírita, com base no Evangelho de João, cap. XIV e com parágrafo colhido no cap. LXXXII, do livro Vida de Jesus, de Plínio Salgado, ed. Voz do Oeste. Em 18.7.2015.

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A AUSENTE

Há várias espécies de dores capazes de atingir os corações humanos. Qual a mais intensa?
Parece-nos ser aquela que estamos sentindo no momento.
Temos o costume de esquecer o passado e valorizar o sentimento presente como se nada de pior tivesse acontecido, ou pudesse vir a acontecer.
Isso é uma tendência muito natural do ser humano.
Mesmo assim, existem sofrimentos que se distinguem dos outros, e assumem, perante a maioria das criaturas, uma condição de maior gravidade.
A morte de um ser querido, por exemplo.
Não há quem não se comova, sofra, sinta verdadeiramente quando um ser amado abandona o envoltório corporal e parte para outro plano da vida.
Não importa se a desencarnação foi repentina, ou não. Se foi violenta, ou serena.
Não interessa se aquele que partiu contava avançada idade, ou se ainda era jovem.
Não há como mensurar essa dor.
Cada um a sente e reage a ela, de forma diversa.
Há aqueles que se entregam, blasfemam e se revoltam.
Há outros que choram, mas que aceitam, envolvendo suas dores no bálsamo da prece e da fé.
Há os que buscam modos nobres e belos para render novas homenagens àqueles que se foram.
Assim parece-nos ter agido o poeta Augusto Frederico Schmidt, que toca nossos corações com os seguintes versos:
Augusto Frederico Schmidt

Os que se vão, vão depressa,
Ontem, ainda, sorria na espreguiçadeira.
Ontem dizia adeus, ainda da janela.
Ontem vestia, ainda, o vestido tão leve cor-de-rosa.

Os que se vão, vão depressa.
Seus olhos grandes e pretos, há pouco, brilhavam.
Sua voz doce e firme faz pouco ainda falava.
Suas mãos morenas tinham gestos de bênçãos.
No entanto hoje, na festa, ela não estava.
Nem um vestígio dela, sequer.
Decerto sua lembrança nem chegou, como os convidados,
Alguns, quase todos, indiferentes e desconhecidos.

Os que se vão, vão depressa.
Mais depressa que os pássaros que passam no céu,
Mais depressa que o próprio tempo,
Mais depressa que a bondade dos homens,
Mais depressa que os trens correndo, nas noites escuras,
Mais depressa que a estrela fugitiva que mal faz traço no céu.

Os que se vão, vão depressa.
Só no coração do poeta, que é diferente dos outros corações,
Só no coração sempre ferido do poeta
É que não vão depressa os que se vão.

Ontem ainda sorria na espreguiçadeira,
E seu coração era grande e infeliz.
Hoje, na festa ela não estava, nem sua lembrança.
Vão depressa, tão depressa os que se vão...
*   *   *
Não permita que sua dor o impeça de perceber a beleza de cada momento.
Não deixe que suas lágrimas, por mais sentidas e justas, turvem sua visão, impossibilitando que seus olhos vejam a vida com clareza e serenidade.
Dedique aos amores que partiram pensamentos otimistas e repletos de confiança no reencontro futuro, sem desespero, nem revolta.
Se hoje, na sua rotina, pareceu-lhe que ninguém notou a dor que lhe invadia intensamente o peito, saiba que nada, nem mesmo nossas angústias, passam despercebidas ao Pai.
Confie, persista e prossiga, sempre.
Redação do Momento Espírita.
Em 30.7.2015