sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

QUANDO CHEGAR A MINHA VEZ

A notícia me surpreendeu, pela madrugada. 
Em acidente de trânsito, perdera a vida física o filho de uma querida amiga.
Imaginei o quanto ela deveria estar com a alma estraçalhada. 
Embora, como eu, guarde a convicção da vida imperecível, a morte continua a nos assustar, quando se apresenta.
Por vezes, quase nos tira o chão. 
Parece irreal. 
Hoje foi um jovem, no vigor dos anos. 
No entanto, nos últimos meses, tenho assistido a partida de muitos amigos, voluntários, conhecidos. 
Nesses momentos, penso: 
-Ele estará bem? Estava preparado para essa saída do mundo palpável? 
De repente, me surge a indagação: 
-E se a morte me visitasse hoje, eu estaria pronto para seguir com ela? Teria aquela tranquilidade de Francisco de Assis que, enquanto trabalhava em seu jardim, ao ser perguntado o que faria se soubesse que a morte o viria buscar nesse dia, respondeu: Continuaria capinando? 
Ele vivia tão bem os seus dias, que trazia a alma em perfeita harmonia. 
Poderia partir a qualquer momento. 
No entanto, eu, ante essa pergunta, de forma rápida fui repassando pela mente: o seguro de vida está quitado. 
Isso dará aos que ficam o prosseguimento das suas vidas, sem percalços. 
O convênio funeral igualmente está em dia. 
Então, os familiares não passarão por dissabores com preparativos e valores para o sepultamento do meu corpo. 
A senha da conta corrente está em mãos de parente querido, débitos a serem saldados, recursos a serem recebidos, uma lista enorme, tudo em mãos hábeis, para as providências. 
Pensei:
-Posso partir, sem susto. 
Então, num flash, uma ideia atravessou minha mente. 
Lembrei do episódio do Evangelho em que Jesus relata a história do homem que mandou erguer mais celeiros, para guardar todos os seus frutos, pensando, depois, que poderia descansar, comer, beber e folgar. 
Mas, conclui o mestre: 
-Louco! Esta noite te pedirão a tua alma. E o que tens preparado, para quem será?
Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus. 
Dei-me conta de que estou agindo exatamente como esse homem. 
Se a morte me vier buscar, agora, qual a bagagem que poderei levar comigo?
E me questiono: 
-Quais virtudes coloquei no baú da alma, para apresentar perante o tribunal da consciência, na Espiritualidade, na qual adentrarei? Que boas ações pratiquei para enriquecer o enxoval para a nova vida? Terei semeado mais amizades, afeições do que inimigos e desafetos? 
Fui colocando na mala, para essa viagem final, tudo de que me lembrava. 
Descobri que nem preciso de uma mala, bastará uma pequena, muito pequena valise de mão. 
Assustei-me. 
Tantos anos vividos. 
Tão poucas realizações. 
Cresci no intelecto, conquistei títulos acadêmicos, venci no mundo em várias facetas. 
Somente esqueci de semear bem-aventuranças em minha alma. 
Preciso apressar-me.
O tempo urge. 
Permita Deus que novos dias se multipliquem para que eu possa acrescentar mais alguns bons itens na bagagem espiritual. 
Alvorece o dia, a hora se faz de urgência. 
Ponho-me a caminho, enquanto as horas avançam... 
Será este o meu último dia? 
Redação do Momento Espírita, com citação do Evangelho de Lucas, cap. 12, itens 19 a 21. 
Em 17.2.2023.

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