segunda-feira, 13 de fevereiro de 2023

JARDIM DA VIDA

A vida humana pode ser comparada a uma rosa no jardim. 
O bebê é o botão que desabrocha, delicadamente. 
Na medida em que vai se abrindo, vai se extasiando com o orvalho na madrugada de luz, o brilho do cristal ao toque do sol, nas primeiras horas da manhã, o calor do astro rei na tarde ensolarada.
Quanto mais se abre para o mundo, mais descobertas realiza.
Corajosa, a criança não lê obstáculos nas linhas da vida. 
Tudo ela tenta, experimenta, apalpa e sente. 
Confiante, estende os braços a quem lhe oferece o colo.
Perseverante, insiste nas tentativas, sem se permitir considerar derrotada pela latinha que não abre, o brinquedo que não roda, o boneco que teima em não ficar de pé. 
Nenhum obstáculo a detém: uma escadaria que parece não ter fim, uma porta fechada, o portão trancado. 
Estranhamente, à proporção que cresce, parece se esquecer desse seu lado brilhante. 
Nos primeiros anos escolares, pode se mostrar fechada às novidades e até apresentar baixa rentabilidade escolar. 
Mais tarde, já madura, exatamente como o botão totalmente aberto, os bloqueios se fazem maiores. 
Os percalços são considerados intransponíveis. 
Enquanto envelhece gradativamente, mais entraves se coloca: 
-Minha memória não é boa. Esqueço tudo. Estou ficando velha.
Deixa de cogitar de aprender algo novo.
Exatamente no período em que, de um modo geral, passa a ter um tanto mais de tempo livre. 
A aposentadoria chegou, os filhos casaram, as obrigações decrescem em número. 
Tudo o que se pensa em ter durante os anos da juventude, da madureza, agora se encontra à disposição: mais tempo. 
No entanto, esse tempo é inutilizado.
E se há algo que realmente faz a pessoa envelhecer é a ociosidade, o não fazer nada. 
Enquanto a rosa no jardim vai perdendo o viço, murchando e despetalando, o homem se permite também fenecer. 
* * * 
Mas tudo pode ser diferente. 
Nunca é tarde para aprender. 
Envelhecimento nada tem a ver com perda de memória. 
A não ser que a pessoa seja portadora de alguma enfermidade, que prejudique as funções mentais, as intelectuais. 
Absorver sabedoria dos livros, aprender a tocar um instrumento, exercitar-se numa nova língua. 
Tudo aquilo que não se teve tempo ou possibilidade de fazer antes, eis uma chance maravilhosa. 
Oscar Niemeyer, conhecido arquiteto brasileiro, aos noventa anos, afirmou: 
-Não vejo problema algum com minha idade. Nasci em 1907. Desde cedo dediquei-me a ver a poesia que vibra nas curvas das imagens, e não apenas nas linhas retas e tensas. Prossegui com afinco e dedicação em busca de meu crescimento, e posso afirmar que sou uma pessoa feliz. Ajudei as pessoas o quanto pude e aprendi a contemplar a natureza, de modo que todas essas coisas somadas, e muitas outras mais, me trazem a convicção da serenidade. 
E conhecido locutor da televisão afirmou, nos seus setenta anos de idade: 
-Tenho um projeto a realizar antes de morrer. Deverá levar quatorze anos para a sua concretização. Nele utilizarei a minha voz, que hoje se encontra mais encorpada, mais sonora do que jamais o foi. Espero que o bom Pai não me leve antes. Desejo concluir esse projeto antes de partir. 
Isto é velhice abençoada. 
Isto é não murchar, embora o tempo tenha desenhado seu mapa nas faces de quem sorri para a vida, a cada amanhecer. 
Envelhecer com dignidade é ter sempre em mente um projeto de vida para o dia que ainda não nasceu. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 16.9.2014.

Nenhum comentário:

Postar um comentário