Hoje nos chegam as notícias de um amigo, abraçado por ela e em estado crítico, no hospital.
Ontem, foram as notas breves nos informando de familiares distantes contaminados, que a morte levou, num tempo quase recorde.
Não pudemos comparecer para lhes ofertar algumas flores, ou ensaiar um último adeus.
A cada notícia televisiva ou radiofônica, detalhando as milhares de mortes e de contaminados, corremos a verificar se nosso amor mais próximo está bem, se nossos filhos estão bem, nossos netos, nossos primos...
Preocupamo-nos com nossos pais e avós, de idades avançadas, cuja fragilidade os torna os preferidos dessa pandemia, que parece se eternizar.
Quando chega a notícia de alguém querido, alguém mais próximo da nossa afetividade que se foi, quantas vezes nos surpreendemos pensando:
-E nem me despedi direito da última vez... Se eu soubesse que ele morreria...
Pensemos que com pandemia ou sem ela, todos os que nos encontramos na Terra estamos com o bilhete de volta no bolso.
Uns o temos para logo mais, outros para daqui há semanas, meses, anos.
Mas, conforme assinalou Jesus, essa data, somente o Pai Celestial tem conhecimento.
Por isso, se não temos o hábito, vamos criá-lo: o hábito de nos despedirmos com carinho, amor, toda vez que alguém sair para o trabalho, para as compras, para qualquer compromisso que lhe exija a presença.
Os que estamos no mesmo lar, abracemo-nos, estreitemo-nos, sintamos o coração bater sincronizado com o nosso próprio compasso cardíaco.
E digamos:
-Até logo, tchau.
Depois, o acompanhemos com o olhar até o portão, até a saída.
Se estiver a pé, vejamo-lo voltar-se antes de tomar a rua e acenar, mais uma vez.
Se utilizar veículo próprio, vejamo-lo entrar no carro, colocar o cinto de segurança, ajustar o espelho retrovisor.
Acompanhemos cada gesto.
Detenhamo-nos à porta para observar.
Quando, finalmente, ele ligar o motor e nos olhar outra vez, acenando, acenaremos também.
Jogaremos beijos, sorriremos, utilizaremos as duas mãos e gritaremos uma vez mais:
-Tchau, até logo...
Façamos isso a cada saída de alguém, mesmo que esteja indo simplesmente comprar pão, ali na esquina.
Se, eventualmente, esse for o último Até logo, teremos muitas fotos registradas na alma para recordar:
-Ele sorriu para mim...
Ele tornou a acenar, depois de fechado o portão, já na rua...
Ele entrou no carro, mas resolveu entrar de novo e disse tchau outra vez...
Tenhamos em mente: a vida na Terra é impermanente.
Deixemo-nos ficar na porta, na janela, acenando um tanto mais, até a pessoa desaparecer na curva da estrada, ou no final da rua, dobrando a esquina.
Não tenhamos pressa.
A pandemia nos está ensinando que devemos mais e mais saborear a vida familiar.
Que devemos prezar amigos, colegas, conhecidos.
Que devemos valorizar a presença do outro.
Saibamos nos despedir, demoradamente.
Poderá ser o último retrato do amor que partirá logo mais...
Que não venhamos a nos arrepender de não ter abraçado, beijado, aconchegado.
O logo mais somente Deus o sabe.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita.
Em 22.3.2021
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