terça-feira, 23 de março de 2021

FOFOCAS

Hans Christian Andersen
Tudo começou num galinheiro. 
Isso mesmo. 
Em um galinheiro. 
O sol estava se pondo. As galinhas pularam para o poleiro. Havia uma, de penas brancas e curtas. Muito respeitável em todos os sentidos. Assim que voou para cima do poleiro, começou a se catar com o bico. Uma peninha caiu ao chão. 
-Lá se vai uma pena - ela disse. Parece que quanto mais eu me cato, mais bonita eu fico. 
Falou por brincadeira. 
Era a mais brincalhona entre todas. E foi dormir. Ao lado havia uma galinha que ouviu o que ela disse. Quer dizer ouviu e não ouviu... Não se conteve e cochichou para a outra galinha: 
-Não vou dizer o nome mas tem uma galinha aqui que quer tirar as próprias penas só para ficar mais bonita. Se eu fosse um galo eu a desprezaria. 
Ora, em cima do galinheiro havia uma família de corujas. Todas ouviram as palavras da vizinha da galinha branca. Reviraram os olhos. Mamãe coruja bateu as asas e foi tapar os ouvidos dos filhotes. 
-Vocês ouviram o que eu ouvi? 
Uma das galinhas esqueceu completamente o que é boa conduta. Tirou todas as suas penas e deixou que o galo a visse. Preciso contar o caso para minha vizinha. Enquanto as corujas conversavam e riam, as pombas ouviram. E saíram comentando que havia uma galinha que tirava todas as penas só para se mostrar para o galo. Com certeza iria morrer de frio. A conversa foi passando adiante. 
Logo, no pombal, se falava que duas galinhas haviam arrancado as penas para chamar a atenção do galo. Haviam apanhado um resfriado e morrido de febre. 
Quando a conversa chegou aos ouvidos do galo, já eram três as galinhas mortas. 
Era uma história tão terrível que ele não podia guardar para si.
Encarregou os morcegos de levá-la adiante. 
De galinheiro em galinheiro a história foi sendo contada. 
-A verdade verdadeira - diziam - era que cinco galinhas tiraram todas as penas para mostrar qual delas tinha emagrecido mais de paixão pelo galo.Haviam se bicado umas às outras até a morte. Uma desgraça para suas famílias! Grande prejuízo para o dono do galinheiro. 
Então, a galinha branca, que tinha perdido uma única peninha, não reconheceu sua própria história. 
Por ser muito respeitável, tomou uma atitude. 
Fez de tudo para que os jornais publicassem a história e corresse a notícia pelo país inteiro. 
Ela desprezava aquelas aves que mereciam ser punidas com o escândalo.
A verdade verdadeira é que a história foi impressa nos jornais. 
Assim uma única peninha se transformou em cinco galinhas. 
A história lhe lembra alguma coisa? 
Algum fato semelhante? 
A fábula bem pode nos servir de carapuça. 
Quantas vezes ouvimos pela metade as verdades e as traduzimos como queremos que sejam? 
Com que facilidade destruímos a reputação de pessoas honestas, dignas!
Normalmente, nem perguntamos se é verdade. 
O importante é que a notícia não pare em nós. 
Que ela circule. 
Ah, e nos encarregamos de acrescentar uma pitadinha da nossa imaginação. 
A palavra nos foi dada para o crescimento, não para a destruição.
Passemos a utilizá-la para o bem. 
Se o que ouvimos, não serve para a melhoria dos outros, a instrução de alguém, para que passar adiante? 
É preciso selecionar as nossas conversas. 
Já por esse motivo é que Deus nos dotou com dois ouvidos. 
Para ouvir bem. 
E uma boca somente. 
 * * * 
Ouça com lógica! 
Procure silenciar onde você não possa prestar auxílio. 
A vida dos outros, como afirma a própria expressão, é realmente dos outros e não nossa. 
O tempo que se emprega na crítica e na maledicência pode ser usado em construção. 
Redação do Momento Espírita, com base no conto A verdade verdadeira, de Andersen, e no cap. 36, do livro Sinal verde, pelo Espírito André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed.CEC. 
Em 12.11.2012.

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