sexta-feira, 26 de março de 2021

A FOME MAIOR

PEDRO DE CAMARGO
Desde algum tempo, uma grande mobilização se iniciou em nosso país e no mundo, com o intuito de acabar com a fome. Todos se mobilizam no ideal de saciar a fome dos corpos. 
Ação mais do que justa. 
O assunto, contudo, não é novo. 
O problema da fome sempre rondou a Humanidade, em épocas variadas.
O autor Amado Nervo, em seu livro Plenitud, capítulo Todos têm fome, escreve: 
"Neste orbe, todos têm fome: fome de pão, fome de luz, fome de paz, fome de amor. Este é o mundo dos famintos. A fome de pão, melodramática e ruidosa, é a que mais comove, porém não é a mais digna de comiseração. Existe a fome de amor. Muitos desejam ser amados, ter alguém que os queira e passam pela vida sem ninguém que lhes conceda uma migalha de carinho. Há os famintos de luz. Espíritos que anseiam por conhecimentos e não conseguem ter a sua fome atendida. Finalmente, a fome de paz que atormenta a quantos trazem os pés e o coração a sangrar."
Muita sabedoria encerram estas palavras. 
A fome do corpo é uma só. 
Mas a fome do Espírito apresenta várias faces, cada uma de efeitos mais alarmantes. 
A fome de pão atinge somente o indivíduo. 
Não contamina a terceiros. 
As outras espécies de fome generalizam suas consequências e comprometem a coletividade. 
A fome de amor, de luz e de paz fomenta muitas tragédias. 
Quem não se sente amado, quem não tem luz e nem paz é a criatura que se torna manchete como promotora de crimes terríveis. 
O crime, nos seus aspectos mais variados, resulta de uma falha moral, de um nível baixo de Espiritualidade, de um desequilíbrio psíquico. 
A grande solução está na educação convenientemente compreendida e ministrada. 
Educação que se volta para o ser espiritual. 
Dessa forma, a Humanidade encontrará a sua solução na educação.
Educar a criança é semear o bom grão. 
É preparar uma nova sociedade. 
É criar um mundo melhor onde habitará a justiça. 
Um mundo onde reinará a solidariedade, garantindo o pão para todos. 
Um mundo de fraternidade que a todos oferecerá ensejo de revelar suas capacidades. 
É tempo de investir na transformação do indivíduo. 
É tempo de deixarmos de permanecer alheios ao processo cuja eficácia é indiscutível na melhoria individual e social: a educação. 
Cabe-nos, assim, o engajamento na luta contra a fome. Voltemos nossa atenção para a escola. 
Eduquemos a criança no lar, desde pequena. 
Naturalmente, é um projeto a longo prazo. 
Trata-se do preparo e cultivo do solo que, após os devidos cuidados, produzirá frutos de acordo com a sementeira feita.
* * * 
Para atender a fome do corpo, basta um pedaço de pão. 
Para atender a fome generalizada do ser humano, necessária se faz a luz da razão, que espanca as sombras de quem avança em sofrimento ou limitação. 
E educação é o desenvolvimento harmônico de todas as faculdades do Espírito, para que este se torne luz, adquira paz e exercite o amor.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 25, do livro O mestre na educação, de Pedro de Camargo, ed. FEB. 
Em 10.10.2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário