terça-feira, 5 de janeiro de 2021

O FILHO

Um homem muito rico e seu filho tinham grande paixão pela arte. Possuíam obras de grande valor na sua coleção, de Picasso a Rafael. Sempre se sentavam juntos para admirar aquelas preciosidades. 
Quando o conflito do Vietnam surgiu, o filho foi para a guerra e deixou o pai com o coração partido. Durante uma batalha, enquanto resgatava um soldado ferido, o jovem foi morto. O pai recebeu a noticia e sofreu profundamente a morte do seu único filho. Um mês mais tarde, alguém bateu na porta da sua casa. Um jovem com um enorme pacote nas mãos lhe falou: 
-O senhor não me conhece, mas sou o soldado pelo qual seu filho deu a vida. Ele salvou muitas vidas naquele dia e estava levando-me a um lugar seguro, quando uma bala o atingiu no peito e ele morreu na hora. Ele me falava sempre do senhor e do seu amor pela arte. Por isso, eu gostaria que o senhor aceitasse um presente. 
Entregou-lhe o pacote e disse com carinho: 
-Eu sei que isto não é muito pois não sou um grande artista, mas acredito que seu filho ia gostar se o senhor o recebesse. 
O pai abriu o pacote e surpreendeu-se com um retrato do seu filho amado. Ele contemplou, com profunda admiração, a maneira como o soldado tinha retratado a personalidade do seu filho na pintura. Ficou tão atraído pela expressão dos olhos do seu filho que os seus próprios marejaram de lágrimas. Agradeceu ao jovem soldado e ofereceu-se para pagar-lhe pelo quadro. 
-Oh, não senhor, falou o rapaz. Eu nunca poderia pagar pelo que seu filho fez por mim. É um presente. Aceite-o, juntamente com a minha gratidão. 
O pai pendurou o quadro acima da lareira e, cada vez que os visitantes e convidados chegavam a sua casa ele lhes mostrava o retrato do seu filho, antes de mostrar sua famosa galeria. Aquele pai morreu alguns meses mais tarde e realizou-se um leilão para todas as pinturas que possuía. Muita gente importante e influente foi ao leilão com grandes expectativas. Sobre a plataforma estava o retrato do seu filho. O leiloeiro bateu o seu martelo para dar início e falou: 
-Começaremos o leilão com este retrato do seu filho. Quem vai fazer a primeira oferta por este quadro? 
Fez-se um grande silencio. Então, uma voz, no fundo do salão, gritou:
-Queremos ver as pinturas famosas! Esqueça-se desse! 
No entanto o leiloeiro insistiu: 
-Alguém oferece algo por esta pintura? Cem mil dólares? Duzentos mil dólares? 
Outra voz gritou com raiva: 
-Não viemos aqui por esta pintura! Viemos para ver as de Van Gogh, Rembrant, Rafael, Picasso... Vamos às ofertas de verdade! 
Ainda assim, o leiloeiro continuava seu trabalho. 
-O filho, o filho, quem vai levar o filho?! 
Finalmente, uma voz vinda dos fundos se fez ouvir: 
-Eu dou dez dólares pela pintura! 
Era o velho jardineiro do pai e do filho. Sendo muito pobre, era só o que podia oferecer. 
-Temos dez dólares, quem dá vinte? Gritou o leiloeiro. 
Outro grito se ouviu ao fundo: 
-Mostra-nos de uma vez as obras de arte! 
Uma vez mais o leiloeiro insistiu: 
-Dez dólares pela oferta! Dará alguém vinte? 
A multidão já estava inquieta. Ninguém queria o retrato do filho e sim as que representavam valioso investimento para suas próprias coleções. Por fim, o leiloeiro bateu o martelo e falou: 
-Dou-lhe uma, dou-lhe duas... Vendida por dez dólares! 
O homem que estava sentado na segunda fila gritou feliz: 
-Até que enfim começaremos com a coleção! 
O leiloeiro soltou o martelo e disse: 
-Sinto muito, damas e cavalheiros, mas o leilão chegou ao fim. 
-Mas, onde estão as pinturas? Perguntaram assustados. 
-Sinto muito, falou o leiloeiro. Quando me chamaram para dirigir este leilão, foi-me falado de uma condição estipulada no testamento do dono da coleção. Eu não estava autorizado a revelar até este momento, mas agora posso falar. Somente a pintura do filho seria leiloada. Aquele que a adquirisse herdaria absolutamente todos os bens do falecido, incluindo sua coleção de obras de arte. Assim, o homem que ficou com o retrato do filho herdou tudo.
* * * 
Não há bem que possa valer mais do que um filho. 
Um verdadeiro afeto se constitui num dos mais valiosos e duradouros patrimônios da alma. 
Redação do Momento Espírita com base em conto de autoria ignorada. 
Em 15.10.2010.

Nenhum comentário:

Postar um comentário