André Trigueiro |
No livro bíblico de Gênesis, inicia o capítulo segundo: E havendo Deus acabado no dia sétimo a sua obra, que tinha feito, descansou no sétimo dia.
E abençoou Deus o dia sétimo, e o santificou. Porque nele descansou de toda a sua obra.
Entre a comunidade judaica, o tradicional shabat evoca questões absolutamente importantes.
A palavra hebraica significa cessar, parar. Apesar de ser vista quase universalmente como descanso ou um período de descanso, uma tradução mais literal seria cessação, com a implicação de parar o trabalho.
Portanto, shabat é o dia de cessação do trabalho. Sua observância é considerada de extrema importância, aparecendo como o terceiro dos Dez Mandamentos.
Lembra-te do dia do sábado, para o santificar. Seis dias trabalharás, e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do senhor teu Deus.
Não farás nenhuma obra, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o estrangeiro, que está dentro das tuas portas.
Porque em seis dias fez o senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há, e ao sétimo dia descansou. Portanto, abençoou o senhor o dia do sábado, e o santificou.
O homem absorveu esta normativa e, nas leis trabalhistas, estabeleceu um dia de cessação do trabalho, implicitamente, de descanso.
No entanto, muito além de uma proposta trabalhista, entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.
Se observarmos o terceiro mandamento, veremos explicitados que o cessar de atividades envolve, inclusive, os animais.
A Sabedoria Divina estabeleceu pausas relevantes. A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar vinte e quatro horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Dessa forma, verificamos, desde a alegoria bíblica da criação do mundo, que a questão da cessação do trabalho se faz de importância.
Tudo necessita de descanso, nosso planeta também. A Terra, exaurida, explorada constantemente, exige atenção. Necessita de uma parada da exploração continuada. Necessita de uma pausa.
Assim como todos os seres vivos, a Terra, conforme a hipótese formulada por James Lovelock e Lynn Margulis, que consideram o planeta um único e complexo organismo, necessita de descanso.
É hora de reavaliarmos nossa forma de viver, em que tudo funciona vinte e quatro horas. Precisamos disso, realmente?
Não seria interessante revermos nossos valores e, enquanto damos um descanso para a própria natureza, nós mesmos pensarmos no que fazemos de nossos dias?
Cessação do trabalho habitual, descanso, repouso, que não significa necessariamente não fazer nada, mas fazer algo diferente.
Pensemos nisso. Voltemos a viver e conviver com a natureza que é sagrada.
Pausa para olhar o que nos cerca, para respirar o ar puro. Pausa para viver intensamente. Pausa para a própria Terra sofrida, espoliada.
Pensemos nisso. Porque disso depende a sustentabilidade do planeta em que nos encontramos, ou seja, a nossa própria vida.
Redação do Momento Espírita, com base no livro
bíblico de Êxodo, cap. 20, versículos 8 a 10 e no cap.
Sustentabilidade como valor espiritual, do livro
Espiritismo e Ecologia, de André Trigueiro, ed. FEB.
Em 10.6.2019.
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