Mary Ishiyama |
Quando Mary sonhou pela primeira vez, ficou impressionada. Sonhara com uma menina de cabelos cacheados, pele muito branca, que deveria ter uns seis ou sete anos.
Ela não lembrava exatamente o que haviam conversado mas a clara impressão, ao despertar, é de que a garota viera anunciar que iria nascer em sua casa.
A família riu, considerando a impossibilidade orgânica de uma gestação, àquela altura da vida.
As semanas, com seus compromissos e afazeres, se passaram e o fato caiu no esquecimento.
Entretanto, o sonho se repetiu, revestido de maior intensidade. Mary sentiu a real possibilidade de uma filha vir compor seu universo familiar.
Finalmente, quando se reprisou pela terceira vez, ela afirmou ao marido que adotariam uma criança.
Mas, os quefazeres do cotidiano fizeram com que o assunto caísse no esquecimento. Até o dia em que a filha revelou a sua gravidez, fruto do relacionamento com o namorado.
Algo não pensado, não idealizado. Acontecera.
Enquanto Laura tudo relatava, Mary concluiu:
-Era dessa forma que a menina do sonho voltaria para o seu lar.
A menininha logo foi revelando atitudes impressionantes. Em especial, uma forte ligação com a avó.
Uma relação, ao mesmo tempo de afeto e certa desconfiança. Pequenina, bastava ser acolhida no colo da avó para acalmar o choro, a inquietação.
Contudo, na medida em que os meses foram se sucedendo, a garota foi revelando experimentar algo semelhante a uma relação de amor e discreta mágoa.
No relacionamento com a avó, demonstra atitudes um tanto inusitadas.
Quando chega da escola, adentra o apartamento chamando por ela, se a percebe ausente. Contudo, em momentos em que estão juntas, simplesmente a ignora.
Vez ou outra a avó se arvora em perguntar:
-Então, você é minha amiga?
A pequerrucha a olha, séria, como se a indagação a fizesse mergulhar em algo profundo e marcante. E diz, categórica, virando o rosto para o lado:
-Não.
E, ante o convite para se tornarem amigas, ela insiste:
-Não.
* * *
Não estamos juntos pela primeira vez. As famílias se formam pela afeição, pelos compromissos ou desafios que juntos devemos enfrentar.
Por isso, as relações são mescladas por manifestações efusivas de amor, por vezes uma certa indiferença ou desconfiança.
Tudo está relacionado a vivências passadas, a momentos em que juntos realizamos coisas grandiosas ou atos não muito dignos.
Retornamos para refazer o caminho, reatar velhos amores ou resolver algumas questões.
Bendito retorno. Bendita reencarnação. Situação, muitas, vezes, anunciada por aquele que está se preparando para regressar.
E ainda em tenra idade, não é raro, demonstrar com todas as letras, a quem ama ou a quem não ama, com quem tem ajustes pendentes.
São esses pequenos que chegam em nossos lares, pelas vias da própria materno/paternidade; pela adoção ponderada e efetiva; ou por vias indiretas.
De alguma forma, eles aportam em nossas vidas.
São essas crianças, cheias de graça, que nos arrebatam o coração, chamando-nos vovô, vovó, mamãe, papai ou madrinha.
Filhos de Deus! Filhos da nossa alma.
Redação do Momento Espírita, com base
em fato, narrado por Mary Ishiyama.
Em 7.6.2019.
Nenhum comentário:
Postar um comentário