Era somente um rapaz e nos chamou a atenção porque pulou a grade de segurança da extensa ponte, saltando para um dos pilares, na parte de dentro do rio.
Notava-se que a chuva insistente, do dia anterior, tornara as águas turbulentas. Ficamos curiosos em saber o que faria aquele jovem.
E nos pusemos a observá-lo, do local onde nos encontrávamos.
Ele deslizou pelo alto pilar até a base. Depois, procurando, com o olhar, o melhor caminho, mesmo sem calçar botas, foi andando entre a água e as pedras mais próximas à margem.
Somente então nos demos conta do motivo de tudo aquilo. Ali, em meio à vegetação, estava um cãozinho assustado, olhando as águas.
O rapaz se aproximou, o chamou e o acarinhou, no intuito de lhe conquistar a confiança.
Depois, o abrigou entre seus braços e retornou para a base do pilar.
Agora sim, ele se deparou com o grande problema. Ele pensara no resgate do animal, mas não em como poderia retornar para o alto da ponte.
Ele descera sem nada e não havia saliências entre as pedras do pilar para ele se apoiar e subir.
Menos ainda sustentando o pequeno animal.
Nesse momento, outros adolescentes, que passavam pela ponte, se uniram ao resgate.
Um deles desceu até o pilar, apanhou o cão, entregou-o em segurança aos colegas, do lado de dentro da grade de proteção.
Retornou, estendeu os braços e foi puxando o rapaz para cima.
Para conseguirem chegar até a segurança da ponte, foi preciso que dois se unissem e depois, enfim, comemoraram o êxito alcançado, abraçando-se.
Enquanto tudo isso acontecia, e foram longos e preciosos minutos, ninguém mais parou. Os carros continuaram a transitar, as pessoas a se locomoverem.
Somente aqueles meninos viram o que estava acontecendo. Meninos que passavam, seguindo para a escola ou para lugar nenhum. Não sabemos.
O detalhe é que eles tiveram olhos de ver e se uniram em um resgate a alguém que teve o ímpeto de salvar um filhote assustado e perdido que, talvez tivesse perecido ali mesmo.
* * *
Já nos perguntamos, alguma vez, quanto vale uma vida? Quando assistimos a tantas cenas cotidianas que parecem nos dizer que ela não vale nada; quando tantos filmes enaltecem o resolver da violência com mais violência e a morte dos considerados maus elementos; as histórias que apresentam como atos heroicos o suicídio assistido, é de nos emocionarmos constatar nossa juventude reverenciando a vida.
Se dá valor a um animal, se arrisca a própria segurança para salvá-lo; se demonstra preocupação com alguém que precisa de ajuda, isso nos diz que nosso mundo está recheado de boas pessoas, de gente que pensa no semelhante, que esquece o compromisso imediato para louvar a vida, num gesto de desprendimento.
O que recebe em troca? No caso do cãozinho, muitas lambidas, latidos e pulos.
Em se falando do bem maior, as vidas que foram preservadas, um hino que sobe aos céus e retorna em bênçãos generosas sobre a Humanidade.
Sim, sobre todos, porque toda vez que um gesto bom é concretizado, a Humanidade inteira se beneficia.
Pensemos nisso e saiamos a louvar a vida humana, animal, vegetal.
Ela é precioso dom da Divindade.
Redação do Momento Espírita.
Em 3.6.2019.
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