DIVALDO PEREIRA FRANCO E RABINDRANATH TAGORE |
Em plena juventude, como fruto verde que aguarda a primavera, esperei intensamente pelo amor.
Todas as manhãs, abria a janela de minha alma e esperava que o novo dia me trouxesse o amor.
E porque ele demorasse a chegar, fechei as portas e janelas, selei os portões e saí pelo mundo.
Andei por muitos caminhos e por estradas solitárias. Por vezes, ouvia o cortejo do amor que passava ao longe.
Corria e o que conseguia ver eram somente corações em festa, risos de alegria. O amor passara e eu continuava só.
Algumas noites, chegando às cidades com suas mil luzes piscando vida, ousava olhar para dentro dos recintos.
Via mães acalentando filhos, cantando doces canções de ninar; casais trocando juras; crianças dividindo brincadeiras entre risos e folguedos.
Em todos estava o amor. Somente eu prosseguia solitário e triste.
Depois de muito vagar, tendo enfrentado dezenas de invernos, resolvi retornar.
De longe, pude sentir o perfume dos lírios. Quando me aproximei, pude ver o jardim saudando-me.
- Você voltou! – Falaram as rosas, dobrando as hastes à minha passagem.
- Seja bem vindo! – Disseram as margaridas, agitando as corolas brancas.
É bom tê-lo de volta.
Saudaram os girassóis, mostrando suas coroas douradas.
Tanto tempo havia se passado e, de uma forma mágica, os jardins estavam impecáveis. As cores bem distribuídas formavam arabescos na paisagem.
Uma emoção me invadiu a alma. Abri as portas e janelas do meu ser.
Debruçado à janela da velhice, fitando a ponte que me levará para além desta dimensão, vi o amor passar em frente à minha porta.
Apressadamente, coloquei flores de laranjeira na casa do meu coração. Atapetei o chão para que ele entrasse, iluminando a escuridão da minha soledade.
Agora, tremo de ternura. Já não sofro desejo, nem aflição.
Os olhos felizes do amor fitam os meus olhos quase apagados, reacendendo neles a luz que volta a brilhar.
Há tanta beleza no amor que me emociono.
Superado o egoísmo, não lhe peço que entre e domine o meu coração rejuvenescido.
Em razão disso, descubro de verdade o que é o amor e não o retenho.
Deixo-o seguir porque amando, já não peço nada. Agora posso me doar aos que vêm atrás, em abandono e solidão.
Aprendi a amar.
* * *
Feliz é a criatura que descobriu que o melhor da vida é amar.
Feliz o que leu e entendeu o ensino de Francisco de Assis, que foi, posteriormente, sintetizado nos versos que convidam a procurar mais consolar, do que ser consolado; mais compreender, do que ser compreendido.
Resumindo: amar mais do que ser amado.
Isso porque o amor preenche todos os vazios, torna felizes todas as horas e engrandece a quem o exercita para consigo mesmo e para com o seu semelhante.
Por isso mesmo, o Mestre dos mestres convidou ao amor, muitas e muitas vezes:
Amai-vos como Eu vos amei.
Amai-vos uns aos outros.
E afirmando que os Seus discípulos seriam conhecidos por muito se amar.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base no cap. LVII,
do livro Estesia, pelo Espírito Rabindranath Tagore,
psicografia de Divaldo Pereira Franco,
ed. LEAL.
Em 28.6.2019.
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