Era final de inverno...
Mais um ano havia passado e não se chegara a nenhuma conclusão.
Os partidários das diversas facções, dia após dia, perdiam-se em longas e intermináveis discussões sobre esta ou aquela candidata, sem chegarem a um consenso.
Decantava-se a beleza da papoula, as qualidades das alfazemas, o perfume dos cravos, as virtudes de pureza e humildade de lírios e violetas.
Tudo em vão...
Num canto despretensioso do mundo, onde as espécies vegetais cresciam silenciosamente, um pequeno arbusto travava sua luta diária pela sobrevivência, alheio a toda sorte de discussões.
Conformado com sua forma tosca, retorcida, prenhe de espinhos pontiagudos e consciente de que nunca alcançaria a beleza de um dente-de-leão, acostumara-se a ser desprezado e humilhado sem, no entanto, deixar de prestar atenção nas pequenas criaturas que dependiam de sua existência para sobreviver.
A elas dedicava a sua vida, emprestando a segurança de seu tronco e ramos para abrigar insetos das chuvas e ventanias.
Era feliz pois, se não tinha a beleza, tinha a utilidade. E isso lhe bastava.
Naquela manhã fria de final de invernia, ainda não totalmente desperta da noite, a plantinha rude viu despregar do céu uma linda estrela cor de prata.
Sorrindo, acompanhou-lhe a trajetória em arco perfeito pelo céu escuro, descendo, descendo... em direção à floresta ainda adormecida.
Era tão suave e linda aquela forma que, instintivamente, todos na floresta, árvores, arbustos, pássaros e flores, acordados pela luz repentina, curvavam-se para vê-la passar.
A estrela flutuou entre sorrisos, agradecendo a simpatia da floresta, até chegar perto do arbusto cheio de espinhos.
Aproximou-se lentamente da plantinha e falou-lhe docemente:
-Não te inscrevestes na eleição da rainha das flores, por isso vim pessoalmente buscar-te...
-Mas, senhora... Gaguejou a planta. Eu? Como posso aspirar a ser rainha de qualquer coisa... Não vedes o quanto sou feia!!
-O Senhor da Vida ordenou-me que viesse buscá-la...
-Se este é o seu desejo... aqui me tendes, senhora...
E partiram em um rastro de luz, na direção do Conselho das flores.
As demais candidatas riram-se da pretensiosa intenção daquele feio arbusto.
A plateia silenciou quando entrou no ambiente a primavera, anunciada pelo som de mil clarins.
O arbusto, espantado, reconheceu a estrela que a trouxera até ali.
-Então, senhores conselheiros - questionou a primavera - o Senhor da Vida deseja saber se já encontraram a legítima representante de seu reino.
-Não, senhora. Estávamos para decidir-nos, quando fomos interrompidos pela vaidade dessa planta sem qualidades que aí está. Vede! Quanta ousadia...
A primavera voltou-se para a plantinha que chorava de vergonha e humilhação e perguntou:
-O que mais desejas nesta vida?
E a planta respondeu entre lágrimas...
-Amar e ser amada...
A primavera, então, tocou os galhos espinhosos e, logo, botões surgiram dos galhos seminus, abrindo-se em mil pétalas sedosas, de perfume inesquecível...
-Qual é o teu nome?
Perguntaram todos.
-Eu sou a rosa...
* * *
Quando o amor tocar os espinheiros do mundo, as rosas brotarão em cada alma. Tal é a Lei de amor, como ensinou Jesus...
Redação do Momento Espírita, com base
em lenda de autoria desconhecida.
Em 15.03.2010.
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