O rapaz entrou na repartição pública, de forma impetuosa e sentou-se em frente à recepcionista. Antes que ela pudesse abrir a boca para cumprimentá-lo ou lhe perguntar a que vinha, ele desatou a falar.
Falava sem parar, sem pausas, sem pontos nem vírgulas. As suas eram reclamações pesadas, porque, dizia, todos estavam contra ele.
A moça logo verificou que ele estava totalmente fora de controle e tentou perguntar:
-O que o senhor deseja que fa...?
O rapaz a interrompeu, de imediato, dizendo que ela ficasse quieta porque ele não concluíra o rol das reclamações. No entanto, embora ela se mantivesse silente, ouvindo, ele foi elevando o tom de voz, de forma que atraiu a atenção dos colegas das salas próximas.
Agora, várias pessoas se encontravam ali, preocupadas com a integridade física da recepcionista, dado o descontrole que ele manifestava.
A chefe de gabinete acionou a segurança, pedindo que, de forma discreta, ficasse à porta, para alguma eventualidade mais grave.
Cada qual ali presente, por sua vez, foi tentando estabelecer um diálogo com o jovem. Ele respondia a uma ou outra pergunta que lhe era feita, mas sempre em altos brados.
Então, uma jovem, de voz doce, lhe indagou:
-Você quer um copo d´agua?
Ele parou, surpreendido e disse:
-Quero sim, obrigado.
Ela logo retornou com a água e uma barra de chocolate. Os olhos dele brilharam.
- Não como há bastante tempo! – Desabafou.
Na sequência, ela lhe foi perguntando a respeito de seu pai, se eles se falavam, se o pai o poderia ajudar na situação em que se encontrava.
Ele foi se acalmando e, tocado pela doçura da voz, o acolhimento que sentiu, foi respondendo, uma a uma as questões, o que permitiu pudesse receber atendimento.
Os que acompanhavam o desenrolar das cenas, ficaram boquiabertos. Eles, embora de forma serena, haviam tentado o diálogo, sem êxito.
No entanto, ela, com a sua doçura, lembrando-se de lhe oferecer algo que o pudesse confortar, retirando-o da crise de lamúrias, foi quem conseguiu.
Mais do que seu gesto, a doçura que colocou nas palavras teve o condão de modificar a disposição daquele jovem.
Atendido, ele se levantou e se dirigiu à porta. A segurança fora previamente dispensada. Ele se voltou, olhou para todos e disse:
-Obrigado. Nunca fui tratado como gente como aqui.
E, com a cortina das lágrimas quase a romper em caudal, se foi.
* * *
Por vezes, na mecânica das atitudes, nos esquecemos o quanto a doçura pode conseguir. Esquecemos de que pessoas que estão quase fora de si, por vezes, somente estão dizendo, de forma desesperada: Olhe para mim. Trate-me bem. É tão pouco o que eu peço: me ouça.
Há muita carência de amor, de afeição, no mundo. Fiquemos atentos e sejamos mais atenciosos com quem nos busca na repartição, no escritório, na escola.
Francisco de Assis, com sua doçura, falou ao irmão lobo, assassino da região, e dele conseguiu adesão à mudança de hábitos.
Nós também, utilizando doçura, poderemos alcançar corações em turbulência, que somente aguardam um gesto de bondade, para alterarem o rumo da própria vida.
Pensemos nisso.
Redação do Momento Espírita, com base em fato.
Em 18.7.2014.
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