quarta-feira, 6 de julho de 2016

COBRANÇA INDEVIDA

Depois de um dia de caminhada pela mata, mestre e discípulo retornavam ao casebre, seguindo por longa estrada. Ao passarem próximo a uma moita de samambaia, ouviram um gemido. Verificaram e descobriram um homem caído. Estava pálido e com uma grande mancha de sangue, próxima ao coração. Tinha sido ferido e já estava próximo da inconsciência. Com muita dificuldade, mestre e discípulo o carregaram para o casebre rústico, onde viviam. Lá trataram do ferimento. Uma semana depois, já restabelecido, o homem contou que havia sido assaltado e que ao reagir fora ferido por uma faca. Disse também que conhecia seu agressor, e que não descansaria enquanto não se vingasse. Disposto a partir, o homem disse ao sábio: 
-“Senhor, muito lhe agradeço por ter salvado a minha vida. Tenho que partir e levo comigo a gratidão por sua bondade. Vou ao encontro daquele que me atacou e vou fazer com que ele sinta a mesma dor que senti.” 
O mestre olhou fixo para o homem e disse:
-“Vá e faça o que deseja. Entretanto, devo informá-lo de que você me deve três mil moedas de ouro, como pagamento pelo tratamento que lhe fiz.” 
O homem ficou assustado e disse:
-“Senhor, é muito dinheiro. Sou um trabalhador e não tenho como lhe pagar esse valor!” 
Com serenidade, tornou a falar o sábio:
-“Se não pode pagar pelo bem que recebeu, com que direito quer cobrar o mal que lhe fizeram?” 
O homem ficou confuso e o mestre concluiu:
-“Antes de cobrar alguma coisa, procure saber quanto você deve. Não faça cobrança pelas coisas ruins que aconteçam em sua vida, pois a vida pode lhe cobrar tudo de bom que lhe ofereceu.” 
Todos os dias somos aquinhoados com centenas de bênçãos. A primeira, é a própria oportunidade de tornar a abrir os olhos no corpo físico. Depois, a oportunidade de encher os pulmões de ar. Ar que nos é dado pela Divindade. A bênção do alimento que nos nutre o corpo. Alimento que extraímos da terra generosa, bastando que nela plantemos a semente. A bênção do trabalho que nos permite o desenvolvimento das nossas habilidades, o progresso, a aquisição de bens materiais que nos são necessários. Enfim, o digno sustento próprio e dos que nos constituem responsabilidade. A bênção da religião, que nos fortalece o espírito, dando-nos o conhecimento da existência de um Deus Pai, que dirige os nossos destinos e guarda a nossa vida. A bênção da família, dos amigos, dos colegas, dos animais de estimação. Cada qual, a seu modo, nos oferta, a cada dia, seu carinho, sua devoção, enriquecendo as nossas horas. Pense, enfim, nas bênçãos que todos os dias você recebe, sem esforço algum. Você não precisa acender o sol, nem pedir a ele que apareça. Ele simplesmente vem e lhe dá calor, luz, vida. Você não necessita acionar botão algum para que o vento amigo se manifeste nos dias de ardência. Ele simplesmente vem. Balança o arvoredo, espanca nuvens borrascosas, limpa o céu e ainda brinca de desarrumar os seus cabelos. Você não precisa suplicar ao botão para desabrochar. Ele arrebenta em perfume e colorido para o seu deleite. Você não precisa suplicar aos pássaros que encham de sons o dia. Eles aparecem e brindam seus ouvidos com a variedade infinita de seus trinados e cantorias. Por tudo isso, pense, que direito você tem de tomar contas a quem quer que seja, por algo ruim que lhe tenha feito, ante um débito tão grande para com a divindade que tudo vê, provê, sem exigência alguma.
Pense nisso! 
Equipe de Redação do Momento Espírita, com base em história de autoria ignorada.

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