Rosy Greca |
A menina Rosy foi uma dessas crianças que ajudavam a mãe a “escolher o feijão”, antes que ele fosse colocado na panela, para ser servido no almoço.
Hoje em dia, o feijão já chega aos supermercados devidamente selecionado.
E as crianças nem imaginam que um dia havia necessidade de espalhar o feijão sobre a mesa, retirar os grãos estragados, as pedrinhas, os pedaços de terra e outros detritos.
Bem, mas a menina Rosy fazia esse trabalho. E, enquanto catava o feijão, deixava a imaginação voar, a criatividade despertar, e ao mesmo tempo curtia a presença da mãe ao seu lado, preparando o almoço para toda a família.
Naquele tempo as famílias se reuniam em casa para fazer as refeições.
Enquanto trabalhava, Rosy observou que os grãos de feijão saudáveis eram enviados para a panela, melhor dizendo: para a morte.
Em sua sabedoria de criança, ela resolveu fazer alguma coisa em favor daqueles inocentes e indefesos grãos, que não tinham a mínima chance de sobreviver às altas temperaturas a que seriam submetidos...
Foi então que resolveu separar, junto com os detritos, alguns feijões saudáveis, a fim de preservá-los.
Na sua imaginação, aqueles grãos salvos teriam oportunidade de produzir novos grãos, de germinar, florescer e frutificar, dando continuidade à vida.
É claro que se a mãe percebesse isso, consideraria um desperdício, o que para a garota era uma iniciativa tão nobre quanto criativa.
O que vale ressaltar desse fato, é que os anos não conseguiram matar a sensibilidade nem a criatividade daquela menina, que hoje é uma compositora de músicas para crianças.
Ela tem a sensibilidade incomum de se comunicar com a alma infantil, e isto é a sua tarefa, sua missão.
Disse-nos ela, numa oportunidade: “não somos nós que escolhemos compor para a infância. São as canções que nos escolhem.”
E as canções sabem a quem escolher... Não há dúvida.
Escolhem as pessoas que guardam na alma a ludicidade, o sonho, a observação, a imaginação sadia, próprias da criança.
Rosy foi uma menina que brincou na rua, subiu em árvores, interagiu com outras crianças, viajou pela imaginação, pelo sonho, teve a leveza de uma infância descontraída e feliz. E conservou na alma esse ser especial.
Nos tempos atuais, infelizmente as crianças não brincam mais nas ruas. A grande maioria delas vive em apartamentos, e interage com os equipamentos eletrônicos.
O calor humano do convívio com os familiares e amigos, foi cedendo lugar a um isolamento quase mórbido.
As canções que ouvem geralmente são feitas para adultos, por compositores que ignoram a beleza, a estesia, os sentimentos nobres...
São músicas que produzem imagens obscenas, com forte apelo da sensualidade, da leviandade, dos valores corrompidos.
Mas a menina Rosy, hoje uma mulher madura, continua acreditando que ainda se pode fazer alguma coisa em favor da infância, através da música.
Foi relembrando os tempos em que salvou alguns grãos de feijão, que compôs a música intitulada os olhos do coração, que diz:.
Quando abrimos os olhinhos do coração tudo se ilumina, vemos a imensidão...
No botão de rosa, no grão de areia, na semente do limão
O pequenino lá por dentro é grandão!
Quando abrimos os olhinhos do coração, vemos o universo todo em expansão...
O ovo da galinha, a notinha da canção, o tatu bolinha, a bolha do sabão...
O pequenino lá por dentro é grandão!
Há! Como o mundo seria melhor se houvesse mais compositores com coração de criança, com esse poder de penetrar o solo fértil desses seres pequeninos, que têm olhos de ver o que muitos adultos já não enxergam mais...
As crianças conseguem ver que dentro de uma pequenina semente, de um grão de areia, do miolo do pão tem um mundo, e dentro desse mundo, outro mundo, e dentro de todos esses mundos, está o mundo da imaginação...
Texto da Equipe de Redação do Momento Espírita, com base nas letras das canções “Os olhos do coração”, que consta no CD Sonho de voar, e “Dentro de um mundo”, do CD Gente criança, ambas da compositora Rosy Greca.
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