terça-feira, 7 de julho de 2015

ANTE A DOR

Muitos de nós reagimos de forma bastante negativa aos sofrimentos. Cremos em Deus, falamos de fé, esperança e gratidão ao Pai enquanto nossa vida corre tranquila. Contudo, quando os ventos dos reveses nos atormentam, a revolta se instala e gritamos: 
-Por que, Deus? Por que comigo? 
Nesses momentos, esquecemos que Deus é o Pai de Amor e Justiça, olvidamos do poder da prece, esquecemos tantas coisas... Analisando, no entanto, a vida de algumas criaturas verificamos que sofrem muito mais do que nós e não se mostram rebeldes, nem ingratas. Recordamos que, mais ou menos seis anos antes de morrer, Francisco de Assis passou a sofrer de uma grave doença nos olhos, que lhe causava fortes dores. A visão parecia coberta por um véu. Primeiro, ele começou a sentir como se os olhos estivessem se rasgando. Mais tarde, as pálpebras incharam devido à irritação e infecção. Esfregar os olhos somente piorava. A luz o incomodava. E sua visão foi ficando sempre pior. Acredita-se que se tratava de uma doença que grassava no clima seco e arenoso do Egito: o tracoma. Francisco havia passado bastante tempo no acampamento dos cruzados, nas margens fétidas e úmidas do rio Nilo. Ali faltava higiene adequada e as doenças se alastravam. No início da primavera de 1225, amigos levaram Francisco a um médico que havia imaginado um método revolucionário no tratamento das doenças dos olhos. O médico chegou com o instrumento de ferro usado para cauterização. Acendeu o fogo e depois colocou nele o ferro. Os amigos explicaram a Francisco o que ia fazer o médico: já vermelhos, os ferros seriam aplicados para queimar a carne dos dois lados da cabeça de Francisco, das maçãs do rosto às sobrancelhas. As veias das têmporas seriam abertas e a esperança era que a infecção que causava a cegueira fosse drenada. Enquanto os ferros avermelhavam, Francisco espantou a todos. Com voz fraca e, com certeza, ansiosa, falou: Meu irmão fogo, és nobre e útil entre todas as criaturas do Altíssimo. Sê bondoso comigo nesta hora. Durante muito tempo te amei. Rogo a nosso Criador que te fez para que tempere teu calor, a fim de que eu possa suportar. E com um gesto, abençoou o fogo. Os amigos, apavorados com o procedimento que seria executado, fugiram e ele ficou só com o médico. Os ferros foram aplicados e a queimadura se estendeu das orelhas às sobrancelhas. A cabeça ficou cauterizada. As veias abertas. Quando os companheiros retornaram à sala, o paciente estava extraordinariamente calmo e sem queixas. Todo o procedimento foi ineficiente mas o que ressalta é a fé de Francisco, exemplificando que o verdadeiro cristão deve suportar a dor, com serenidade, atestando da sua coragem. 
* * * 
Com certeza, muito ainda temos que aprender. Mas, enquanto os dias de bonança nos abraçam, oremos e peçamos a Deus que nos fortaleça para os dias de tempestade que poderão advir, em algum momento. Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. Quinze (1225-1226), do livro Francisco de Assis, o santo relutante, de Donald Spoto, ed. Objetiva. Em 07.07.2010.

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