quarta-feira, 3 de abril de 2024

FOTOGRAFANDO COM A ALMA

Vitória de Samotrácia
Ela sonhava ver, ao vivo e a cores, todas as belezas da arte que os livros escolares lhe mostravam. 
A escultura fenomenal da Vitória de Samotrácia era uma delas. 
Com suas asas gigantes, projetada para frente, os respingos do mar na túnica de linho drapeado colado ao corpo, uma parte da túnica molhada descendo pelas pernas, terminando esvoaçadas pelo vento, nas suas costas. 
Uma primorosa obra de arte em mármore branco. 
Encontrada no santuário dos grandes deuses da ilha de Samotrácia, na Grécia, numa cavidade de rocha, no alto da colina, calcula-se que tenha sido esculpida entre 220 e 190 a.C. 
O nome Vitória lembra a deusa mensageira do triunfo e da glória aos vencedores dos campos de batalhas terrestres ou navais. 
Apaixonou-se, ainda, pelas cores fortes, com seus jogos de sombra e luz, dos quadros do pintor italiano Caravaggio.
Visitou, em seus sonhos, cada uma das suas produções, retratando realismo e temas religiosos. 
Sem recursos que lhe permitissem sequer imaginar que poderia ver fisicamente tais obras, ela jamais deixou de ansiar pela concretização de seus sonhos. 
Então, um dia, amigos a brindaram com uma viagem inesperada à França. 
E ela pôde cruzar mais de uma das pontes do rio Sena, em Paris, visitar a Catedral de Notre Dame, com suas gárgulas e quimeras, o Arco do Triunfo, a Torre Eiffel. 
Quantas belezas, inenarráveis. 
Ela viu tudo com a alma, gravando, de forma indelével, cada detalhe para não esquecer mais. 
Então, quando chegou ao museu do Louvre, sentiu o inacreditável se concretizar. 
Admirou esculturas famosas, como a Vênus de Milo, com seu manto ricamente trabalhado, os cavalos de Marly, o despertar de Psiquê pelo beijo de Eros... 
Longamente se deteve ante a Vitória de Samotrácia. 
A estrutura maciça parecia deslizar suavemente cortando o vento, com toda a leveza da escultura grega. 
Quase que ela se deteve a contar os respingos d’água...
Depois, sentou-se na sala, em frente aos colossais quadros de Caravaggio. 
Narciso, a flagelação de Cristo, a morte da Virgem... 
Ficou ali, contemplando, quase desacreditando que seu sonho estava se realizando. 
Vinte anos depois, ela tem a capacidade de detalhar minúcias do que viu e fotografou com a alma ansiosa de arte e beleza.
E permanece agradecida aos amigos que lhe concederam essa imensa alegria. 
* * * 
A vida é assim. 
Guarda muitas surpresas. 
Reviravoltas ocorrem transformando o hoje. 
Oportunidades se apresentam quando menos se espera.
Sem falar que a generosidade de alguns corações transcende todas as expectativas. 
Esse relato, além da gratidão, ressalta outro item. 
O melhor registro que se faz, nesta vida, não é o da captação digital, do vídeo, da foto. 
O mais duradouro registro é aquele que a alma realiza, enquanto se alheia do entorno, do vozerio dos que passam indiferentes a detalhes. 
É o registro autêntico, guardado na intimidade e que pode ser acionado, quando se queira, para reviver momentos de puro êxtase, que tornam nossa vida uma experiência inigualável.
Você já experimentou fotografar com a alma? 
Redação do Momento Espírita 
Em 02.04.2024.

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