No entanto, não se pode viver de recordações.
Isso nos tiraria o foco da realidade.
E nos levaria a desconsiderar tudo de excelente de que usufruímos no presente.
Quem diz que o passado era melhor está fechando os olhos para todas as conquistas de que desfrutamos.
Vivemos com tantas facilidades que nos parece impossível nossos pais e avós terem conseguido viver sem elas.
Estamos habituados a que as notícias nos cheguem em tempo real pela TV, pela internet, pelas redes sociais.
Lembramos de nossa mãe contar que, em sua meninice, sentava-se aos pés de seu avô para ouvi-lo ler o jornal, com as notícias vindas do outro lado do mundo.
Ele lia em seu idioma pátrio, o italiano, o que acontecera no Velho Mundo, na sua terra natal, há semanas.
Ela falava de um tempo em que crescera lendo, bordando, costurando à luz de um lampião.
Na atualidade, quando a energia elétrica some por algumas horas, perdemos o chão.
Redescobrimos, então, as páginas de livros ou revistas.
E a luz das velas, das lanternas, a luz emergencial, tudo nos parece insuficiente para a correta visualização das letras, das cores, dos desenhos.
Sim, os tempos do hoje nos oferecem comodidades múltiplas.
Com certeza, não desejaríamos trocar por noites do ontem sem TV, sem internet, sem a rapidez das mensagens pelo whatsApp e tantas possibilidades mais.
Mas é bom recordar alguns momentos ímpares, difíceis de serem reprisados na atualidade.
Recordamos das tardes quentes, em que, na pequena cidade interiorana, à falta de piscina, enchíamos com a água fresca do poço o enorme tanque de cimento que tínhamos em casa.
E, crianças, brincávamos por horas, até ficarmos com a pele dos dedos das mãos e dos pés enrugada de tanto tempo imersos na água.
Recordamos as noites de verão, em que à luz dos postes da rua, as pessoas se sentavam frente a suas casas, nas calçadas, para trocar impressões dos sucessos do dia.
Achegavam-se os vizinhos, com suas cadeiras de palha e ia aumentando a roda.
Recordações.
É bom lembrar as coisas belas, as cenas de amizade e o jogar conversa fora, num tempo sem tempo.
Sem compromissos.
Sem pressa.
Cada um ouvindo o outro.
Conversas que não iam muito além das traquinagens dos filhos peraltas, da conhecida que tivera mais um filho, das notícias ouvidas no rádio, no jornal do meio-dia.
Olhava-se a lua, e se fazia o prognóstico do clima no dia seguinte.
Todos eram meteorologistas com pós-graduação na escola da observação diária.
Enquanto recordamos, muitos rostos se sucedem na memória, como numa fita cinematográfica.
Avós, pais, primos, amigos, conhecidos.
Tantos que partiram há pouco ou há muito tempo.
E nos perguntamos:
-De onde estão, recordam também?
Vêm ao nosso encontro, nesses momentos?
Suas almas se emocionam, riem, choram, desfrutando dessas mesmas doces lembranças?
Não deixa de ser uma evocação espontânea, um reencontro, na câmara do coração, que nos faz repetir:
Saudades, queridos...
Um dia, tornaremos a estar juntos.
Tão bom recordar...
Redação do Momento Espírita, com versos iniciais
da Valsa da Saudade, de Francisco Petrônio.
Em 29.4.2024
Nenhum comentário:
Postar um comentário