domingo, 31 de março de 2024

O LOCAL, O AGORA, A OPORTUNIDADE

Todos os que nos encontramos neste planeta, sem exceção, caminhamos para o mesmo destino e objetivo. 
Cada qual no seu ritmo, no seu passo, conforme queiramos utilizar nosso livre-arbítrio. 
Alguns vamos a passo lento, quase parando. 
Outros, andamos um pouco, paramos, como para descansar da jornada e retomamos o passo, logo em seguida. 
Muitos demonstramos ter pressa para alcançar o objetivo e aceleramos a caminhada, quase correndo, à frente. 
Damos passadas longas, largas. 
Adiantamo-nos aos demais. 
De toda forma, obedecemos aos objetivos estabelecidos pela Lei Divina de consolidar nosso conhecimento e compreensão das Suas leis. 
Por isso, a Providência Divina nos permite, de tempos em tempos, novas experiências no mundo material. 
São as nossas tantas vidas. 
Esta que ora vivemos não é a primeira, tampouco será a última. 
Cada uma se constitui de vários exercícios e desafios que nos compete enfrentar. 
Para alguns são problemas físicos, limitações do organismo, exigindo paciência e superação. 
Outros precisamos lidar com questões financeiras, a vida sem muitas regalias, sem excessos ou diversões, exigindo disciplina. 
Muitos enfrentamos os relacionamentos difíceis no seio familiar, reencontros nem sempre agradáveis. 
No entanto, são oportunidades de aparar arestas, superar antagonismos e exercitar a afeição. 
Nascem aí os desafios da paciência, da compreensão, do perdão. 
Não há, nesta existência, quem tenha nascido sem objetivos bem traçados. 
A oportunidade na carne é preciosa demais para não ter um fim nobre e significativo. 
O que ocorre é que estagiamos, de forma individual, em momento muito próprio de nossa história evolutiva. 
Como são largas as experiências e muitas as vidas já vividas, podemos dizer que somos o resultado e a herança de todas elas.
Dessa forma, os desafios e lutas que enfrentamos, são condizentes somente para nós mesmos, para ninguém mais. 
Logo, não há motivo para desejarmos ter a vida do outro, ser como o outro, desfrutar do que tenha o outro. 
O meio em que nos encontramos, nesta existência, a família, a época, tudo isso compõe o melhor cenário para nosso necessário aprendizado. 
São as situações que a vida nos oferta que nos permitirão desenvolver as virtudes, amadurecer o intelecto, crescer para a luz. 
A nós compete traçar a melhor rota, para concretizar conquistas e realizações. 
Também estabelecer o ritmo que desejamos. 
Porém, jamais imaginemos que fomos injustiçados, ou que algo ocorre sem o conhecimento e consentimento da Providência Divina.
Não andamos ao acaso, sem rumo. 
Um Plano Divino nos orienta. 
Este é o momento mais apropriado para estarmos aqui. 
Cabe-nos, somente, nos servir das horas, das provas, dos desafios para lutar, para crescer, para ir em frente. 
Nós podemos porque, antes de mais nada, somos deuses. 
Ou seja, Espíritos imortais, criados à semelhança de um Pai Amoroso e Bom. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita 
Em 7.4.2022.

sábado, 30 de março de 2024

LOBOS INTERNOS

PAULO DE TARSO
Um dia, um velho avô foi procurado por seu neto, que estava com raiva de um amigo que o havia ofendido. 
O sábio velhinho acalmou o neto e disse com carinho: 
-Deixe-me contar-lhe uma história. Eu mesmo, algumas vezes, senti muito ódio daqueles que me ofenderam tanto, sem arrependimento. Todavia, o ódio corrói a nossa intimidade mas não fere nosso inimigo. É o mesmo que tomar veneno desejando que o inimigo morra. Lutei muitas vezes contra esses sentimentos. 
O neto ouvia com atenção as considerações do avô. 
E ele continuou: 
-É como se existissem dois lobos dentro de mim. Um deles é bom. Não magoa ninguém. Vive em harmonia com todos e não se ofende. Ele só lutará quando for certo fazer isto, e da maneira correta. Mas, o outro lobo, ah!, esse é cheio de raiva. Mesmo as pequenas coisas desagradáveis o levam facilmente a um ataque de ira! Ele briga com todos, o tempo todo, sem qualquer motivo. É tão irracional que nunca consegue mudar coisa alguma! Algumas vezes é difícil de conviver com estes dois lobos dentro de mim, pois ambos tentam dominar meu Espírito. 
O garoto olhou intensamente nos olhos de seu avô e perguntou: 
-E qual deles vence, vovô? 
O avô sorriu e respondeu baixinho: 
-Aquele que eu alimento mais frequentemente. 
* * * 
E você, qual dos dois lobos tem alimentado com mais frequência? 
A figura do lobo é significativa, uma vez que representa o grau de animalidade que ainda rege as nossas ações. 
Enquanto o ser humano não desenvolver todas as virtudes que o elevarão à categoria de Espírito superior, sempre haverá em sua intimidade um pouco dos irracionais. 
E essa luta interna é que irá definindo o nosso amanhã, de acordo com o lado que mais alimentamos. 
Por vezes, um simples ato impensado, uma simples ação infeliz, pode nos trazer consequências amargas por longo tempo. 
Paulo, o grande Apóstolo do Cristianismo, identificou muito bem essa luta íntima quando disse: 
-O bem que eu quero, esse eu não faço, mas o mal que não quero, esse eu faço. 
Indignado por algumas vezes ainda ser dominado pelo homem velho, em prejuízo do homem novo que desejava ser, Paulo desabafou e nos deixou esta grande lição: 
-É preciso perseverar. 
É preciso deixar que esse lobo sedento de vingança e obcecado pela ira, que ainda encontra vitalidade em nosso íntimo, não receba alimento e desapareça de vez por todas cedendo lugar ao homem moralmente renovado que desejamos ser. 
Agindo dessa maneira poderemos um dia, não muito distante, dizer, como o próprio Apóstolo Paulo disse, depois de vencer a si mesmo:
-Já não sou eu quem vive, é o Cristo que vive em mim. 
Mas, para que cheguemos a esse ponto, temos que travar muitas batalhas internas a fim de fazer com que os ensinamentos e os exemplos de Jesus, o Mestre por excelência, façam sentido para nós a ponto de se constituir em força motriz a impulsionar os nossos pensamentos e atos.
 * * * 
Paulo de Tarso renunciou a muitas coisas para seguir a Jesus. 
Ele, que foi um dos primeiros perseguidores dos cristãos em nome da sua crença religiosa, depois que viu o Mestre às portas da cidade de Damasco, tornou-se Seu seguidor fiel até os últimos dias de sua vida.
Mas, para isso, foi preciso silenciar muitas vezes a fera interna que tentava falar mais alto. 
Foi preciso renunciar a si mesmo, deixar o orgulho de lado, tomar da sua cruz e seguir os passos luminosos do Mestre de Nazaré. 
Redação do Momento Espírita com base em conto de autoria ignorada. 
Em 18.10.2010.

sexta-feira, 29 de março de 2024

O LIXO DOS OUTROS

A pequena cidade estava em alvoroço. 
Um grupo de comerciantes promovia uma grande atração, naquele domingo, prometendo atividades e diversão ao povo. 
Logo cedo, uma corrida de bicicletas faria o contorno da cidade, passando pelos principais pontos. 
A chegada final e a premiação seriam na praça central. 
O vencedor ganharia uma bicicleta nova, que estava exposta enfeitada com laços de fitas coloridas. 
Depois, haveria uma gincana para a criançada com uma infinidade de prêmios para os vencedores. 
Lanches, sucos para todos, guloseimas e muita alegria, era o que prometia aquela manhã de domingo. 
Ao som de música alegre, foi dada a partida e começou a corrida de bicicletas. 
Os amigos Ana e Luiz ficaram próximos e seguiam, pedalando com vontade. 
De repente, foram ultrapassados por outro competidor que, agressivo, gargalhando, esbarrou em Luiz, por pouco não o derrubando. 
A resposta do rapaz foi acenar, sorrir e prosseguir pedalando. 
Ana irritou-se e, inconformada, perguntou ao amigo como ele conseguia não reagir àquela maldade.
A resposta foi igualmente calma: 
Não costumo assumir o latão de lixo dos outros. 
A amiga continuou intrigada, não entendendo o que ele queria dizer com aquela expressão. 
Então, continuando suas pedaladas, Luiz explicou que todos temos nossos lixos internos. 
São o azedume, o ciúme, a raiva, a inveja e outros sentimentos do gênero. 
Quando nosso latão de lixo começa a transbordar, muitos de nós costumamos despejá-lo em quem está próximo. 
Basta que entremos nesse clima de desafio e ficamos atolados no tal lixo, que não vemos, mas que nos deixa totalmente contaminados. 
E concluiu, sorrindo: 
-Tenho procurado me controlar para não aceitar o lixo dos outros. Afinal, basta o meu, que estou buscando decompor para adubar minhas flores. 
* * * 
Se todos tivéssemos essa compreensão, nosso mundo seria diferente.
Viveríamos mais tranquilamente. 
Com os olhos físicos apreendemos apenas o que é material. 
Mas, quando nossa compreensão se expande, percebemos que muito do que vivenciamos está na dimensão dos sentimentos, das emoções e pensamentos. 
Dessa forma, quando sintonizamos com essa dimensão íntima das pessoas com as quais convivemos ou nos relacionamos, podemos absorver vibrações benéficas ou malfazejas, a depender de como elas estejam em sua intimidade. 
Quando temos consciência disso, sabemos que podemos escolher entre aceitar ou repelir a sintonia, que poderá nos beneficiar quando boa ou nos atolar em lixo alheio que somente nos prejudica.
Importante nos conhecermos, nos amarmos, e nos valorizarmos, para optarmos, sempre, pelo melhor para nós mesmos. 
E não pensemos em culpar aos outros pelo nosso mal estar porque a questão tem a ver com a nossa sintonia. 
Se não estivermos na mesma faixa de pensamentos, sentimentos e emoções, não entraremos em sintonia. 
Afinal, enquanto existem pessoas acumulando lixo em sua intimidade, muitas outras espalham o perfume e a delicadeza das suas presenças. 
Saibamos realizar opções acertadas, corretas, desejando o melhor para nós mesmos. 
Porque se estivermos bem, de nossa parte igualmente somente espalharemos boas vibrações a todos os que compartilhem do lar, da escola, do trabalho. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 20.4.2019.

quinta-feira, 28 de março de 2024

PARTIDAS PREMATURAS

Ante o pequeno caixão guardando o corpo do filho criança, a dor dos pais, muitas vezes, alcança o desespero. 
-Por que, tão pequeno, se foi?
Nem teve tempo de sentir o sabor da vida, descobrir o perfume da infância, com seus folguedos e alegrias. 
Outros, que velam o corpo do rapaz jovem, cheio de viço e de planos, bradam sem entender: 
-Por que, agora? 
Mal adentrara a faculdade. 
Faltavam poucos dias para se casar. 
-Por que vidas tão preciosas são cortadas quando mal desabrocham ou apenas começam a dar frutos, enquanto outros permanecem na Terra por anos infindáveis? 
Tantas pessoas sem rumo, tantas que nem sabem o que fazer da vida, tantas que se dizem cansadas de infortúnios e sofrimentos. 
-Por que Deus não as leva em vez daqueles que são promessa de beleza e utilidade? 
-Por que se vão criaturas que somente semeiam o bem, a ventura, que produzem para a sociedade enquanto permanecem tantos que são um peso para a família, para a comunidade? 
Dizemos que Deus é a sabedoria, a misericórdia, a justiça infinita.
-Como pode errar assim? 
Quando partem pessoas boas, é bastante comum alguns afirmarmos:
-Deus gosta dos bons por isso os chama primeiro. 
Estranho pensamento. 
Os bons não deveriam permanecer na Terra para a modificarem, para com seu exemplo alterarem fatos tão ruins que acontecem, todos os dias? 
Precisamos pensar um tanto mais a respeito. 
Guardemos a certeza de que Deus nunca erra. 
Os que partem antes é porque cumpriram a missão para a qual vieram. 
Crianças em tenra idade ou jovens, no vigor da mocidade, que se vão, quase sempre, são Espíritos que vieram para a Terra para completar um período que tenham abreviado, em existência anterior.
Dizemos quase sempre, porque alguns nascem com tarefas determinadas: unir seus pais, promover mudanças em seus familiares. 
Alguns vêm parecendo anjos tutelares, estimulando os que os cercam à criação de algo útil para a sociedade. 
Ou trazem a missão de apresentar ao mundo a grandeza do amor, da beleza. 
A partir do momento em que concretizam as suas missões, estão habilitados a retornar ao mundo espiritual. Tudo isso podemos achar que é utopia. 
Ou podemos nos aprofundar no raciocínio, e concordar que a justiça divina nunca erra. 
E então, aceitarmos que razões fortes determinaram a passagem desses seres que tanto amamos, num prazo bem menor do que estimávamos. 
Ficamos com a tristeza das suas ausências físicas. 
Também com suaves lembranças. 
Os meses de gestação, os primeiros movimentos, a expectativa do nascimento. 
Ou os primeiros anos da infância, os primeiros passos, os primeiros balbucios, tudo registrado no mais íntimo da alma saudosa. 
Os abraços, o adentrar de forma barulhenta, as passadas fortes, o anúncio da vitória no vestibular ou do estágio tão cobiçado. 
Tanto a lembrar... 
Coisas boas, para honrá-los, para lhes enviar as flores delicadas da nossa emoção, do nosso carinho para lhes perfumar a nova jornada, na Espiritualidade, onde nos reencontraremos. 
Lágrimas, sim. 
Desespero, jamais. 
Prossigamos a amá-los, na ternura das recordações mais carinhosas e doces. 
Redação do Momento Espírita 
Em 28.3.2024.

quarta-feira, 27 de março de 2024

TUDO QUE NÃO ERA ELE

EMMANUEL E CHICO XAVIER
Tudo que não era Ele, era deserto. 
Era terreno seco, terreno hostil. 
Tudo que não era Ele, era incerto. 
Era apenas espera à margem de rio. 

Água de poço... não matava sede. 
Não havia peixe... onde caía a rede. 
Tudo que não era Ele, era deserto. 

Terra sem sal, mundo sem luz. 
Um grande areal, onde não se produz. 
Tudo que não era Ele, era deserto. 
Era terreno seco, terreno hostil. 
E as almas sem viço, e as almas sem verso, 
Eram sonhos de água em vasos vazios. 
* * *
Jesus não veio somente para dividir o calendário de uma grande parte do mundo. Não é isso que o faz grande. 
Calendários são convenções e poderiam ser apenas imposições dessa ou daquela cultura dominante em determinada época. 
O antes e depois dEle não diz respeito ao tempo ou a algo estabelecido pelos padrões do mundo terreno. 
É muito maior que isso. 
Quando começamos a pesquisar a existência desse Espírito, nos surpreendemos com relatos que mostram Jesus participando da formação do planeta Terra. 
As informações espirituais O chamam de divino escultor e narram, com beleza indefinível, os primeiros instantes cósmicos do planeta:
-Ele operou a escultura geológica do orbe terreno, talhando a escola abençoada e grandiosa, na qual o Seu coração haveria de expandir-se em amor, claridade e justiça. 
Com os Seus exércitos de trabalhadores devotados, estabeleceu os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra, organizando-lhes o equilíbrio futuro na base dos corpos simples de matéria, a partir de uma unidade substancial, existente por toda a parte no Universo. 
Sob as vistas de Deus, organizou o cenário da vida, criando o que fosse indispensável para a existência dos seres que a viriam habitar.
São narrações de fatos ocorridos há bilhões de anos. 
E Jesus já era esse Espírito perfeito a quem foi confiado, por Deus, o cuidado de um planeta, para que o preparasse para os povos que nele realizariam suas jornadas, umas após outras. 
Foi esse mesmo Espírito que, depois de toda essa preparação, programou a Sua própria vinda a este mundo, permanecendo aqui pouco mais de trinta anos. 
Foi esse mesmo Espírito de luz, que conhecia os mistérios do Universo e suas leis que, humilde, nasceu entre nós, obedecendo todas as regras da Terra. 
Foi concebido por mãe e pai, teve infância, adolescência e vida adulta, em corpo material. 
Conviveu conosco, compartilhou Sua sabedoria com os que estávamos na Terra naqueles dias, desde os mais simples aos mais sábios. 
Fez questão de exaltar a simplicidade e pureza de coração.
Realmente, tudo que não era Ele ainda era deserto, naquela época, pois Ele veio trazer a água viva, a água verdadeira que mata a sede da alma. 
Sua mensagem permanece. 
Ele também, pois continua conosco, prossegue acompanhando a evolução do planeta e coordenando seus destinos. 
Muitos ainda somos sonhos de água em vasos vazios. 
O poço está aqui, ao nosso lado, sempre esteve. 
Se desejarmos, podemos saciar para sempre nossa sede de verdade, justiça e amor. 
Redação do Momento Espírita, com base em poema de Andrey Cechelero intitulado Tudo que não era Ele e no cap. 1, do livro A caminho da luz, pelo Espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ed. FEB. 
Em 27.3.2024.

terça-feira, 26 de março de 2024

AINDA EU, AINDA DEUS

Depois da chuva; depois das guerras; 
Depois da colisão com Andrômeda; 
Depois que tudo voltar a ser Atlântico; 
Depois do sol apagado; das ilusões desfeitas; 
Do impermanente. 
Depois do material e do irreal; 
Ainda eu; ainda Deus. 
* * * 
Uma aflição se abate sobre a Humanidade quando se fala em depois, quando se fala no que vem após isso tudo, após a vida, após o planeta... 
A lei de destruição atua incessantemente, renovando o que é material e mostrando a continuidade do incorpóreo. 
O nosso sol tem data para se apagar. 
O planeta Terra, como conhecemos, após cumprir bravamente seu papel, não mais poderá ser habitado por seres como nós. 
Nossa galáxia está em rota de colisão com a vizinha, Andrômeda. 
Estima-se que, em quatro ou cinco bilhões de anos, teremos uma nova galáxia formada. 
E o que será da Humanidade? 
Não nos preocupemos. 
Todos esses fenômenos fazem parte das leis do Universo. 
Quando chegar esse tempo e, eventualmente, o planeta não mais propiciar condições à vida como conhecemos, já estaremos habitando novos astros no Universo. 
A Terra não é o único planeta destinado às provas e às expiações. Ainda pensamos pequeno. 
As distâncias e os números nos assustam e nos perdemos nos cálculos.
Muitas vezes, nem a imaginação alcança a grandiosidade do que temos à nossa volta. 
Não nos preocupemos. 
O que é impermanente passa. 
O que é permanente fica.
Depois de todas essas revoluções, depois de tudo que possa acontecer, ainda seremos nós e ainda teremos Deus.
Dependendo apenas de nosso próprio esforço, seremos cada vez mais lúcidos, mais inteligentes e mais amorosos. 
Mais à frente poderemos auxiliar na instalação de novas Humanidades aqui e ali. Espíritos novos, que iniciem seu processo evolutivo, vão precisar daqueles que possuem experiência e estejam aptos a lhes dedicar atenção e compreensão. 
Muito nos espera. 
Não foi de forma leviana que o Espírito perfeito que esteve na face do planeta nos confessou: 
-Podeis fazer o que eu faço e muito mais! 
Que bela declaração! 
Que visão de futuro! 
Jesus enxergava o potencial de cada um daqueles que estávamos ali, ao Seu lado, recebendo a oportunidade bendita de ouvir a verdade da Sua boca. 
Por isso, não nos aflijamos com o futuro.
Por vezes, a lei de destruição nos assusta. 
Mas, lembremos que depois de tudo, ainda seremos nós mesmos e ainda teremos Deus. 
As coisas, os lugares, as paisagens, o planeta - tudo pode ser destruído.
Haverá, no entanto, outras localidades, outras paisagens e ainda nós, ainda nossos amores e ainda nosso Criador. 
Não vos inquieteis pelo dia de amanhã. 
Cuidemos do hoje, cuidemos de amar e de aprender tudo que possamos em cada encarnação. 
Este é o tempo que temos. 
E que o depois cuide do depois. 
Asserenemos a alma. 
Trabalhemos com confiança e a certeza de que há planos imensos para nós e para tudo que nos envolve. 
Depois do material e do irreal, Ainda eu, ainda Deus
Redação do Momento Espírita, com base no poema Ainda eu, ainda Deus
Em 26.3.2024.
https://momento.com.br/pt/index.php

segunda-feira, 25 de março de 2024

UM REI INCOMUM

Os reis nascem em palácios, cercados de todo conforto, entre rendas, bordados e finos tecidos, em berço preparado com antecedência. 
Ele nasceu num estábulo, que lhe foi emprestado, cercado por animais que ali se abrigavam. 
O carinho de Sua mãe o envolveu em panos que levara consigo na longa viagem. 
Os reis dispõem de criados que os servem, a qualquer hora. 
Ele afirmou que não viera para ser servido, mas para servir. 
Os reis têm quem lhes prepare as refeições e as sirvam em pratos de fina porcelana. 
Ele preparou fogo, na praia, assou peixes e distribuiu as porções, ali mesmo, aos Seus seguidores. 
Os reis têm servos para os auxiliarem a se vestir, escolher a melhor roupa. 
Ele cingiu uma toalha e m torno dos rins e lavou os pés dos que elegera para continuadores da Sua obra. 
Os reis preparam grandes mausoléus para lhes receber os restos mortais. 
Ele precisou da compaixão de um amigo que lhe cedeu uma tumba jamais usada para lhe acolher o corpo sem vida. 
Os reis são conhecidos pelos largos domínios de sua propriedade. 
Ele afirmou não dispor de uma pedra para recostar a cabeça. 
Os reis, em suas viagens, são anunciados por batedores, que lhes abrem o caminho, enquanto seguranças garantem que ninguém invada o perímetro por onde eles haverão de transitar. 
Ele se serviu de um homem rude, vestido com pele de animal, uma cabeleira que chamava a atenção, uma voz que soava alta:
-Eu sou a voz que clama no deserto. Aplainai os caminhos do Senhor. 
E quando chegou, viveu cercado pelo povo necessitado de toda ordem, do corpo e do espírito. 
Jamais pediu que alguém fosse afastado de Sua presença ou impedido de se lhe aproximar. 
Na única oportunidade, em que os que O amavam tentaram deter as crianças de irem ao Seu encontro, pois desejavam que repousasse um pouco, Ele advertiu: 
-Deixai vir a mim os pequeninos e não os impeçais. 
Os reis viajam em carros luxuosos, com ar-condicionado, a velocidades incríveis. 
Ele realizava suas viagens, a pé, nas estradas poeirentas, no calor dos dias, ao sabor dos ventos. 
Uma vez somente montou um jumento. 
Foi tão inusitada Sua entrada na cidade que o povo acorreu, dispondo à Sua passagem, ramos de oliveira, de palmeira, ou seus próprios mantos. 
O povo decidira honrá-lO dispondo o tapete do Seu afeto, materializado com o que tinham à mão. Os reis têm secretários para ajustarem a sua agenda, verificando se dispõem de tempo para esse ou aquele compromisso. 
Ele estava à disposição a qualquer hora, tanto que, por vezes, não lhe davam tempo para a refeição ou o repouso. 
Os reis têm anunciados os seus pronunciamentos com antecedência a fim de que todos se preparem para ouvir. 
Ele subia a um monte, ou se posicionava num barco, próximo à margem de um lago e se punha a falar para quem O desejasse ouvir.
Os reis decretam leis conforme sua vontade, seus caprichos. 
Ele ofereceu a lei de amor, dizendo-se intérprete da vontade do Pai Celeste. 
Os reis se permitem burlar as leis, quando lhes convêm. 
Ele foi sempre o cumpridor das leis dos homens, mesmo que pudessem parecer injustas. 
Um Rei em tudo incomum. 
Sigamo-lO. 
Redação do Momento Espírita 
Em 25.3.2024.

domingo, 24 de março de 2024

LIVROS E LIVROS

Léon Tolstói
É melhor conhecer poucas coisas, boas e necessárias, do que muitas coisas inúteis e medíocres. 
O aforisma é de Léon Tolstói, um dos maiores escritores russos de todos os tempos, e figura em sua obra Pensamentos de Homens Sábios, de 1904. 
Ensinamento de data antiga, mas que sempre será atual e preciso.
Nos dias de hoje, podemos dizer que é indispensável para aqueles que desejam uma vida bem orientada. 
Outro pensador iluminado, Sêneca, traz uma outra afirmação deveras interessante: 
-Há um número excessivo de livros que existem apenas para entreter a sua mente. Portanto, leia apenas aqueles livros reconhecidos como bons. 
O curioso é que o filósofo Sêneca viveu entre o ano quarto – antes da Era Cristã, e o ano sessenta e cinco – depois de Cristo. 
Suas ideias já desvendavam o futuro também, por certo, quando teríamos uma infinidade de títulos à nossa disposição. 
Vivemos a época das obras literárias descomprometidas, escritas de qualquer forma, escritas por qualquer um. 
Títulos e mais títulos enxameiam nas livrarias, querendo conquistar os leitores com seus temas provocantes, com suas capas chamativas, com suas propostas inusitadas. 
A literatura transformou-se num grande mercado, e isso trouxe uma nova realidade para o mundo. 
Em nome de uma suposta liberdade de expressão, temos tudo que se possa imaginar. 
Por isso temos que ter cuidado, muito cuidado, e saber selecionar bem o que lemos. 
Existem livros e “livros”. 
Obras que se dizem apenas entretenimento, e obras que têm propostas mais profundas e belas. 
Temos que ser cuidadosos com os modismos, que fazem com que vários autores escrevam sobre uma mesma ideia ao mesmo tempo.
Revelando isso, desvendando aquilo que o outro já explicou etc.
Infelizmente, temos muitos exploradores de temas momentosos, que alardeiam em suas capas que irão trazer novas informações, mas que, em verdade, são apenas reprises com caras novas. 
Assim, como a leitura é um grande alimento da alma, temos que escolher muito bem o que irá compor essa nossa alimentação intelectual. 
Primar pela qualidade e não pela quantidade faz-se fundamental. 
Ler muitos e muitos livros, apenas para ficar atual, ou para dizer que lê n obras por mês, é pura vaidade e perda de tempo. 
As obras ricas, os verdadeiros tesouros da literatura, nunca deixam de ser atuais, e podem ser lidas várias vezes, e em cada nova leitura iremos encontrar coisas novas. 
* * * 
Procuremos educar nosso hábito de leitura. 
Procuremos referências seguras e experientes para decidir o que ler.
Obviamente que uma leitura leve, vez ou outra, não nos fará mal.
Mas que tenhamos como peças principais de nossa vida as verdadeiras obras, ricas da arte de escrever, aquelas que têm o poder de fazer pensar, de provocar indagações profundas em seus leitores.
Os grandes livros têm o poder de transformar os homens, através das ideias que lhes inspiram. 
Redação do Momento Espírita, com base na obra Pensamentos Para Uma Vida Feliz, de Léon Tolstói, ed. Prestígio. 
Em 3.6.2014.

sábado, 23 de março de 2024

O LIVRO MAIS PRECIOSO

Richard Simonetti
O professor, em um curso de mestrado, propôs aos alunos: 
-Se vocês fossem morar numa ilha deserta e pudessem levar apenas um livro, qual deles escolheriam? 
As respostas foram variadas, segundo os interesses, concepções e predileções de cada um. 
-Os Miseráveis, de Victor Hugo. Emílio, de Rousseau. 
-O Capital, de Karl Marx. 
-A Origem das D=Espécies, de Darwin. 
Depois de todos terem se manifestado, o professor sorriu e comentou: 
-Não seria mais proveitoso um manual de sobrevivência? 
O professor foi verdadeiramente prático. 
Afinal, todos os livros citados eram preciosos. 
Contudo, eram inúteis em relação ao essencial: como sobreviver numa ilha deserta? 
* * * 
Também na Terra, na qualidade de Espíritos reencarnados, em trajetória de progresso, necessitamos de um manual de sobrevivência. 
Não exatamente para as questões físicas, pois que essas serão bem cuidadas graças ao instinto de conservação. 
Mas um manual de sobrevivência espiritual, isto é, um manual que nos garanta a integridade dos projetos que fizemos antes de renascer na carne. 
Projetos que elaboramos com cuidado como a nossa harmonização com desafetos de outras épocas; a consolidação dos laços afetivos; a reforma íntima. 
Um manual que nos estabeleça normas e diretrizes para a nossa colaboração com Deus na obra da Criação. 
Um abençoado manual de sobrevivência, um roteiro seguro para o cumprimento dos sagrados objetivos que nos trouxeram à vida física e nos garanta existência feliz e produtiva. 
Pois esse manual a Divindade plantou em nossa intimidade.
Podemos abrir um dos capítulos e ler a respeito da fé. 
Fé que nos alerte da certeza de que estamos na Terra guardados pelo amor de Deus, que jamais desampara os Seus filhos. 
Fé que nos informe, todos os dias, que tudo tem uma razão de ser, mesmo a dor mais profunda e o problema mais crucial. 
Mesmo que, agora, não tenhamos condições de perceber tais razões.
Podemos passar adiante e ler o capítulo Esperança. 
Então nos sentiremos fortes para os embates, quaisquer que sejam, pois a esperança nos dirá que fomos criados para a vitória, jamais para a derrota. 
A esperança nos recordará das tempestades que varrem a Terra, parecendo destruí-la e dos dias seguintes em que o sol beija a pradaria, aquece os jardins e acaricia as flores para que elas espalhem seu inebriante perfume. 
A esperança nos falará dos invernos que parecem infindáveis, das noites que se fazem intermináveis, acenando-nos com a lembrança das primaveras e dos verões ensolarados, dos dias reluzentes de muita alegria. 
* * * 
Bem falou Jesus: 
-O reino dos céus está dentro de vós. 
O que nos cabe é ler nas páginas da nossa consciência as mensagens do amor que Deus, na qualidade de Pai, colocou em cada um de nós.
Assim, logo mais, teremos banido da Terra a dor, a violência e a tristeza porque lendo os capítulos desse bendito manual, descobriremos que tudo é passageiro na Terra e que nossa jornada por ela tem um objetivo maior: o progresso. 
E progredir é perseguir a perfeição. 
Ser perfeito é ter encontrado a felicidade plena. 
Redação do Momento Espírita, com base na mensagem Do céu para a Terra, de Richard Simonetti.
Em 13.5.2013.

sexta-feira, 22 de março de 2024

O LIVRO LUZ

WALDO VIEIRA E CHICO XAVIER
A história não é muito diferente de tantas outras que trazem como pano de fundo o sofrimento... 
Não importa o país, ou a língua que se fale, os sentimentos têm uma linguagem única. 
Era inverno e a noite caía rápida e fria... 
Aquele homem desesperado caminhava triste e só... 
No peito, a dor da separação, promovida pela morte da esposa querida, dilacerava-lhe as fibras mais sutis dos sentimentos... 
A prova amarga do adeus vencera-o. 
E ele, que sonhava com a felicidade de um matrimônio feliz e com um futuro adornado pela presença dos filhos, não passava agora de trapo humano e solitário. 
As noites de insônia e os dias de angústia minaram-lhe as forças.
Faltava ao trabalho e o chefe, reto e ríspido, o ameaçava despedir. 
A vida para ele não tinha mais sentido.
-Para que teimar em ficar vivo? - Pensava. 
Sem confiança em Deus, resolvera seguir o caminho de tantos outros, ante a fatalidade... 
Iria se suicidar. 
Paris, a cidade luz, estava envolta no manto escuro da noite, e um vento gelado açoitava sem piedade. 
Seguiu, a passos lentos, pelas ruas desertas e se deteve um momento a contemplar o rio Sena... 
Talvez a correnteza o levasse dali e silenciasse, em suas águas escuras e profundas, o seu pensamento aturdido... 
-Sim, essa seria a solução. - Pensou. 
Dirigiu-se como um autômato até a ponte Marie, quase apagada pela forte cerração e, ao apoiar a mão direita na murada para se atirar, sentiu que um objeto molhado caiu aos seus pés.
Surpreendido, distinguiu um livro que o orvalho umedecera... 
Tomou o volume nas mãos e caminhou, um tanto irritado, procurando a luz quase apagada de um poste vizinho, e pôde ler no frontispício: 
Esta obra salvou-me a vida. 
Leia-a com atenção e tenha bom proveito. 
Vinha assinado por um homem. 
Mesmo um pouco indeciso, resolveu ler aquela obra que, por certo, havia salvo a vida de alguém que pretendera, como ele, pôr termo à própria vida. 
Já nas primeiras páginas encontrou motivos para viver e lutar, suportar com resignação e coragem os reveses da vida e refazer a esperança. 
Leu o volume com dedicada atenção e resolveu presenteá-lo a quem lhe havia propiciado aquele tesouro. 
* * * 
Era abril de 1860 e, numa manhã fria, como tantas outras na cidade de Paris, o professor Rivail recebeu em sua residência uma certa encomenda cuidadosamente embrulhada. 
Abriu e encontrou uma carta singela com os seguintes dizeres: 
"Com a minha gratidão, remeto-lhe o livro anexo, bem como a sua história, rogando-lhe, antes de tudo, prosseguir em suas tarefas de esclarecimento da Humanidade, pois tenho fortes razões para isso."
Em seguida, o autor da carta narrava a história acima. Allan Kardec, pseudônimo do ilustre professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail, abriu a obra e leu em seu frontispício: 
-Esta obra salvou-me a vida. Leia-a com atenção e tenha bom proveito. 
E, logo após a primeira assinatura de A. Laurent, dizia: 
"Salvou-me também. Deus abençoe as almas que cooperaram em sua publicação. Assinado: Joseph Perrier."
Kardec, aconchegando o livro ao peito, entendeu a sublime missão que lhe cabia como Codificador da Doutrina Espírita, mensageira de consolo e esperança para a Humanidade sofrida. 
Essa obra que conseguiu, com suas páginas de luz, deter aqueles dois homens às portas do suicídio, foi lançada em Paris, no dia 18 de abril de 1857, e intitula-se O livro dos Espíritos. 
Redação do Momento Espírita, com base no cap. 52, do livro O Espírito da Verdade, por Autores diversos, psicografia de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, ed. FEB. 
Em 1.7.2013.

quinta-feira, 21 de março de 2024

UM HOMEM, UM PAI E UM PROTETOR

SÃO JOSÉ
Ele foi um dos homens mais dedicados à missão da paternidade.
Alertado por vozes espirituais, durante o repouso das lides diárias, levantou-se, de imediato. 
Obedecendo à informação privilegiada de que o filho corria risco de morte, ajuntou o imprescindível, despertou a esposa, tomou o filho e partiu. 
Não aguardou que o dia raiasse ou sequer se deu ao luxo de preparar detalhes para a longa viagem ao exílio. 
Foi um pai de tal forma atencioso àquela vida nascente que não temeu viver entre estrangeiros, longe de sua própria gente e das suas origens.
Tudo para salvaguardar a vida preciosa do rebento. 
Consciente da missão que lhe estava designada, manteve-se atento às orientações do Alto. 
Homem nobre, Espírito de alta envergadura, jamais se permitiu desconectar dos Espíritos do bem. 
Então, quando, mais tarde, as vozes retornaram, no sono da noite, ele se preparou para voltar à Judeia. 
No entanto, novas orientações lhe disseram que optasse por outra localidade. 
Isso porque ordens severas de eliminação do primogênito ainda estavam vigentes, determinadas pelo sucessor da tetrarquia da Judeia, da Pereia e da Idumeia. 
Introduziu o filho nos ensinos da Torá, embora acreditasse que Ele de tudo aquilo tinha prévio conhecimento. 
Falou-lhe do Deus de Israel, olhando-O nos olhos e completando:
-Você sabe tudo isso, não é, filho querido? 
Comparecendo à festa em Jerusalém, levou o filho adolescente.
Surpreendido com Sua ausência no regresso, após o primeiro dia de caminhada, retornou para procurá-lO. 
Como terá ficado oprimido aquele coração paterno, guardião de uma vida tão preciosa! 
Ao encontrá-lO, no templo, tomou-se de apreensões. 
Tão cedo estaria o filho amado assumindo a missão para a qual viera ao mundo? 
Seria já o tempo determinado pelo Pai Celeste? 
Consciente do que falava Aquele Menino tão sábio, que deixou boquiabertos os sacerdotes do Templo, entendeu a resposta dEle ao afirmar que estava tratando dos negócios de Seu Pai. 
Ele sabia não ser ele o pai de quem Ele falava. 
Ele era o pai terreno, o protetor, aquele a quem o Pai Maior confiara aquela vida, tão perseguida, desde o Seu nascimento.
Quantas vezes, nos anos seguintes, terá se sobressaltado, ante qualquer tumulto arbitrário do poder temporal vigente? 
Quantas vezes terá repousado a cabeça para o sono e indagado: 
-Até quando, Pai Celeste, terei as forças devidas e o bom senso preciso para proteger Essa Vida? 
* * * 
Todo pai é protetor e guardião de seus filhos. 
Mas este tinha alguém extremamente grande sob sua responsabilidade.
Seu primogênito era o Rei Solar.
Anunciado pelos profetas, aguardado pela ansiedade de um povo.
Chegara anunciado pelos mensageiros celestes, entre cânticos e uma estrela de extraordinário brilho.
Com a vida constantemente ameaçada por quem lhe descobrisse a realeza divina, viveu José entre a carpintaria, os deveres familiares e religiosos. 
Foi tão grande em sua humildade que nem deixou registros precisos de sua heroica passagem pela Terra. 
Um homem, um pai, um protetor. 
Gratidão, José, pelo excelente desempenho de sua missão. 
Redação do Momento Espírita 
Em 21.3.2024.

quarta-feira, 20 de março de 2024

QUEM PODE VIVER SEM AMIGOS?

Quem pode viver sem amigos, nesta Terra de tantas tribulações, reveses e surpresas? 
Quem pode transitar pelas vielas do mundo, sem o apoio de um amigo, de um ombro que o ampare? 
Quem pode andar pela Terra sem a certeza de que, ante a necessidade, terá quem o socorra? 
Quem de nós pode afirmar ser suficientemente forte, que não precise de suporte, em algum trecho da jornada? 
Quem de nós já não teve noites de insônia e de desassossego, em que a voz do amigo, do outro lado da linha, assegure, com calma: Estou aqui. De que precisa? 
Amigo é aquele que prepara um pão em sua casa e lembra de nós, separando algumas fatias e nô-las oferecendo, enquanto adverte: 
-Trouxe enquanto ainda está quente porque é delicioso com manteiga e café. 
Amigo é aquele que nos sabe amante das flores e nos brinda com vasos de violetas plantadas por suas hábeis mãos. 
Amigo é aquele que nos envia mensagens de estímulo, atento ao que fazemos, nas lides que nos absorvem os dias. 
Amigo é quem responde aos nossos equívocos com palavras de incentivo à reformulação do próprio caminho. 
É quem nos abraça, sorrindo, ao nos encontrar em qualquer viela do mundo. 
É quem compartilha conosco as alegrias de uma viagem, descrevendo com detalhes, de maneira que refaçamos o trajeto todo com ele, mentalmente. 
Amigo é aquele que sabe consolar nosso coração sem palavras, num terno abraço de solidariedade. 
É o que nos incentiva a retomar a caminhada, a tentar novos rumos, a seguir em frente. 
Amigo é o que nos traz o doce que apreciamos para que o possamos saborear, com prazer. 
E até acrescenta um guardanapo branco, com o seu monograma, para que o lembremos enquanto nos deliciamos com a iguaria. 
Amigo é aquele que, embora longe, vive perto. 
É aquele com quem podemos sempre contar. 
Talvez ligar pela madrugada, num dia de uma perda afetiva. 
Ou quando o rio das lágrimas está transbordando, inundando nossa alma.
Amigo é para dias de festa, de alegria, de confraternização. 
Muito mais para dias de dores, de ausências, de fraquezas e quase tombamentos pelas estradas das nossas tribulações. 
Ninguém pode viver sem amigos. 
Nem o Mestre Divino deles prescindiu. 
Teve amigos entre os pescadores, os homens do povo, figuras ilustres do tribunal judaico. 
Amigos que O defenderam no julgamento arbitrário no Sinédrio, amigos que se preocuparam com a rápida recuperação de Seu corpo, para o sepultamento devido. 
Teve amigos nas terras da Galileia, da Judeia, da Pereia. 
Um estrangeiro, das terras africanas de Cirene, foi o amigo que lhe tomou a trave da cruz para carregá-la no último trecho da Via Crucis. 
Alguns se tornaram Seus amigos depois de Sua morte, reconhecendo-lhe a grandeza. 
Amigos que desceram às arenas dos circos romanos para defender as verdades que Ele viera anunciar, doando a própria vida.
Amigos que renunciaram ao descanso, à vida mais amena a fim de se tornarem arautos da lei de amor que Ele viera exemplificar. 
Amigos que deixaram cargos para O servirem e que se deixaram imolar em defesa da Sua verdade. 
Amigos... 
Ninguém pode viver sem eles. 
Redação do Momento Espírita 
Em 20.3.2024.

terça-feira, 19 de março de 2024

O HOMEM QUE DIVIDIU A HISTÓRIA

Ele foi em tudo diferente do comum dos homens. 
Assinalou Sua chegada de uma maneira que ninguém mais o fez, em todos os séculos. 
Hoje, os nascimentos são anunciados pelas redes sociais, pelos pais, pelos familiares, pelos amigos que compartilham da mesma alegria.
Aquela família estava bem longe dos familiares. 
Cerca de duzentos e dez quilômetros.
O casal havia chegado à cidade obedecendo ao recenseamento decretado pelo Imperador César Augusto. 
A mulher estava nos dias finais da gestação e, por não haverem feito reserva prévia em nenhuma das estalagens, o casal precisou se servir da compaixão de um estalajadeiro que lhes ofereceu um abrigo do qual se utilizava para guardar seus animais. 
Ali Ele nasceu. 
Seus pais amorosos O envolveram em panos, providenciaram-lhe um berço acolhedor, feito de palha, na manjedoura.
Por Sua vez, o Pai Celestial providenciou que funcionassem as redes sociais universais. 
Por isso, estabeleceu que uma plêiade de Espíritos superiores se unisse e formasse uma estrela de intenso brilho para anunciar, a quem tivesse olhos de ver, que o Rei havia chegado à Terra. 
O Governador planetário, cumprindo a promessa que fizera, há milênios, aos Espíritos exilados de um dos planetas do Sistema de Capela, encarnara entre os homens. 
O Pastor chegara para as Suas ovelhas. 
Por isso, o primeiro anúncio foi feito a eles, no campo. 
Um mensageiro lhes veio dizer que trazia uma notícia de grande alegria para todo o povo: 
-Nascera na cidade de Davi o Salvador, o Cristo, o Senhor! 
As primeiras visitas para Aquele Menino foram, portanto, pastores que estavam no campo. 
Lição de solidariedade:
Ele nascera longe da cidade de Seus pais, 
Nazaré, na Galileia. 
Sem familiares próximos, recebeu a solidariedade de estranhos desconhecidos. 
Mas, o Pai Celestial enviou, ainda, um coro angelical para que os corações que tivessem ouvidos de ouvir pudessem acolher Sua mensagem: 
Glória a Deus no mais alto dos céus, paz na Terra para os homens de boa vontade. 
Então, sábios de longínquas terras chegaram à procura do Rei que nascera. 
Encontraram o Menino e Sua mãe, em uma casa, e O adoraram. 
O saber do mundo, aqueles que eram considerados os sábios da época, que detinham o conhecimento para a cura dos males da alma e do corpo, vieram depor aos pés dEle as suas dádivas: ouro, incenso e mirra. 
A sabedoria do mundo reconhecia a sabedoria maior. 
O Mestre estava no mundo. 
E, presenteando-O com ouro, expressam a reverência a um Rei. 
Na dádiva do incenso, reconhecem Sua grandeza espiritual, desde que essa substância era de uso nos cultos religiosos. 
E, com a mirra, afirmam a Sua humanidade, Sua morte sacrificial. 
Utilizada como medicamento, como narcótico para amenizar dores, também para embalsamar os corpos, ela estará presente no sacrifício da cruz. 
Nenhuma personalidade, por mais tenha sido grande ou sábia, teve registros de fatos tão peculiares, desde os primeiros instantes na Terra.
Ninguém, pela grandeza incomum, conseguiu dividir a História entre antes e depois de si mesmo. Somente Ele, o Mestre: Jesus de Nazaré. 
Redação do Momento Espírita 
Em 19.3.2024

segunda-feira, 18 de março de 2024

O LIVRO DO UNIVERSO

Cezar Braga Said
Quando nossos pequenos começam a aprender o significado dos sinais que compõem cada letra; quando aprendem a juntá-las formando as sílabas, que se transformam em frases, é momento de lhes apresentar o tesouro da literatura. 
A literatura, que tem início nos livros infantis, ricamente ilustrados, que verdadeiramente falam pelos detalhes das figuras quanto pelo conteúdo escrito. 
É uma fase encantadora ouvir os pequenos unindo as palavras, recitando os versos, tropeçando aqui ou ali, mas lendo. 
Quem pode descrever a maravilha da literatura que nos possibilita viajar pelo mundo inteiro, pelo reino da fantasia? 
A literatura, que nos permite entrar em uma nave espacial e, com a velocidade do pensamento, atravessar o Universo, estacionar em uma estrela, sentar ao lado dos personagens. 
Voa a imaginação porque à medida em que as frases vão sendo vencidas, os parágrafos devorados, nossa alma viaja, encantando-se com as aventuras, as descobertas que vão sendo reveladas. 
No entanto, existe um livro que, possivelmente, nem todos tenhamos aprendido a ler. Trata-se do Livro do Universo. 
Esse espaço imenso que começa no jardim de nossa casa, onde nossos filhos podem ler o passo da formiguinha, no seu trabalho incessante, em fila indiana, carregando alimento para seu abrigo. 
Uma folha, uma semente, nada menos do que até vinte vezes o seu próprio peso. 
Podem ler o jardim multicor, com seus perfumes variados, distinguir a rosa da margarida, do cravo, da orquídea, do jasmim, do lírio. 
Que diversidade surpreendente! 
Já imaginamos ouvir a grama crescer, a flor desabrochar? 
É preciso aprender a ouvir os sons delicados da natureza que, como poetisa inigualável, compõe poemas de beleza, a cada dia. 
Ler com nosso filho o bailado das ondas do mar, enquanto sussurram segredos e cantam canções que desejamos decifrar.
Ler o céu azul no dia iluminado pelo sol e na luz prateada da lua, enquanto o manto estrelado da noite se estende pela Terra. 
Contemplar os astros até onde alcancem nossos olhos, encantando-nos com o brilho de Vênus, da Via Láctea. 
Aprender o nome das estrelas e a cada noite, abrir a janela para dizer Boa noite, estrelinha. 
Posso ver seu brilho outra vez.
Ler o linguajar do vento que despenteia as árvores, que sopra as flores miúdas e, por vezes, bate com força no telhado, dizendo: 
-Olá, estou aqui. Está me ouvindo? Sabe de onde venho? Sabe que andei por altas montanhas, por escuras florestas e por diversos países? 
A leitura da natureza. 
Que livro extraordinário, de tantos capítulos, de inumeráveis e infindáveis páginas. 
Associemo-nos aos nossos pequenos e, juntos, ampliemos nosso conceito de leitura. 
Porque, conforme nos ensinou o Mestre dos mestres:
É preciso ter olhos de ver e ouvidos de ouvir. 
Em verdade, ler é para todos os nossos sentidos, não somente para o nosso intelecto e nossos olhos. 
É também para o nosso tato, nosso olfato e nosso paladar. 
Depois, aprenderemos a ler e ouvir com a alma, com o coração. Iniciemos logo. 
O Livro do Universo nos aguarda. 
Redação do Momento Espírita, inspirado em entrevista de Cezar Braga Said, concedida à Federação Espírita do Paraná, em 1º de outubro de 2020, disponível no youtube.com/canalfep. 
Em 2.12.2020.

domingo, 17 de março de 2024

O LIVRO DOS ESPÍRITOS

Foi há 150 anos. 
Era um sábado. 
A manhã não despertara de todo e, desfrutando o ar levemente frio da manhã, um homem se dirigiu à Galeria d'Orléans, no Palais Royal, em plena Capital francesa. 
Ele era conhecido como pedagogo de renome em seu país e reconhecido internacionalmente. 
Era o Professor Rivail. 
Dirigiu-se à Livraria Dentu, subiu as escadas e chegou à sobreloja.
Naquela manhã, seu objetivo não era verificar nenhum dos seus livros didáticos, pois que diversos publicara. 
O que se encontrava nas mãos da Sra. Dentu era algo muito especial.
Uma obra que abalaria os alicerces da ciência, da filosofia e da religião então vigentes. 
Ali estavam reunidas 501 questões que tinham a ver com a origem, a natureza, e o destino dos Espíritos.
A obra foi colocada na vitrine, sobre veludo vermelho. Era O Livro dos Espíritos. 
Numa didática sequência, apresentava os princípios da Doutrina Espírita sobre a imortalidade da alma, a natureza dos Espíritos e suas relações com os homens, as leis morais, a vida presente, a vida futura e o porvir da Humanidade. 
Pedra angular sobre a qual se ergue a Doutrina Espírita, é um tratado para orientar a economia, a sociologia, a psicologia, a embriologia, a ética.
Obra ímpar, desafia o segundo século de publicação sem sofrer qualquer alteração, no seu conteúdo, num período em que todo o conhecimento sofreu contestação e alterou a face cultural da Terra. 
Alcançou, desde os primeiros momentos, grande êxito na França e no restante da Europa, com repercussão pelas Américas. 
O Abade Leçanu, na época, referindo-se à monumental obra, disse:
-Observando-se as máximas de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, faz-se o bastante para se tornar santo na Terra. 
O Livro dos Espíritos é a compilação dos ensinos ditados pelos Espíritos superiores e publicado por ordem deles. 
Ao Codificador, Allan Kardec, coube a tarefa de organizar e ordenar as perguntas sobre os assuntos mais simples aos mais complexos, abrangendo variados ramos do conhecimento humano. 
Dividido em 4 partes, engloba um corpo de doutrina claro, metódico e inteligível para todos. 
Com sua publicação, concretiza-se na face da Terra a promessa de Jesus do Consolador Prometido: a Terceira Revelação. 
O Espiritismo nasce na manhã daquele sábado, 18 de abril de 1857. 
Sem O Livro dos Espíritos, com seus parâmetros esclarecedores, não existe Doutrina Espírita. 
A todos os deserdados da Terra, a todos quantos avançam ou caem, regando com as lágrimas o pó da estrada, diremos: lede O Livro dos Espíritos, ele vos tornará mais fortes. 
Também aos felizes, aos que em seu caminho só encontram as aclamações da multidão e os sorrisos da fortuna, diremos: estudai-o e ele vos tornará melhores. 
* * * 
A segunda edição de O Livro dos Espíritos, publicada em março de 1860, foi aumentada para 1019 perguntas. 
Essa 2ª edição se esgotou em 4 meses. 
Antes de ser publicada, a obra sofreu uma completa revisão dos próprios Espíritos, com o concurso mediúnico de uma jovem de nome Japhet.
O Oriente Médio já dispõe de O Livro dos Espíritos traduzido para o idioma árabe. 
Redação do Momento Espírita com base na 2ª. parte do livro Obras póstumas, de Allan Kardec, ed. Feb; O livro dos espíritos e sua tradição histórica e lendária, de Canuto Abreu, ed. LFU; O primeiro livro dos espíritos de Allan Kardec, de Canuto Abreu, ed. Ismael; cap. 3 do livro Reflexões espíritas, pelo Espírito Vianna de Carvalho, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal e cap. 6 do livro Momentos enriquecedores, do Espírito Joanna de Ângelis, psicografia de Divaldo Pereira Franco, ed. Leal. 
Em 25.08.2009.

sábado, 16 de março de 2024

AO MEU AMIGO

Se eu morrer antes de você, faça-me um favor: 
Chore o quanto quiser, mas não brigue comigo. 
Se não quiser chorar, não chore. 
Se não conseguir chorar, não se preocupe. 
Se tiver vontade de rir, ria. 
Se os amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente a sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero. 
Se me criticarem demais, me defenda. Se me quiserem fazer um santo só porque morri, mostre que eu tinha virtudes, mas estava longe de ser o santo que imaginam. 
Se lhe disserem que cometi muitos erros, mostre que eu talvez tenha errado muitas vezes, mas que passei a vida inteira tentando acertar. 
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase: 
“Foi meu amigo, acreditou em mim e sempre me quis por perto.” 
Se então derramar uma lágrima, eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. 
Outros amigos farão isso no meu lugar. 
Gostaria de dizer para você que viva como quem sabe que vai morrer um dia, e que morra como quem soube viver direito. 
Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. 
Mas, se eu morrer antes de você, creio que não vou estranhar o céu, pois ser seu amigo, já é um pedaço dele.
* * * 
Valorizemos sempre os amigos que conquistamos durante a jornada terrestre. 
São eles que perfumam e suavizam nossos dias e preenchem nossa vida com as mais belas lembranças. 
Alguns são como verdadeiros irmãos. 
Caminham ao nosso lado nos dando a certeza de que podemos buscá-los, a qualquer momento, porque sempre estarão prontos a nos amparar.
Ofereçamos também a nossa lealdade.
Sejamos aquele que se preocupa verdadeiramente com o outro, que doa seu tempo, que oferta compreensão e acolhimento. 
Por vezes guardamos a impressão de que os encontros com essas pessoas especiais são na verdade reencontros, que foram anteriormente combinados entre as almas para acontecer no momento certo, superando tempo e espaço. 
Essa sensação ocorre quando acabamos de conhecer alguém e logo detectamos uma grande afinidade. 
Também uma intensa alegria em estar próximo. 
Mas, é possível que nos decepcionemos com esses companheiros, em algum momento. 
É compreensível, pois somos todos falíveis. 
Nesses casos, procuremos não guardar rancor. 
Recordemos que foi um amigo que acusou Jesus e que outro O negou.
Alguns O abandonaram e atribuíram-lhe a responsabilidade pelas dores que passaram a experimentar. 
E, mesmo assim, Jesus não os censurou e nem os abandonou. 
Por amá-los em abundância, os buscou novamente e os conduziu de volta ao reino de Deus. 
Por fim, não fiquemos tristes quando chegar a hora de nos despedirmos dessas pessoas queridas. 
A despedida é necessária antes de podermos nos encontrar outra vez. 
E, nos encontrar de novo, depois de momentos ou de vidas, é certo para os que são amigos. 
Redação do Momento Espírita, com texto inicial, de autoria desconhecida.
Em 16.3.2024.

sexta-feira, 15 de março de 2024

O LIVRO DO DESTINO

MALBA TAHAN
O escritor Malba Tahan, hábil contador de lendas e contos orientais, narra em uma de suas valorosas obras a história do livro do destino.
Diz ele que, certa vez, quando um mercador voltava de Bagdad, onde fora vender peles e tapetes, encontrou um homem muito mal vestido que, gesticulando e praguejando sem cessar, chamou-lhe a atenção. 
-Eu já fui poderoso! Já tive o destino nas mãos. – Esbravejava ele. 
-É um pobre coitado! – Falavam uns. --Não regula bem do miolo!– Afirmavam outros. 
Sentindo irresistível atração pela história do desconhecido de turbante esfarrapado, aproximou-se dele e, depois de tranquila conversação, ele lhe confidenciou:
-Eu já tive nas mãos o destino da Humanidade inteira. Afinal, a vida de todos nós está escrita no grande livro do destino. Cada homem tem lá sua página com tudo o que de bom ou de mau vai lhe acontecer. Um dia, quando me encontrava vagando pelo deserto, encontrei uma gruta encantada, em cuja entrada havia um ser bondoso de sentinela. Deixou-me entrar, avisando-me, porém, que só poderia permanecer na gruta por poucos minutos. Dentro da gruta encontrei o tal livro do destino. Era minha intenção alterar o que estava escrito na página de minha vida e fazer de mim um homem rico e feliz. Bastava acrescentar: “Será um homem feliz, estimado por todos. Terá saúde e muito dinheiro”. Lembrei-me, antes, porém, de meus inimigos. Movido por torpes sentimentos de ódio e de vingança, procurei a página referente a um rival meu e, num ímpeto de rancor, sem hesitar, acrescentei: “Morrerá pobre, sofrendo os maiores tormentos.” Na página de outro inimigo escrevi: “Perderá todos os seus haveres. Perderá seus amores e morrerá de fome e de sede no deserto.” E, assim, sem piedade, fui prejudicando deliberadamente todos os meus desafetos. Nesse momento, o mercador, que ouvia a história, não resistiu e interrompeu a narrativa. 
-E na sua vida? O que você fez na página que o destino dedicara à sua própria existência? 
-Ah, meu amigo, respondeu ele, torcendo as mãos nervosamente, nada fiz em meu favor. Preocupado em fazer o mal aos outros, esqueci de fazer o bem a mim próprio. Semeei infortúnio e dor e, por justa consequência, não colhi a menor parcela de felicidade. Quando lembrei de mim, quando pensei em tornar feliz a minha vida, estava terminado meu tempo. Sem que eu esperasse, algo me arrastou para longe da gruta, onde jamais consegui retornar porque nunca mais reencontrei o caminho. Perdi a única oportunidade que tive de ser rico, estimado e feliz. 
* * * 
Embora se trate de uma aventura imaginária, repleta de alegorias, é certo que o triste caso encerra profundo ensinamento. 
Há muitos homens no mundo que, preocupados em levar o mal a seus semelhantes, se esquecem do bem que poderiam fazer a si próprios. 
* * *
Somos nós que fazemos nosso próprio destino, escrevendo diária e continuamente as páginas de nossas vidas. 
Somente a nós cabe a responsabilidade pela nossa alegria ou pela nossa desdita. 
Somos herdeiros de nós mesmos e colheremos justamente o que tivermos plantado. 
Pensemos nisso. 
Redação do Momento Espírita, com base no livro Contos e lendas orientais, de Malba Tahan, ed. Ediouro.
Em 01.09.2015.