sábado, 3 de dezembro de 2022

QUANDO AS MEMÓRIAS SE APAGAM

Aloysius Alzheimer
Antigamente, quando nossos idosos começavam a não se lembrar dos acontecimentos mais recentes, saíam pela rua e não conseguiam encontrar o caminho de volta; quando eles olhavam para um de nós e perguntavam: 
-Quem é você? Por que está em minha casa?
Quando eles, num diálogo, de repente pareciam esquecer totalmente a palavra que daria continuidade à frase e mergulhavam os olhos no vazio; quando principiavam a ter dificuldades para os cuidados pessoais, dizíamos que estavam caduquinhos. 
Durante algum tempo, de forma errônea, passamos a dizer que estavam esclerosados. 
Contudo, o Mal de Alzheimer foi descrito, pela primeira vez, em 1906, pelo psiquiatra e neuropatologista alemão Aloysius Alzheimer, durante uma autópsia. 
Essa doença afeta a memória e o funcionamento mental, podendo evoluir para confusão, mudanças de humor, desorientação no tempo e no espaço. 
Para o portador, com certeza, uma grande provação ver se apagarem as memórias de amores tão amados, de filhos queridos. 
Ver se diluírem, na névoa, fatos intensamente vivenciados, que lhe constituíram dias felizes.
Perder a capacidade de acionar o HD de uma vida rica de fatos e feitos... 
Para quem acompanha esse apagar das luzes, é igualmente dura prova que exige compreensão ao máximo, paciência e jogo de cintura. 
Como o daquela filha que, ao comparecer em casa da mãe para o almoço, recebeu a indagação: 
-Por que seu marido não veio com você? 
O genro desencarnara há mais de seis anos. 
Mas, a filha, heroicamente respondeu, com doçura: 
-Hoje é Dia das Mães. Ele foi almoçar com a mãe dele. 
Nenhuma inverdade, considerando que a sogra também já desencarnara. 
Portanto, deveriam estar juntos na Espiritualidade. 
Ou daquela neta que, ouvindo os familiares conversarem sobre a possibilidade de colocarem o avô numa clínica, desde que as dificuldades se faziam maiores, argumentou: 
-Vovô ainda tem alguns momentos de lucidez. Por que não perguntar a ele o que ele deseja? Será que gostaria de viver numa clínica seus derradeiros anos? 
Ou, ainda, o registro daquela esposa que, não sendo reconhecida pelo marido, o convida a tomar sorvete, no intuito de conseguir que ele volte para casa. 
-Sorvete? 
Os olhos dele se iluminam. 
Mas, desconfiado, ainda indaga: 
-Quem é você para me oferecer sorvete? 
E ela, no tom com que sempre comandou o lar, a voz firme: 
-Eu sou a Sofia. E vamos logo antes que derreta o sorvete. De baunilha, seu preferido. 
Depois, enquanto ele come e se lambuza, como uma criança que mergulha a boca no sabor gelado, ela lhe limpa os lábios, os cantos da boca. 
E balbucia: 
-Meu amor! 
Para esses, cujas memórias se vão perdendo no desenrolar das horas, e para esses que os precisam atender, cuidar, proteger, a nossa homenagem. 
Homenagem de quem ainda se conserva lúcido, ativo, dono de si, de seus atos, de suas decisões. 
E uma súplica ao Senhor da Vida: 
-Se o amanhã nos surpreender com a morte das nossas memórias, com o apagar das luzes das lembranças mais caras, ajuda-nos, Senhor. Sê conosco e com aqueles que zelarão por nós. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 2.12.2022.

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