Violência é o ato de constranger física ou moralmente.
É o uso da força.
Na atualidade, muitos somos os que afirmamos temer a violência. Por isso mesmo, erguemos altos muros ao redor de nossas residências, tentando evitar que ela nos atinja.
Contratamos seguranças para proteger nossas empresas e nossos lares. Instalamos equipamentos sofisticados que nos alertem da chegada de eventuais usurpadores dos nossos bens.
Tememos o roubo, o furto, o constrangimento físico, a agressão. Resguardamo-nos da violência que vem de fora e pode nos atingir.
No entanto, existe outro tipo de violência para a qual não atentamos.
É a que reside em nós.
É a violência da indiferença.
Aquela que nos permite observar diariamente, pelos noticiários, as paisagens da fome, da miséria e prosseguirmos de braços cruzados.
Sim, alguns de nós nos sensibilizamos, chegando às lágrimas, mas as manchetes seguintes nos desviam a atenção e tudo cai no esquecimento, quais notas apagadas e sem valor.
Violência que nos faculta assistir, extremamente interessados, as notícias acerca da agressão sofrida por personalidade importante, ansiosos por detalhes e mais detalhes.
Desejamos saber tudo e quanto maior for a violência para com a criatura, mais nos interessamos, pois afinal, depois, logo mais, iremos reprisar tudo para o colega, o vizinho, o amigo.
E não nos recordamos de nos recolher à intimidade do coração para orar pelo agredido, pelos seus.
À parte a fama, são gente como toda gente.
Sofrem como todos, desde que a dor tem caráter universal e imparcial.
Participamos ativamente ou assistimos impassíveis a programas em que o ser humano é exposto em toda sua nudez moral.
Onde a problemática física ou de ordem íntima é levada a público como contos para diversão e lazer. Contudo, os envolvidos são seres humanos que sentem, sofrem, se angustiam.
Violência de dentro, que alimentamos todos os dias, permitindo que ela se torne hidra voraz.
Violência é a atitude com que destinamos velhos e enfermos difíceis a instituições, sem jamais nos interessarmos pelo seu bem-estar.
Costumamos aliviar a consciência dizendo que não dispomos de tempo para os cuidados, pois trabalhamos em demasia. Pagamos para que os atendam, à distância, a fim de não lhes ouvir os queixumes e lamentações.
E poderiam estar conosco!
Se podemos dispor de recursos amoedados para os manter longe, por que não direcionar esses mesmos recursos a quem os possa cuidar, zelar, próximos de nós, sob nossos olhos vigilantes?
Violência é o ato de mudez que elegemos para agredir o outro, no relacionamento doméstico, estabelecendo silêncios gélidos às interrogações afetuosas.
É o filho que se fecha em si mesmo, não respondendo aos questionamentos do amor materno e paterno, como forma de agressão por não lhe concederem o que anseia.
São os esposos que, entre si, contratam a mudez como símbolo do desconforto de viverem um ao lado do outro, como acorrentados sem remissão.
Violência é a indiferença pelo bem-estar alheio, que nos faculta chegar ao lar, sermos servidos em tudo e sequer erguer os olhos para ver as rugas de preocupação, as lágrimas de dor no rosto macerado de quem nos serve.
É levantar-se, comer, usufruir dos bens, deitar-se, sem contribuir em nada para a paz do lar.
E bastaria sorrir, agradecer, quem sabe, abraçar quem padece a carência da nossa ternura.
A violência de fora pode nos ferir e magoar.
A violência de dentro, silenciosa, que aplicamos todos os dias, em nossos relacionamentos é igualmente perniciosa e destruidora.
Muitas enfermidades se aninham e evoluem gradualmente ou abruptamente, como resultado da própria violência íntima ou da de outrem, normalmente, afetos bem próximos.
Mudez, indiferença, frieza.
Violências que se reprisam, armas cruéis.
Principiemos por alijar de nós a violência, exercitando o diálogo, o perdão, os bons sentimentos.
E veremos, exatamente como no solo crestado pela invernia, rebentar em flores e verdura a primavera da paz, em nossos corações.
Redação do Momento Espírita.
Disponível no CD Momento Espírita, v. 12 e no
livro Momento Espírita, v. 6, ed. FEP.
Em 14.1.2014
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