As crianças tagarelavam animadamente enquanto a professora preparava a sala para começar a atividade do dia.
Em silêncio, ela arrumou as cadeiras em círculo. No meio, colocou uma caixa forrada com papel colorido.
Sua atitude despertou a curiosidade dos alunos que, sentando-se, pouco a pouco, pararam de conversar, interessados no que poderia haver ali.
Afinal, era um objeto diferente.
Embora originariamente tivesse sido uma simples caixa de sapatos, fora tornada especial e interessante pelo papel colorido que a forrava e pelos variados desenhos que cobriam todos os lados.
- Cada um de vocês, sem sair do lugar onde está, nem falar com os colegas, deverá relacionar os desenhos que veem estampados na caixa.
Orientou a professora.
Em silêncio, cada um anotou em uma folha o que estava vendo.
Em seguida, a professora pediu para uma das crianças:
-Leia, por favor, a lista do que você vê na caixa.
-Uma bola, um lápis e uma flor amarela.
Respondeu, prontamente, uma garotinha.
Olhando para a criança que estava exatamente na frente dessa, a professora perguntou:
-A sua lista coincide com a de sua colega?
-Não.
Respondeu, desconfiado, o menino a quem havia sido dirigida a palavra.
-Vejo desenhados na caixa um pião, um carrinho e uma laranja.
-Pois bem, – disse a professora, olhando para a classe – qual dos nossos colegas está com a razão?
Um grande burburinho se estabeleceu.
As crianças começaram a falar, simultaneamente, cada qual dizendo o que via, o que não coincidia com o que os demais falavam.
Passados apenas uns instantes, a professora reassumiu a palavra, pedindo silêncio e explicando:
-Imaginem que a caixa que vocês estão vendo é a verdade. Cada um consegue apenas visualizar um ângulo dela.
Não é possível saber o que o colega que está sentado à sua frente pode ver.
Tampouco qualquer de vocês sabe qual é o desenho que há na parte debaixo.
Disse, erguendo a caixa e mostrando que, na parte inferior, havia uma bela figura.
* * *
A verdade é única e incapaz de se amoldar aos interesses individuais.
Ela exige, porém, que cada um busque ângulos diferentes, conhecimentos mais amplos, para que possa estabelecer um juízo mais seguro a respeito de qualquer assunto.
Acreditar que apenas o nosso ponto de vista está correto pode provocar discórdias e equívocos.
Nossa percepção, por vezes, está limitada a apenas um dos vários aspectos da verdade.
Afinal, normalmente, cada qual vê apenas uma face da mesma caixa.
Ao invés de crermos que somos os donos da verdade, cabe-nos a humildade e a sabedoria de tentar entender os motivos que fazem os outros se posicionarem de forma tão diferente da nossa.
Quando Jesus nos disse que a verdade será motivo de nossa libertação, ele não se referia às verdades parciais que estabelecemos para nós mesmos.
Referia-se à verdade plena e incorruptível. Aquela que somente teremos condições de alcançar quando abandonarmos o orgulho que entorpece nossos sentidos e cega nossa razão.
Redação do Momento Espírita.
Em 14.7.2016.
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