domingo, 2 de agosto de 2020

AS FACES DA VERDADE

As crianças tagarelavam animadamente enquanto a professora preparava a sala para começar a atividade do dia. Em silêncio, ela arrumou as cadeiras em círculo. No meio, colocou uma caixa forrada com papel colorido. Sua atitude despertou a curiosidade dos alunos que, sentando-se, pouco a pouco, pararam de conversar, interessados no que poderia haver ali. Afinal, era um objeto diferente. Embora originariamente tivesse sido uma simples caixa de sapatos, fora tornada especial e interessante pelo papel colorido que a forrava e pelos variados desenhos que cobriam todos os lados. 
- Cada um de vocês, sem sair do lugar onde está, nem falar com os colegas, deverá relacionar os desenhos que veem estampados na caixa. 
Orientou a professora. 
Em silêncio, cada um anotou em uma folha o que estava vendo. Em seguida, a professora pediu para uma das crianças: 
-Leia, por favor, a lista do que você vê na caixa. 
-Uma bola, um lápis e uma flor amarela. 
Respondeu, prontamente, uma garotinha. Olhando para a criança que estava exatamente na frente dessa, a professora perguntou: 
-A sua lista coincide com a de sua colega? 
-Não.
Respondeu, desconfiado, o menino a quem havia sido dirigida a palavra. 
-Vejo desenhados na caixa um pião, um carrinho e uma laranja. 
-Pois bem, – disse a professora, olhando para a classe – qual dos nossos colegas está com a razão? 
Um grande burburinho se estabeleceu. As crianças começaram a falar, simultaneamente, cada qual dizendo o que via, o que não coincidia com o que os demais falavam. Passados apenas uns instantes, a professora reassumiu a palavra, pedindo silêncio e explicando: 
-Imaginem que a caixa que vocês estão vendo é a verdade. Cada um consegue apenas visualizar um ângulo dela. Não é possível saber o que o colega que está sentado à sua frente pode ver. Tampouco qualquer de vocês sabe qual é o desenho que há na parte debaixo. 
Disse, erguendo a caixa e mostrando que, na parte inferior, havia uma bela figura. 
* * * 
A verdade é única e incapaz de se amoldar aos interesses individuais. Ela exige, porém, que cada um busque ângulos diferentes, conhecimentos mais amplos, para que possa estabelecer um juízo mais seguro a respeito de qualquer assunto. Acreditar que apenas o nosso ponto de vista está correto pode provocar discórdias e equívocos. Nossa percepção, por vezes, está limitada a apenas um dos vários aspectos da verdade. Afinal, normalmente, cada qual vê apenas uma face da mesma caixa. Ao invés de crermos que somos os donos da verdade, cabe-nos a humildade e a sabedoria de tentar entender os motivos que fazem os outros se posicionarem de forma tão diferente da nossa. Quando Jesus nos disse que a verdade será motivo de nossa libertação, ele não se referia às verdades parciais que estabelecemos para nós mesmos. Referia-se à verdade plena e incorruptível. Aquela que somente teremos condições de alcançar quando abandonarmos o orgulho que entorpece nossos sentidos e cega nossa razão. 
Redação do Momento Espírita. 
Em 14.7.2016.

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