quarta-feira, 19 de agosto de 2020

FALANDO AO OCEANO...

Algumas folhas de papel, caídas sobre a areia de uma praia pouco visitada, traziam as seguintes linhas: 
-Quando abraço o oceano com o olhar, volto a questionar milhões de coisas, tantas quanto as ondas que ganham a areia. 
Volto a questionar: 
-Como alguém pode sentir-se só na presença do mar? Na presença desta brisa incessante? Na companhia deste perfume raro?! Como ainda posso me sentir só, sabendo que os braços do invisível me abraçam, que aqueles que partiram continuam existindo, e que todos nós, sem exceção, somos amados por alguém!? Como ainda posso me sentir só? Talvez seja porque eu me isole do mundo, e seja exigente demais com as pessoas. Pode ser isso. Talvez seja porque eu não permita que os outros conheçam minha vida, meus sonhos, minhas dificuldades. Acho que há um pouco de orgulho nisso. Quem sabe seja porque eu procure a solidão, e não ela que me persiga, como eu imaginava. É... Talvez eu precise conversar mais com as pessoas, me interessar mais por suas vidas, ouvir. Há tempos que não ouço alguém; um desconhecido relatando os acontecimentos corriqueiros do dia a dia; um colega de trabalho falando das peripécias de seus filhos. Meus irmãos: há tempos não converso com eles sobre assuntos profundos, como planos para o futuro, lembranças boas do passado. É curioso, pois lembro-me de que há algumas semanas ouvi uma mensagem de cinco minutos, num programa de rádio, que falava sobre isso, sobre como as pessoas se isolam umas das outras, e do quanto isto é prejudicial para a saúde mental e física, já que uma é consequência da outra. O locutor dizia que quem ama não se sente só, pois está sempre se doando, se envolvendo com os corações mais próximos, na intenção de ajudar. Dizia ainda que, quando nos sentimos úteis, e concluímos que muitos dependem de nossa dedicação, de nosso amor, também esquecemos da solidão. Acredito que ele tenha razão, pois lembro que naquele dia fui visitar uns tios que não via há muito tempo, e aquela visita fez-me tão bem! Falamos de assuntos comuns, como notícias de televisão, notícias da família, mas ao final saí de lá menos tenso, menos preocupado com a solidão. Abracei minha tia, e a ouvi dizer, por entre lágrimas discretas: 
-Gostamos muito de você, viu? Venha mais vezes! Não é sempre que recebemos visitas! 
-Ela está certa. Não é sempre que recebemos visitas, pois não é sempre que visitamos os outros, creio eu. Naquela tarde, vi que poderia ser útil em pequenas coisas, e que aquilo me afastava um pouco da solidão. Dentro do carro, voltando para casa, observando o movimento intenso nas ruas, lembro de fazer estas mesmas perguntas: como pode alguém sentir-se só na presença de tanta gente, de tanta vida!? Quantos desses corações esperam apenas por uma visita? E quantos deles estão dispostos a fazer uma? E aqui está você, amigo oceano, à minha frente, ouvindo todas estas minhas divagações. Acho que foi sua presença, rei das águas, que me ajudou a entender melhor o que se passa em meu íntimo. Agradeço profundamente por sua companhia, por conseguir me ouvir, e por me dizer, mesmo sem falar, que o que preciso fazer é visitar mais o coração de meu próximo. Muito obrigado. 
Redação do Momento Espírita, com base em narrativa de autor ignorado pela equipe. 
Em 25.7.2019.

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